Coisas legais acontecem o tempo todo em nosso mundo. Por que cultivar assuntos tristes, pessimistas e violentos, se há tanta coisa interessante ao nosso redor? Por que não ter acesso a informações legais, iniciativas bacanas, notícias que mostram ações construtivas?
Este espaço busca reverter o "efeito noticiário" (aquela depressão que dá ao final de um telejornal, após lermos as manchetes na internet, ou após lermos um jornal qualquer). Aqui podem ser encontrados assuntos diversos que versam sobre temas alegres, construtivos, leves, bons e divertidos.
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Você vai ver como o mundo é muito legal!
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Biodiversidade marinha é fonte de pesquisas para remédios até contra câncer
Uma imensidão azul praticamente inexplorada, habitada por seres que aprenderam a se defender das mais adversas situações. O mar ainda guarda muitos mistérios, mas espécies ricas em compostos químicos com potencial extraordinário para fabricação de fármacos de ação antitumoral, anti-inflamatória, antifúngica, antioxidante e até antiviral estão na mira da ciência. Nas duas últimas décadas, cientistas de várias partes do mundo se empenham em desvendar o segredo de plantas e pequenos animais marinhos que sobrevivem há milhões de anos em um ambiente de extrema competição. Alguns compostos já são usados como matéria prima em drogas de combate ao câncer.
Parte das pesquisas realizadas no Brasil dá noção do que está para ser descoberto e desenvolvido em um futuro próximo. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), estudos com a alga marinha Sargassum vulgare sinalizam que uma substância presente nessa espécie reduz os efeitos negativos da quimioterapia sobre o corpo humano. O grupo da UFC também isolou moléculas de um tipo de ascídia endêmica do litoral nordestino que apresentam ação anticâncer. Na Universidade de São Paulo (USP), o foco se volta para as macroalgas com alta capacidade de absorver radiação ultravioleta (UV).
A pesquisadora da Universidade Federal do Ceará Letícia Veras fala sobre o potencial anticâncer de algas e animais marinhos do Nordeste
As atividades anti-inflamatórias da Sargassum vulgare — importante componente da flora marinha dos trópicos e subtrópicos dos dois hemisférios — estimularam o estudo dessa espécie de alga parda na UFC. “Nas pesquisas, verificamos que, além da propriedade anti-inflamatória, o alginato — polissacarídeo presente na S. vulgare isolado na pesquisa — apresentava ótima capacidade antitumoral e era também imunoestimulante. A partir daí, redirecionamos o trabalho. O foco passou a ser uma possível terapia para o câncer”, conta Letícia Veras Costa-Lotufo, professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC.
Em camundongos, os testes surpreenderam. Nesses animais, houve redução dos tumores tratados por via oral em 80%. O mais impressionante é que os efeitos colaterais da leucopenia — depressão das defesas do organismo — foram minimizados durante a terapia. “Agora, estudamos o mecanismo de ação do alginato sobre o sistema imunológico. Temos um longo caminho pela frente, mas já vamos partir para análises de toxidade, um passo essencial para o desenvolvimento de qualquer medicamento”, completa.
Na UFC, também está em curso um estudo com o Eodistoma vannamei, uma ascídia endêmica do litoral nordestino. Trata-se de um animal marinho de aparência esponjosa, mas de complexidade muito maior que as esponjas oceânicas. As atividades anticâncer das ascídias são conhecidas no mundo científico, fato que despertou o interesse do grupo cearense para a avaliação dos tipos comuns no litoral do estado. Depois de um levantamento das espécies, foram escolhidas as mais abundantes para não impactar o bioma. A E. vannamei chamou atenção por apresentar compostos químicos ativos e muito potentes do grupo das estaurosporinas. Tais substâncias, mesmo em baixas concentrações, são capazes de exterminar as células tumorais.
“Testamos as estaurosporinas tanto em células cultivadas em laboratório quanto em camundongos. Os resultados também foram estimulantes”, adianta Letícia. O importante, ainda segundo a professora, é que essas estaurosporinas são produzidas por micro-organismos (bactérias) presentes na E. vannamei. “Então, para viabilizar o estudo, isolamos e estamos fazendo o cultivo desses pequenos seres para continuar a pesquisa sem comprometer o meio marinho com uma exploração inadequada. Estamos ávidos para contribuir com novas terapias contra o câncer. Mas não chegaremos a lugar algum sem sustentabilidade”, alerta.
Cuidados necessários
Biólogos, químicos e farmacêticos não escondem o entusiasmo, mas são unânimes em reconhecer o enorme desafio de aproveitar os recursos sem que a biodiversidade se afogue na exploração descuidada. Embora seja evidente a vastidão e a riqueza do litoral brasileiro, o estudo do bioma está atrasado em relação a pesquisas desenvolvidas em nações da Ásia, Oceania, Europa e América do Norte. “Por outro lado, ganhamos tempo para entender que é fundamental selecionar o que será pesquisado. De nada adianta nos debruçarmos em espécies que nem sequer existem em quantidade suficiente para as próprias pesquisas, quem dirá para suprir a demanda farmacêutica”, pondera o professor do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal Fluminense Renato Crespo Pereira.
Na USP, a ideia do trabalho é buscar substâncias inéditas com atividade biológica favorável aos mais diversos campos. As algas podem ser usadas para usos medicinal, alimentício, biotecnológico, cosmético e bioenergético. “Pesquisamos espécies encontradas ao longo de toda a costa brasileira. A partir de amostragens, fazemos uma varredura para identificar o potencial biológico, trabalhamos o cultivo em massa nos laboratório e posteriormente em fazendas marinhas. Não podemos colocar em risco a biota que pode nos fornecer respostas para muitos problemas”, explica Pio Colepicolo Neto, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP.
Por essa plataforma cuidadosa de exploração, o grupo paulista, que conta com a colaboração de centros de pesquisa de Santa Catarina e do Rio Grande do Norte, isolou moléculas de micosporinas (MAA). Essa substância apresenta espectro de absorção de UV muito próximo ao protetor solar mais eficiente disponível no mercado. “Testes de toxidade já foram realizados em ensaios. Estamos diante do desafio de aumentar a produção natural de forma sustentável e sintetizar a MAA. É importante concretizar essa etapa para testar a substância clinicamente”, adianta Pio.
Márcia Neri
Fonte: Correiobraziliense.com
Rock em ritmo de samba em SP
No próximo dia 21 de outubro o Grupo Sambô, conhecido em todo o Brasil por cantar clássicos do rock em ritmo de samba, lança o seu primeiro DVD em São Paulo. O evento acontece no Santa Aldeia (Vila Olímpia) e quem chegar até a meia noite ao comprar o ingresso ganha o DVD.
O Show do Grupo é a união de pandeiro e a bateria, com a percussão, o teclado e o rebolo, sem esquecer a guitarra, do cavaquinho e do banjo. Mas se engana quem acha que irá ouvir o típico batuque do samba. É uma surpresa quando o som começa e o ambiente é preenchido com músicas do rock.
Você percebe de imediato que ali está uma mistura interessante “Rock Samba”. A batida, a performance e a melodia são equilibrada e trazem inovação. A bateria mantém uma força que nos remete tanto ao rock quanto ao pop, enquanto os pandeiros se adéquam ao tom do samba.
Formado por Sudu Lisi, bateria, San, percussão, Ricardo Gama, teclado, Zé da Paz, pandeiro, Max Leandro, tan-tan e rebolo, Savinho, cavaquinho, Júlio César, guitarra e banjo, o grupo Sambô expressa bem a personalidade rock’n roll. Vale ainda ressaltar o acompanhamento de vozes – atributo que é característico dos sambistas.
Ao longo da apresentação é possível ouvir “Mercedez Benz” de Led Zepellin, “Sunday Blood Sunday” do U2, “Satisfaction” do Rolling Stone, entre outras. O Samba de raiz de Beth Carvalho, Fundo de Quintal, além de composições próprias como “José” e “Deixa” complementam o show.
O diferencial do Sambô está na junção dos gêneros musicais, mas também na interação com a platéia. O Grupo se apresenta numa roda de samba formada junto ao público, que dança e canta ao redor dos músicos.
O Grupo Sambô vem fazendo shows de lançamento do DVD em todo o Brasil. Até dezembro a banda irá se apresentar em Brasília, Londrina, Maringá, Recife, Porto Alegre, Goiânia, Cuiabá, Uberlândia, Florianópolis, Camboriú, Uberaba, São Carlos, entre outras cidades do país.
Serviço: GRUPO SAMBÔ (Festa Oficial de Lançamento do DVD)
Onde: Santa aldeia - Rua Funchal, 500 - Vila Olímpia/ São Paulo – SP/ (11) 3845.9235
Quando: 27/ 10 a partir das 22h
Quanto: R$: (H) R$ 25,00 entrada até a meia noite/ (M) R$ 20,00 entrada até a meia noite.
Na compra do ingresso ganha o DVD do Grupo.
Mais informações: www.sambo.com.br/
www.santaldeia.com.br
Na internet: http://tvuol.uol.com.br/permalink/?view/id=sambo-toca-o-classico-satisfaction-do-rolling-stones 04029C326AD0817366/user=92db81ral8qx/date=2010-05 19&&list/type=tags/tags=238114/edFilter=all/
http://tvuol.uol.com.br/#view/id=clipe-da-musica-jose-do-grupo-sambo-04029A3864CC817366/user=92db81ral8qx/date=2010-05-19&&list/type=tags/tags=238114/edFilter=all/
Livro mostra os 150 insetos mais surpreendentes
O entomologista Richard Jones reuniu no livro "Extreme Insects" 150 insetos com características especiais, entre eles o mais brilhante, o mais pontual, o mais cabeludo, o mais empanturrado e o mais afrodisíaco.
Os insetos representam três quartos de todas os animais identificados na Terra e, apesar do tamanho pequeno, tem uma enorme importância. Com exceção das calotas polares, todos os ecossistemas terrestres são colonizados por eles.
O livro publicado pela editora Harper Collins traz fotos impressionantes e informações curiosas sobre espécies como a mariposa Stauropus fagi, cuja lagarta parece uma lagosta e é considerada o inseto mais feio do mundo.
O besouro fantasma Asbolus verrucosus é descrito pelo entomologista como o objeto mais branco encontrado na natureza, muito mais branco que dentes ou leite. A cor do besouro serviria de camuflagem quando o inseto está sobre o fungo do qual se alimenta.
Outro besouro que ganhou espaço no livro foi o Lytta vesicatoria, conhecido por suas características afrodisíacas desde os tempos da Grécia e Roma antigas. Suas secreções contém a substância cataridina, que causa ereções prolongadas, mas também pode levar à morte. Uma dose fatal pode ser extraída de um único espécime.
Na publicação, o inseto classificado como o mais empanturrado do mundo é a formiga pote-de-mel. Ela acumula néctar no abdome, que incha de forma impressionante. A reserva de alimento é uma forma de lidar com as dificuldades de se viver no deserto.
O livro também dá destaque para o inseto com a mais incomum forma de expansão de território: o mosquito Aedes albopictus, que pode transmitir a dengue. Ele se espalhou do Sudeste Asiático para a América do Sul e África através do comércio de pneus usados. Os pneus acumulam água da chuva, onde os mosquitos se procriam.
O autor buscou identificar as estranhas maneiras em que a forma e a função dos insetos se adaptam para lidar com as pressões extremas da luta pela sobrevivência em um mundo perigoso e competitivo.
Veja galeria de fotos
Fonte: Folhaonline.com
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Exposição no Museu da República traz preciosidades do artista espanhol Joan Miró
Surrealismo libertário: obras de Miró que serão apresentadas ao público até 25 de novembroO Joan Miró que Brasília poderá conhecer a partir de hoje não está parado no surrealismo dos anos 1940 que o consagrou. Nem é de maneira convencional que será oferecido ao público brasiliense. A exposição do artista morto há 26 anos ocupa a partir de hoje o Museu Nacional do Conjunto Cultural da República ao lado de cinco jovens talentos da arte espanhola em um diálogo que refresca a obra de Miró e abre espaço para questões contemporâneas.
Los 24 escalones e Joan Miro tem desenhos, pinturas, gravuras e outras curiosidades do espanhol ao lado de obras de Diana Larear, Abigail Lazkioz, Juan López, Javier Arce e Raúl Belinchón. A ideia partiu da Fundación Joan Miró de Barcelona, que convidou o curador Jorge Diez para escolher artistas contemporâneos e ainda não consagrados com os quais a obra do surrealista pudesse dialogar.
A interação era vontade do próprio artista. Em Barcelona, a fundação mantém o Espai 13, uma sala de exposições à qual o público tem acesso depois de visitar a coleção de obras de Miró. Para chegar lá, é preciso descer 24 degraus. É um espaço experimental e Diez tomou a ideia, juntou a um livro de John Buchan e chegou ao nome da exposição. “Tem a ver com o caráter de estranheza de muitas pessoas a respeito da arte contemporânea, apesar de um número elevado dessas mesmas pessoas serem consumidoras da arte oferecida pelos meios de comunicação e pela indústria cultural”, explica Diez. “Por desejo explícito do próprio artista, a Fundação Miró está atenta para as novas propostas e tem dedicado espaço à arte emergente. Chega-se ao Espai 13 por uma escadaria descendente, que incrementa a sensação de estranheza dos visitantes não advertidos quando se defrontam com os projetos ali expostos.”
A rampa do mezanino do Museu Nacional parece estilhaçada, prestes a desmoronar graças à intervenção de Juan López. Com adesivos coloridos em amarelo, azul e vermelho — “as cores de Miró” —, o artista simulou um concreto quebrado para dar vazão à ânsia de modificar a arquitetura por meio do desenho. As intervenções de López agem no espaço como se quisessem transformá-lo. “O que me interessa é desenhar diretamente na parede. Não tenho ateliê e gosto dessa ideia de habitar um trabalho, porque quando faço uma intervenção praticamente vivo no espaço, passo tempo, me alimento. Gosto dessa ideia de um ateliê sempre mudando de lugar”, conta.
No centro da sala de exposições, as luzes ofuscantes da instalação de Diana Larear causam repulsa e atração. São dezenas de lâmpadas brancas dispostas em um labirinto geométrico pelo qual se pode passear. Na parede oposta, as grandes pinturas pretas funcionam como uma mescla de temas que preocupam Abigail Lazkoz há muito tempo. A guerra, principalmente.
Reflexão
Abigail trabalha com pincel direto na parede e idealizou os desenhos depois de ter acesso aos cadernos de notas de Miró durante as conversas e reuniões preparatórias com Jorge Diez. “Foi interessante ver o trabalho dele sem ordem temporal, todo junto. Miró trabalhava em séries fechadas e, ao ver os cadernos, pensei em mesclar as diferentes séries do meu trabalho”, conta. O fato de a guerra estar simbolicamente presente nas máquinas e objetos retratados vem de uma reflexão da artista sobre sua própria condição. Os pais de Abigail fazem parte da primeira geração nascida após a Guerra Civil Espanhola e a família é do País Basco, região de conflitos separatistas.
Mais adiante, nas vitrines, Javier Arce provoca ao sugerir objetos de arte em forma de mercadoria e Raúl Belinchón fala de tempo em fotografias de pedras. Nascidos na Espanha na década de 1970, os cinco artistas representam uma geração que chega agora à maturidade. Nem todos são diretamente influenciados por Miró — e Juan López garante que não é —, mas todos são herdeiros do diálogo entre a arte espanhola e o mundo iniciada e defendida por artistas como Picasso, Miró e Dalí em tempos de guerras e liberdades cerceadas. “Cada um dos artistas eleitos estabeleceu um marco próprio para o diálogo, em alguns casos mais explícito e em outros menos evidente, para acabar propondo intervenções específicas”, avisa Diez.
Preciosidades surrealistas
Além de pinturas, gravuras desenhos e uma escultura, o Museu Nacional recebe duas preciosidades pouco expostas nas mostras dedicadas a Joan Miró. No início da Segunda Guerra Mundial, o artista realizou uma série de 33 aquarelas intitulada Las constelaciones para retratar o pesadelo de um mundo em conflito. Em 1958, André Breton, fundador do surrealismo, compôs um conjunto de poemas em prosa para ilustrar a obra de Miró.
Para Los 24 escalones e Joan Miro, Jorge Diez selecionou 22 aquarelas da série. A mostra traz também um vídeo sobre o balé Jeux d’enfants, estreado pelos Balés Russos de Montecarlo, em 1932, e para o qual Miró realizou painéis, cenografia, vestuário e objetos de cena. “E haverá ainda os trabalhos audiovisuais Miró 37- Aidez l’Espagne e Miró l’altre. Para completar a aproximação de Miró há uma zona de consulta de publicações e vídeos que servirá de base para os ateliês pedagógicos organizados pelo Museu Nacional”, avisa o curador Jorge Diez.
Nahima Maciel
Correiobraziliense.com.br
Los 24 escalones e Joan Miro tem desenhos, pinturas, gravuras e outras curiosidades do espanhol ao lado de obras de Diana Larear, Abigail Lazkioz, Juan López, Javier Arce e Raúl Belinchón. A ideia partiu da Fundación Joan Miró de Barcelona, que convidou o curador Jorge Diez para escolher artistas contemporâneos e ainda não consagrados com os quais a obra do surrealista pudesse dialogar.
A interação era vontade do próprio artista. Em Barcelona, a fundação mantém o Espai 13, uma sala de exposições à qual o público tem acesso depois de visitar a coleção de obras de Miró. Para chegar lá, é preciso descer 24 degraus. É um espaço experimental e Diez tomou a ideia, juntou a um livro de John Buchan e chegou ao nome da exposição. “Tem a ver com o caráter de estranheza de muitas pessoas a respeito da arte contemporânea, apesar de um número elevado dessas mesmas pessoas serem consumidoras da arte oferecida pelos meios de comunicação e pela indústria cultural”, explica Diez. “Por desejo explícito do próprio artista, a Fundação Miró está atenta para as novas propostas e tem dedicado espaço à arte emergente. Chega-se ao Espai 13 por uma escadaria descendente, que incrementa a sensação de estranheza dos visitantes não advertidos quando se defrontam com os projetos ali expostos.”
A rampa do mezanino do Museu Nacional parece estilhaçada, prestes a desmoronar graças à intervenção de Juan López. Com adesivos coloridos em amarelo, azul e vermelho — “as cores de Miró” —, o artista simulou um concreto quebrado para dar vazão à ânsia de modificar a arquitetura por meio do desenho. As intervenções de López agem no espaço como se quisessem transformá-lo. “O que me interessa é desenhar diretamente na parede. Não tenho ateliê e gosto dessa ideia de habitar um trabalho, porque quando faço uma intervenção praticamente vivo no espaço, passo tempo, me alimento. Gosto dessa ideia de um ateliê sempre mudando de lugar”, conta.
No centro da sala de exposições, as luzes ofuscantes da instalação de Diana Larear causam repulsa e atração. São dezenas de lâmpadas brancas dispostas em um labirinto geométrico pelo qual se pode passear. Na parede oposta, as grandes pinturas pretas funcionam como uma mescla de temas que preocupam Abigail Lazkoz há muito tempo. A guerra, principalmente.
Reflexão
Abigail trabalha com pincel direto na parede e idealizou os desenhos depois de ter acesso aos cadernos de notas de Miró durante as conversas e reuniões preparatórias com Jorge Diez. “Foi interessante ver o trabalho dele sem ordem temporal, todo junto. Miró trabalhava em séries fechadas e, ao ver os cadernos, pensei em mesclar as diferentes séries do meu trabalho”, conta. O fato de a guerra estar simbolicamente presente nas máquinas e objetos retratados vem de uma reflexão da artista sobre sua própria condição. Os pais de Abigail fazem parte da primeira geração nascida após a Guerra Civil Espanhola e a família é do País Basco, região de conflitos separatistas.
Mais adiante, nas vitrines, Javier Arce provoca ao sugerir objetos de arte em forma de mercadoria e Raúl Belinchón fala de tempo em fotografias de pedras. Nascidos na Espanha na década de 1970, os cinco artistas representam uma geração que chega agora à maturidade. Nem todos são diretamente influenciados por Miró — e Juan López garante que não é —, mas todos são herdeiros do diálogo entre a arte espanhola e o mundo iniciada e defendida por artistas como Picasso, Miró e Dalí em tempos de guerras e liberdades cerceadas. “Cada um dos artistas eleitos estabeleceu um marco próprio para o diálogo, em alguns casos mais explícito e em outros menos evidente, para acabar propondo intervenções específicas”, avisa Diez.
Preciosidades surrealistas
Além de pinturas, gravuras desenhos e uma escultura, o Museu Nacional recebe duas preciosidades pouco expostas nas mostras dedicadas a Joan Miró. No início da Segunda Guerra Mundial, o artista realizou uma série de 33 aquarelas intitulada Las constelaciones para retratar o pesadelo de um mundo em conflito. Em 1958, André Breton, fundador do surrealismo, compôs um conjunto de poemas em prosa para ilustrar a obra de Miró.
Para Los 24 escalones e Joan Miro, Jorge Diez selecionou 22 aquarelas da série. A mostra traz também um vídeo sobre o balé Jeux d’enfants, estreado pelos Balés Russos de Montecarlo, em 1932, e para o qual Miró realizou painéis, cenografia, vestuário e objetos de cena. “E haverá ainda os trabalhos audiovisuais Miró 37- Aidez l’Espagne e Miró l’altre. Para completar a aproximação de Miró há uma zona de consulta de publicações e vídeos que servirá de base para os ateliês pedagógicos organizados pelo Museu Nacional”, avisa o curador Jorge Diez.
Nahima Maciel
Correiobraziliense.com.br
Amamentação parcial não traz imunidade igual à integral, diz estudo
Bebês alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de idade ganham proteção extra contra infecções, dizem cientistas gregos.
O efeito observado independe de fatores como acesso à saúde e programas de vacinação, eles explicam.
Segundo os especialistas da Universidade de Creta, o segredo estaria na composição do leite materno.
As conclusões do estudo, que envolveu pouco mais de 900 bebês vacinados, foram publicadas na revista científica Archives of Diseases in Childhood.
A equipe ressalta, no entanto, que o benefício só ocorre quando o bebê é alimentado com leite da mãe apenas. Ou seja, acrescentar fórmulas ao leite materno não produz o mesmo efeito.
Especialistas em todo o mundo já recomendam que bebês sejam alimentados somente com leite materno pelo menos durante os seis primeiros meses de vida.
ESTUDO
Os pesquisadores gregos monitoraram a saúde de 926 bebês durante 12 meses, registrando quaisquer infecções ocorridas em seu primeiro ano de vida.
Entre as infecções registradas estavam doenças respiratórias, do ouvido e candidíase oral (sapinho).
Os recém-nascidos receberam todas as vacinas de rotina e tinham acesso a tratamentos de saúde de alto nível.
Quase dois terços das mães amamentaram seus filhos durante o primeiro mês, mas o número caiu para menos de um quinto (menos de 20%) seis meses depois.
Apenas 91 bebês foram alimentados exclusivamente com o leite da mãe durante os seis primeiros meses.
Os pesquisadores constataram que esse grupo apresentou menos infecções comuns durante seu primeiro ano de vida do que os bebês que foram parcialmente amamentados ou não amamentados.
E as infecções que os bebês contraíram foram menos severas, mesmo levando-se em conta outros fatores que podem influenciar os riscos de infecção, como número de irmãos e exposição à fumaça de cigarro.
O pesquisador Emmanouil Galanakis e sua equipe disseram que a composição do leite materno explica os resultados do estudo.
O leite materno contém anticorpos recebidos da mãe, assim como outros fatores imunológicos e nutricionais que ajudam o bebê a se defender de infecções.
"As mães deveriam ser avisadas pelos profissionais de saúde de que, em adição a outros benefícios, a amamentação exclusiva ajuda a prevenir infrecções em bebês e diminui a frequência e severidade das infecções", os especialistas dizem.
DA BBC BRASIL
Folha.com.br
O efeito observado independe de fatores como acesso à saúde e programas de vacinação, eles explicam.
Segundo os especialistas da Universidade de Creta, o segredo estaria na composição do leite materno.
As conclusões do estudo, que envolveu pouco mais de 900 bebês vacinados, foram publicadas na revista científica Archives of Diseases in Childhood.
A equipe ressalta, no entanto, que o benefício só ocorre quando o bebê é alimentado com leite da mãe apenas. Ou seja, acrescentar fórmulas ao leite materno não produz o mesmo efeito.
Especialistas em todo o mundo já recomendam que bebês sejam alimentados somente com leite materno pelo menos durante os seis primeiros meses de vida.
ESTUDO
Os pesquisadores gregos monitoraram a saúde de 926 bebês durante 12 meses, registrando quaisquer infecções ocorridas em seu primeiro ano de vida.
Entre as infecções registradas estavam doenças respiratórias, do ouvido e candidíase oral (sapinho).
Os recém-nascidos receberam todas as vacinas de rotina e tinham acesso a tratamentos de saúde de alto nível.
Quase dois terços das mães amamentaram seus filhos durante o primeiro mês, mas o número caiu para menos de um quinto (menos de 20%) seis meses depois.
Apenas 91 bebês foram alimentados exclusivamente com o leite da mãe durante os seis primeiros meses.
Os pesquisadores constataram que esse grupo apresentou menos infecções comuns durante seu primeiro ano de vida do que os bebês que foram parcialmente amamentados ou não amamentados.
E as infecções que os bebês contraíram foram menos severas, mesmo levando-se em conta outros fatores que podem influenciar os riscos de infecção, como número de irmãos e exposição à fumaça de cigarro.
O pesquisador Emmanouil Galanakis e sua equipe disseram que a composição do leite materno explica os resultados do estudo.
O leite materno contém anticorpos recebidos da mãe, assim como outros fatores imunológicos e nutricionais que ajudam o bebê a se defender de infecções.
"As mães deveriam ser avisadas pelos profissionais de saúde de que, em adição a outros benefícios, a amamentação exclusiva ajuda a prevenir infrecções em bebês e diminui a frequência e severidade das infecções", os especialistas dizem.
DA BBC BRASIL
Folha.com.br
Projeto leva crianças de escolas públicas para conhecer a obra de Chopin
Era teatro. Teatro infantil. Mas nunca foi tão real. Pela intensidade, pela reação de quem assistia. Real pela emoção genuína. Centenas de crianças ali pela primeira vez. Olhos vidrados, completamente abertos. Tudo novo. Comoventemente mágico, apesar de muito real. No palco, atores e a música que sai de um piano contarão a história de um certo Frédéric Chopin, que nasceu muito longe do lugar de onde aqueles meninos e aquelas meninas vieram.
E a peça vai começar. Um dos atores narra, para explicar o início do espetáculo: “E o menino Chopin conheceu o piano...”. Todas as poltronas do teatro estão lotadas. No palco, o menino se encanta pelo fascínio que seu coração experimenta quando os dedos magricelas tocam nas teclas do piano. Na plateia, silêncio. O ator, na verdade um cantor de ópera que representa, fala: “O menino Chopin aprendeu que o piano fala”. Risos entre os ilustres convidados. Eles pensaram: “Como pode um piano falar?”.
O ator continua: “O piano fala, pode nos dizer coisas alegres ou tristes”. Sabrina Rodrigues, 8 anos, extasiou-se com a descoberta de que um piano “pode falar” e, sem tirar os olhos do espetáculo, disse: “Eu acho linda a música”. Repórter chato. Hora mais inconveniente para se perguntar o que quer que seja. Vanessa Rocha, também 8, limita-se a dizer: “Parece mágica”.
A peça segue. O ator conta: “O menino Chopin, que não era mais tão menino assim, estudou música, fez grandes amigos, grandes músicas e teve também grandes perdas. Emília, sua irmã, morre. E o menino Chopin aprendeu que tudo na vida deve passar. Até a tristeza. É isso, a tristeza um dia também deve passar”.
No palco, atores representam e uma pianista toca as canções compostas pelo então rapaz Chopin. O cantor diz: “E o menino Chopin, que já não era tão menino assim, se fez gente grande e se mudou da Polônia, sua terra natal, para a capital dos pianos e da música. Foi morar em Paris, na França”. Um lugar tão longe que chega a ser improvável para aquelas crianças que assistiam ao espetáculo e saíam, pela primeira vez, do Itapoã.
Para sempre
Em Paris, Chopin tornou-se elegante, deu aula de piano, estudou e compôs como nunca. Inclusive suas famosas valsas. E se apaixonou. Keven William, 8 anos, ajeita os óculos, para enxergar melhor. “Nunca vim num teatro. Nunca tinha ouvido música clássica. Minha mãe nem vai acreditar...”. A professora Carla Azevedo, 40, emociona-se: “É a realização pra eles”.
Mas o espetáculo precisa ir em frente. Como a vida. Chopin adoece. Luta contra a tuberculose, o grande mal daquele século 19. Sucumbe em Paris, a terra que amava. O cantor diz: “E Chopin um dia partiu, mas deixou entre nós a música”. O piano silencia. Mas nunca morre. E já que não morre, música, mais música. Cinquenta minutos de peça.
A vida de Chopin passa como mágica, num palco cheio de luz e de cor, com música, a melhor, teatro e dança contemporânea. Tudo junto. Tudo ao mesmo tempo. Aquelas crianças do Itapoã, a 30km de Brasília, um lugar que transita entre a extrema pobreza, a violência e a falta de oportunidades, jamais se esquecerão da tarde lúdica de ontem.
Emoção
E foi nessa tarde que o Correio acompanhou, com exclusividade, a estreia do Projeto Chopin para Crianças, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O silêncio protagonizado pelos mais de 300 alunos da Escola Classe 1 do Itapoã só foi quebrado quando o repórter inconveniente, agachado, fazia perguntas, baixinho, sempre àquelas sentadas nas pontas.
Numa delas, na cena mais verdadeira de todo o espetáculo, uma menininha de 9 anos se acomodava como se estivesse em casa. A sandália repousava sobre o carpete do teatro. Os pés, descalços, se encontravam nas pernas dobradas. Teatro de verdade deveria ser assim, sem afetações, sem mentiras, sem falsas posturas. Os olhos dela pareciam que iam saltar, de tão concentrada no espetáculo. “Nossa, como é lindo... Lindo demais”, extasiava-se ela.
Bruno Saraiva, 9 anos, filho de uma doméstica e de um eletricista de elevador, definiu Chopin como poucos. E talvez a definição mais original: “Ele foi um grande tocador de piano”. E não se conteve: “Ele também fez todo mundo gostar do piano”. Pergunto ao menininho do Itapoã o que ele sente ao ouvir as músicas que saem daquele piano no palco. Ele responde, sem olhar para o interlocutor: “Sinto uma emoção muito grande. Uma coisa boa”.
Isso, sim, é emoção. E o teatro, com sua magia que vibra e faz rir e chorar, é capaz disso. Capaz de deixar emocionado o menino de um lugar onde falta quase tudo. Capaz de fazer com que ele esqueça, mesmo por 50 minutos, o mundo real, sem magia, sem música, sem Chopin, onde vive. Isso, sim, é teatro. E o melhor: não havia nenhum mocinho ou mocinha da novela das 9. Era Chopin, “o tocador de piano”, para as crianças da Escola Classe 1 do Itapoã. Era teatro. Mas nunca foi tão real.
A miudinha Ana Beatriz, 9 anos, era só emoção. “Achei tudo lindo. É divertido ver como os atores representam. A música? Lá em casa, nunca ouvi. No Itapoã não toca, não.” Tá bom, é hora de prestar atenção no espetáculo...
Preparação
A professora de percepção musical da Escola de Música de Brasília e produtora Naná Maris, 48 anos, conta que, a 10 dias da estreia de Chopin para Crianças, ela e sua equipe estiveram nas 12 escolas públicas escolhidas para fazer parte do projeto. Levaram um kit Chopin — CD e livro, este doado pela Embaixada da Polônia, sobre a vida e a obra do compositor polaco, numa homenagem aos 200 anos do seu nascimento. “Trabalhamos com os professores, que, por sua vez, trabalharam com suas crianças em sala de aula. Fizeram trabalhos e ouviram músicas do artista”, ela diz.
Com apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e do CCBB, o projeto pôde, finalmente, contemplar crianças carentes. “O meu sonho era esse”, conta, emocionada. Por causa disso, neste fim de semana, as portas do CCBB se abrirão gratuitamente para o público. “Faremos nos dois dias dois espetáculos, às 16h e às 18h. Para todas as idades ”, convida Naná.
Fim do espetáculo. Cinquenta minutos de uma vida muito longe do Itapoã. Os atores são aplaudidos de pé. As crianças vibram. Estão emocionadas. Querem mais música. “Oxe, cadê o Chopin, que não vem aqui pra dizer ‘beleza’...” pergunta Marcos Antônio, 9 anos, filho de um pedreiro e uma doméstica.
E Chopin desce do palco. Édi Oliveira, 35 anos, o ator que interpreta o compositor, vai até a plateia. É abraçado pelas crianças. Otílio Bispo, 9, que pela primeira vez saiu do Itapoã, garante: “Eu queria vir pro teatro todo dia, escutar essas músicas, mas lá onde moro não tem nada”. A professora Cristina Rocha, 38, deixa o teatro do CCBB levitando: “A realidade deles (dos alunos) é tão dura, que isso acalma. Além de ser um diversão, um lazer, é uma terapia também”. A professora fala com conhecimento de causa.
Em filas, sem algazarra, como se estivessem anestesiadas, as crianças entram nos ônibus que as levarão de volta ao Itapoã. Chopin, aquele “tocador de piano”, ficará para trás. A peça chegou ao fim. Mas a música ficará no ouvido. A magia do teatro, na memória. O lugar onde vivem não tem magia, mas tem, a partir de hoje, aquelas crianças, que hoje já não serão mais como eram antes. Marcos Antônio falará para o pai, pedreiro, que ouviu Chopin. O pai certamente irá lhe perguntar quem era esse tal de Chopin.
Marcos Antônio lhe contará quem ele era. E falará da música que saía do seu piano, do teatro que comove e faz pensar. Era pra ser apenas teatro. Foi mais real do que se imaginava. Aqueles atores vestidos com roupas de época e a pianista Francisca Aquino nem imaginam a revolução que fizeram na cabecinha daquelas crianças do Itapoã.
O teatro serve, também, para mudar vidas. Quando isso acontece, sem a mocinha ou o galã da novela da moda, ele de verdade cumpriu sua missão. As crianças do Itapoã, hoje, sabem disso.
Marcelo Abreu
Correiobraziliense.com.br
E a peça vai começar. Um dos atores narra, para explicar o início do espetáculo: “E o menino Chopin conheceu o piano...”. Todas as poltronas do teatro estão lotadas. No palco, o menino se encanta pelo fascínio que seu coração experimenta quando os dedos magricelas tocam nas teclas do piano. Na plateia, silêncio. O ator, na verdade um cantor de ópera que representa, fala: “O menino Chopin aprendeu que o piano fala”. Risos entre os ilustres convidados. Eles pensaram: “Como pode um piano falar?”.
O ator continua: “O piano fala, pode nos dizer coisas alegres ou tristes”. Sabrina Rodrigues, 8 anos, extasiou-se com a descoberta de que um piano “pode falar” e, sem tirar os olhos do espetáculo, disse: “Eu acho linda a música”. Repórter chato. Hora mais inconveniente para se perguntar o que quer que seja. Vanessa Rocha, também 8, limita-se a dizer: “Parece mágica”.
A peça segue. O ator conta: “O menino Chopin, que não era mais tão menino assim, estudou música, fez grandes amigos, grandes músicas e teve também grandes perdas. Emília, sua irmã, morre. E o menino Chopin aprendeu que tudo na vida deve passar. Até a tristeza. É isso, a tristeza um dia também deve passar”.
No palco, atores representam e uma pianista toca as canções compostas pelo então rapaz Chopin. O cantor diz: “E o menino Chopin, que já não era tão menino assim, se fez gente grande e se mudou da Polônia, sua terra natal, para a capital dos pianos e da música. Foi morar em Paris, na França”. Um lugar tão longe que chega a ser improvável para aquelas crianças que assistiam ao espetáculo e saíam, pela primeira vez, do Itapoã.
Para sempre
Em Paris, Chopin tornou-se elegante, deu aula de piano, estudou e compôs como nunca. Inclusive suas famosas valsas. E se apaixonou. Keven William, 8 anos, ajeita os óculos, para enxergar melhor. “Nunca vim num teatro. Nunca tinha ouvido música clássica. Minha mãe nem vai acreditar...”. A professora Carla Azevedo, 40, emociona-se: “É a realização pra eles”.
Mas o espetáculo precisa ir em frente. Como a vida. Chopin adoece. Luta contra a tuberculose, o grande mal daquele século 19. Sucumbe em Paris, a terra que amava. O cantor diz: “E Chopin um dia partiu, mas deixou entre nós a música”. O piano silencia. Mas nunca morre. E já que não morre, música, mais música. Cinquenta minutos de peça.
A vida de Chopin passa como mágica, num palco cheio de luz e de cor, com música, a melhor, teatro e dança contemporânea. Tudo junto. Tudo ao mesmo tempo. Aquelas crianças do Itapoã, a 30km de Brasília, um lugar que transita entre a extrema pobreza, a violência e a falta de oportunidades, jamais se esquecerão da tarde lúdica de ontem.
Emoção
E foi nessa tarde que o Correio acompanhou, com exclusividade, a estreia do Projeto Chopin para Crianças, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O silêncio protagonizado pelos mais de 300 alunos da Escola Classe 1 do Itapoã só foi quebrado quando o repórter inconveniente, agachado, fazia perguntas, baixinho, sempre àquelas sentadas nas pontas.
Numa delas, na cena mais verdadeira de todo o espetáculo, uma menininha de 9 anos se acomodava como se estivesse em casa. A sandália repousava sobre o carpete do teatro. Os pés, descalços, se encontravam nas pernas dobradas. Teatro de verdade deveria ser assim, sem afetações, sem mentiras, sem falsas posturas. Os olhos dela pareciam que iam saltar, de tão concentrada no espetáculo. “Nossa, como é lindo... Lindo demais”, extasiava-se ela.
Bruno Saraiva, 9 anos, filho de uma doméstica e de um eletricista de elevador, definiu Chopin como poucos. E talvez a definição mais original: “Ele foi um grande tocador de piano”. E não se conteve: “Ele também fez todo mundo gostar do piano”. Pergunto ao menininho do Itapoã o que ele sente ao ouvir as músicas que saem daquele piano no palco. Ele responde, sem olhar para o interlocutor: “Sinto uma emoção muito grande. Uma coisa boa”.
Isso, sim, é emoção. E o teatro, com sua magia que vibra e faz rir e chorar, é capaz disso. Capaz de deixar emocionado o menino de um lugar onde falta quase tudo. Capaz de fazer com que ele esqueça, mesmo por 50 minutos, o mundo real, sem magia, sem música, sem Chopin, onde vive. Isso, sim, é teatro. E o melhor: não havia nenhum mocinho ou mocinha da novela das 9. Era Chopin, “o tocador de piano”, para as crianças da Escola Classe 1 do Itapoã. Era teatro. Mas nunca foi tão real.
A miudinha Ana Beatriz, 9 anos, era só emoção. “Achei tudo lindo. É divertido ver como os atores representam. A música? Lá em casa, nunca ouvi. No Itapoã não toca, não.” Tá bom, é hora de prestar atenção no espetáculo...
Preparação
A professora de percepção musical da Escola de Música de Brasília e produtora Naná Maris, 48 anos, conta que, a 10 dias da estreia de Chopin para Crianças, ela e sua equipe estiveram nas 12 escolas públicas escolhidas para fazer parte do projeto. Levaram um kit Chopin — CD e livro, este doado pela Embaixada da Polônia, sobre a vida e a obra do compositor polaco, numa homenagem aos 200 anos do seu nascimento. “Trabalhamos com os professores, que, por sua vez, trabalharam com suas crianças em sala de aula. Fizeram trabalhos e ouviram músicas do artista”, ela diz.
Com apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e do CCBB, o projeto pôde, finalmente, contemplar crianças carentes. “O meu sonho era esse”, conta, emocionada. Por causa disso, neste fim de semana, as portas do CCBB se abrirão gratuitamente para o público. “Faremos nos dois dias dois espetáculos, às 16h e às 18h. Para todas as idades ”, convida Naná.
Fim do espetáculo. Cinquenta minutos de uma vida muito longe do Itapoã. Os atores são aplaudidos de pé. As crianças vibram. Estão emocionadas. Querem mais música. “Oxe, cadê o Chopin, que não vem aqui pra dizer ‘beleza’...” pergunta Marcos Antônio, 9 anos, filho de um pedreiro e uma doméstica.
E Chopin desce do palco. Édi Oliveira, 35 anos, o ator que interpreta o compositor, vai até a plateia. É abraçado pelas crianças. Otílio Bispo, 9, que pela primeira vez saiu do Itapoã, garante: “Eu queria vir pro teatro todo dia, escutar essas músicas, mas lá onde moro não tem nada”. A professora Cristina Rocha, 38, deixa o teatro do CCBB levitando: “A realidade deles (dos alunos) é tão dura, que isso acalma. Além de ser um diversão, um lazer, é uma terapia também”. A professora fala com conhecimento de causa.
Em filas, sem algazarra, como se estivessem anestesiadas, as crianças entram nos ônibus que as levarão de volta ao Itapoã. Chopin, aquele “tocador de piano”, ficará para trás. A peça chegou ao fim. Mas a música ficará no ouvido. A magia do teatro, na memória. O lugar onde vivem não tem magia, mas tem, a partir de hoje, aquelas crianças, que hoje já não serão mais como eram antes. Marcos Antônio falará para o pai, pedreiro, que ouviu Chopin. O pai certamente irá lhe perguntar quem era esse tal de Chopin.
Marcos Antônio lhe contará quem ele era. E falará da música que saía do seu piano, do teatro que comove e faz pensar. Era pra ser apenas teatro. Foi mais real do que se imaginava. Aqueles atores vestidos com roupas de época e a pianista Francisca Aquino nem imaginam a revolução que fizeram na cabecinha daquelas crianças do Itapoã.
O teatro serve, também, para mudar vidas. Quando isso acontece, sem a mocinha ou o galã da novela da moda, ele de verdade cumpriu sua missão. As crianças do Itapoã, hoje, sabem disso.
Marcelo Abreu
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Ônibus ecológico começa a rodar em Curitiba (PR)
Um ônibus híbrido, bem menos poluente, começa a ser testado em Curitiba (PR). O "hibribus" usa um motor elétrico nas arrancadas e, ao ganhar velocidade, passa para o movido a diesel. As freadas também ganharam uma função extra, a de recarregar as baterias do veículo.
Novo ônibus ecológico fabricado pela Volvo arranca com motor elétrico e depois passa a usar motor a diesel
O modelo, com capacidade para acomodar até 80 passageiros, é de fabricação da marca Volvo e será testado durante três semanas na cidade.
Os contemplando com a novidade são os passageiros da linha Interbairros II, que atende os terminais Capão Raso, Campina do Siqueira, Cabral, Capão da Imbuia e Hauer. As viagens serão realizadas no horário aproximado das 5h até as 16h.
De acordo com a prefeitura, dependendo dos resultados preliminares, o "hidribus" pode ser fabricado na unidade da Volvo em Curitiba e integrado à frota regular durante a Copa do Mundo de 2014.
Folha.com.br
Novo ônibus ecológico fabricado pela Volvo arranca com motor elétrico e depois passa a usar motor a diesel
O modelo, com capacidade para acomodar até 80 passageiros, é de fabricação da marca Volvo e será testado durante três semanas na cidade.
Os contemplando com a novidade são os passageiros da linha Interbairros II, que atende os terminais Capão Raso, Campina do Siqueira, Cabral, Capão da Imbuia e Hauer. As viagens serão realizadas no horário aproximado das 5h até as 16h.
De acordo com a prefeitura, dependendo dos resultados preliminares, o "hidribus" pode ser fabricado na unidade da Volvo em Curitiba e integrado à frota regular durante a Copa do Mundo de 2014.
Folha.com.br
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Governo lança Campanha Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos
O Ministério da Saúde lançou dia 27/9, no Auditório Emílio Ribas, a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos. O slogan da edição deste ano, focado nos receptores de órgãos, é "Seja um Doador e só assim Serei Feliz, Bem Feliz.
Além da campanha, o ministério anunciará medidas para o setor que, juntamente com a mobilização social, deverão resultar no aumento de até 20% do número de transplantes realizados no país. Em 2009, foram feitos 20.253 transplantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Agencia Brasil
Correiobraziliense.com.br
Além da campanha, o ministério anunciará medidas para o setor que, juntamente com a mobilização social, deverão resultar no aumento de até 20% do número de transplantes realizados no país. Em 2009, foram feitos 20.253 transplantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Agencia Brasil
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Portadora de deficiência visual leva esperança a outros com mesmo problema
A visão começou a abandonar os olhos de Nayara Magalhães dos Santos muito cedo. Era difícil decifrar o que diziam os livros escolares. A menina ampliava os textos e as figuras, tentava ir além da própria capacidade — o que se tornou um hábito —, mas a cabeça só doía. E nada de o mundo parecer mais fácil de desvendar. Apesar de ter nascido com uma doença grave, a retinose pigmentar progressiva (veja Para saber mais), a menina de cabelos e olhos claros foi criada para ser otimista. Nunca acreditou que perderia totalmente a visão.
Não aprendeu o braille, sistema de leitura por meio de pontos, quando era criança. A família, superprotetora, preferia acreditar que não seria necessário. Mas foi. Aos 18 anos, Nayara teve uma perda brusca na habilidade de enxergar. “Os médicos acreditam que a minha visão piorou depois que minha mãe adoeceu e ficou muito tempo no hospital. Pode ter sido o nervoso, o baque emocional”, explicou a jovem. “Não me preparei para isso porque meus pais acharam que o melhor para mim seria esconder esse problema. Eles não queriam aceitar a verdade, que teriam uma filha com uma deficiência em um mundo não adaptado”, completou.
Hoje, Nayara tem entre 15% e 20% da capacidade de ver, durante o dia. Ao anoitecer, cai para 10%. Mas a falta do sentido não a impede de ir longe. À época da piora, Nayara se preparava para o vestibular. Sonhava em cursar serviço social na Universidade de Brasília (UnB). “Estudei a vida toda em escola pública e todo mundo sabe que assim fica mais difícil. Eu não tinha acesso a nada que facilitasse a minha situação como deficiente visual”, afirmou.
Mesmo diante do problema, Nayara matriculou-se em um cursinho preparatório para o vestibular. Gravava todas as aulas, enquanto uma amiga ajudava e lia os textos para ela. E assim Nayara estudou mais de 10 horas por dia, durante um ano. Passou na segunda tentativa. “Escolhi o serviço social porque é o curso que mais trata de políticas sociais. O profissional dessa área defende um grupo vulnerável, as minorias. O primeiro auxílio que as pessoas procuram é o de um médico. A maioria deles trata a deficiência visual apenas com uma doença e não leva em consideração o social. A assistente atua justamente nesse setor”, justificou.
Mudança
Nayara conheceu um mundo diferente. Estava habituada a uma vida de isolamento: “Sofri muito bullying na escola. Tinha que me sentar sempre muito perto do quadro, às vezes tropeçava nas coisas, batia a cabeça. Aprendi a me afastar dos outros para me defender”. Na universidade, a jovem encontrou amigos, alunos como ela ou professores. Conheceu o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE). Nele, a estudante tinha direito a três tutores. Eles eram alunos bolsistas que a ajudavam durante a aula e nas provas.
“Quando percebi que muitas pessoas acreditavam em mim, me vi capaz de qualquer coisa”, lembrou. Quase quatro anos depois de ingressar na UnB, Nayara deu início ao trabalho de conclusão de curso, a monografia. O tema não poderia ser outro: o acesso dos portadores de necessidades especiais ao nível superior. “Escolhi pesquisar porque há tão poucos deficientes nas universidades. É um problema que vem do ensino básico, passa pelo médio e leva a uma barreira no momento de ingressar na faculdade.” Nayara encontrou pouca bibliografia. Contou com a ajuda de computadores com leitores de tela.
Dificuldades
O trabalho trata das falhas na acessibilidade dentro da UnB. “Faltam calçadas adaptadas, tudo é muito longe. Sempre esquecem um orelhão no meio do caminho, um buraco no meio da rua. A cidade toda é assim e a universidade não é diferente”, apontou. Mas o foco da pesquisa de Nayara é mais polêmico que a questão da mobilidade. A monografia leva o título Sistema de cotas para deficientes, uma alternativa viável.
“Percebi que a quantidade de deficientes só diminuía na UnB. De acordo com pesquisas, 26 mil deficientes concluíram o segundo grau no último ano. A demanda pelo ensino superior existe. Só há 48 deficientes na UnB inteira. Desses, somente 15 têm algum problema como surdez ou na visão. Os outros sofrem de dislexia, etc.”, constatou. Nayara entrevistou os professores do PPNE e os alunos especiais. “Na minha hipótese, achei que não iam concordar com o sistema de cotas. Mas me surpreendi. Apenas um deles se colocou contra.”
Na conclusão, pela própria experiência de vida e pelo que viu na UnB, Nayara optou por defender a reserva de vagas no vestibular para portadores de necessidades especiais. “Seria uma política de equiparação de oportunidades. Algo paliativo e não permanente. Quando a universidade conseguisse atrair esse público, não seria mais necessário”, argumentou.
“Essa medida teria de ser articulada com uma política de mudança no sistema educacional inteiro, desde o ensino básico. Deveria também ser acompanhada de uma política de permanência dentro do ensino superior, como o oferecimento de bolsas de pesquisa especiais”, acrescentou. Ganhou nota máxima, o SS. Agora busca meios de divulgar suas ideias e contribuir efetivamente com a sociedade.
Nayara não deixa de surpreender. Este mês, assumiu o cargo de assistente social na Secretaria de Justiça. Foi a única que passou no concurso para essa atividade específica. Agora, acompanha jovens que cumprem medida de liberdade assistida. Vai, inclusive, visitar a casa deles e orientar as famílias para que os adolescentes não voltem a cometer crimes. “Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades”, ensinou. Quem olha para Nayara não reconhece a limitação de imediato. Vê apenas uma jovem de traços suaves, maquiada com delicadeza, usando luzes no cabelo e unhas pintadas de rosa-claro. Na tarde de ontem, ela se exibia, esbelta, em um vestido verde, da cor da esperança.
Leilane Menezes
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Não aprendeu o braille, sistema de leitura por meio de pontos, quando era criança. A família, superprotetora, preferia acreditar que não seria necessário. Mas foi. Aos 18 anos, Nayara teve uma perda brusca na habilidade de enxergar. “Os médicos acreditam que a minha visão piorou depois que minha mãe adoeceu e ficou muito tempo no hospital. Pode ter sido o nervoso, o baque emocional”, explicou a jovem. “Não me preparei para isso porque meus pais acharam que o melhor para mim seria esconder esse problema. Eles não queriam aceitar a verdade, que teriam uma filha com uma deficiência em um mundo não adaptado”, completou.
Hoje, Nayara tem entre 15% e 20% da capacidade de ver, durante o dia. Ao anoitecer, cai para 10%. Mas a falta do sentido não a impede de ir longe. À época da piora, Nayara se preparava para o vestibular. Sonhava em cursar serviço social na Universidade de Brasília (UnB). “Estudei a vida toda em escola pública e todo mundo sabe que assim fica mais difícil. Eu não tinha acesso a nada que facilitasse a minha situação como deficiente visual”, afirmou.
Mesmo diante do problema, Nayara matriculou-se em um cursinho preparatório para o vestibular. Gravava todas as aulas, enquanto uma amiga ajudava e lia os textos para ela. E assim Nayara estudou mais de 10 horas por dia, durante um ano. Passou na segunda tentativa. “Escolhi o serviço social porque é o curso que mais trata de políticas sociais. O profissional dessa área defende um grupo vulnerável, as minorias. O primeiro auxílio que as pessoas procuram é o de um médico. A maioria deles trata a deficiência visual apenas com uma doença e não leva em consideração o social. A assistente atua justamente nesse setor”, justificou.
Mudança
Nayara conheceu um mundo diferente. Estava habituada a uma vida de isolamento: “Sofri muito bullying na escola. Tinha que me sentar sempre muito perto do quadro, às vezes tropeçava nas coisas, batia a cabeça. Aprendi a me afastar dos outros para me defender”. Na universidade, a jovem encontrou amigos, alunos como ela ou professores. Conheceu o Programa de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE). Nele, a estudante tinha direito a três tutores. Eles eram alunos bolsistas que a ajudavam durante a aula e nas provas.
“Quando percebi que muitas pessoas acreditavam em mim, me vi capaz de qualquer coisa”, lembrou. Quase quatro anos depois de ingressar na UnB, Nayara deu início ao trabalho de conclusão de curso, a monografia. O tema não poderia ser outro: o acesso dos portadores de necessidades especiais ao nível superior. “Escolhi pesquisar porque há tão poucos deficientes nas universidades. É um problema que vem do ensino básico, passa pelo médio e leva a uma barreira no momento de ingressar na faculdade.” Nayara encontrou pouca bibliografia. Contou com a ajuda de computadores com leitores de tela.
Dificuldades
O trabalho trata das falhas na acessibilidade dentro da UnB. “Faltam calçadas adaptadas, tudo é muito longe. Sempre esquecem um orelhão no meio do caminho, um buraco no meio da rua. A cidade toda é assim e a universidade não é diferente”, apontou. Mas o foco da pesquisa de Nayara é mais polêmico que a questão da mobilidade. A monografia leva o título Sistema de cotas para deficientes, uma alternativa viável.
“Percebi que a quantidade de deficientes só diminuía na UnB. De acordo com pesquisas, 26 mil deficientes concluíram o segundo grau no último ano. A demanda pelo ensino superior existe. Só há 48 deficientes na UnB inteira. Desses, somente 15 têm algum problema como surdez ou na visão. Os outros sofrem de dislexia, etc.”, constatou. Nayara entrevistou os professores do PPNE e os alunos especiais. “Na minha hipótese, achei que não iam concordar com o sistema de cotas. Mas me surpreendi. Apenas um deles se colocou contra.”
Na conclusão, pela própria experiência de vida e pelo que viu na UnB, Nayara optou por defender a reserva de vagas no vestibular para portadores de necessidades especiais. “Seria uma política de equiparação de oportunidades. Algo paliativo e não permanente. Quando a universidade conseguisse atrair esse público, não seria mais necessário”, argumentou.
“Essa medida teria de ser articulada com uma política de mudança no sistema educacional inteiro, desde o ensino básico. Deveria também ser acompanhada de uma política de permanência dentro do ensino superior, como o oferecimento de bolsas de pesquisa especiais”, acrescentou. Ganhou nota máxima, o SS. Agora busca meios de divulgar suas ideias e contribuir efetivamente com a sociedade.
Nayara não deixa de surpreender. Este mês, assumiu o cargo de assistente social na Secretaria de Justiça. Foi a única que passou no concurso para essa atividade específica. Agora, acompanha jovens que cumprem medida de liberdade assistida. Vai, inclusive, visitar a casa deles e orientar as famílias para que os adolescentes não voltem a cometer crimes. “Para poder levar uma vida normal, é preciso aceitar-se. Depois, tentar ser independente, o máximo possível. E, principalmente, agarrar todas as oportunidades”, ensinou. Quem olha para Nayara não reconhece a limitação de imediato. Vê apenas uma jovem de traços suaves, maquiada com delicadeza, usando luzes no cabelo e unhas pintadas de rosa-claro. Na tarde de ontem, ela se exibia, esbelta, em um vestido verde, da cor da esperança.
Leilane Menezes
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Estudantes se integram à Semana da Árvore e passam dia plantando mudas
No mês em que se comemora a Semana da Árvore, mãos miúdas sujaram-se de terra para ajudar no reflorestamento das margens do Rio Descoberto, em Brazlândia. Parecia brincadeira de criança, mas todos os pequenos estavam envolvidos com uma tarefa séria: a de preservar a vida. Na última terça-feira, diante de uma paisagem deslumbrante, com vista para os mais de 17 quilômetros quadrados de extensão do Lago do Descoberto, 67 meninos e meninas que moram e estudam na cidade plantaram aproximadamente 50 mudas de espécies nativas do cerrado. Foi apenas o começo. O Jardim Botânico de Brasília também preparou programação para celebrar a natureza.
Em Brazlândia, a intenção é completar 150 mil novas árvores em terrenos próximos à água, até o fim da época de chuva. O reflorestamento ocorre em uma área de 1.317,98 hectares, em uma faixa de proteção de 125 metros afastados das margens do rio. Entre as espécies escolhidas, há embaúbas, barus, ipês, aroeira e mudas de mandioca.
O projeto Descoberto Coberto, como foi batizada a ação, é uma parceria entre 73 produtores rurais, escolas públicas e particulares e Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa surgiu em 2009, quando o Ministério Público determinou a criação de um grupo de trabalho para evitar o assoreamento (1) do Descoberto. “É do Descoberto que saem 65% da água que abastece o DF. Por isso estamos aqui hoje para ajudar na sobrevivência”, explicou o estudante Gabriel Lemes, 9 anos, mostrando que fixou bem o conteúdo aprendido em sala de aula.
Educação
Professores dos colégios de Brazlândia, região do DF que acolhe a maior parte do rio, trabalham desde o início do ano para conscientizar os alunos sobre a importância de preservar a natureza. “Antes de vir até aqui, as crianças plantaram flores na escola. Aprenderam a fazer reciclagem e compostagem — usar restos como adubo agrícola. Falamos muito sobre queimadas também. Hoje, eles mesmos brigam com os pais se esses jogam cigarro em mato, por exemplo”, afirmou Michele Michetti, professora do 2º ano da Escola Classe do Incra 6.
Ao redor das árvores, os alunos plantaram diversas outras sementes. Cada uma cresce em um ritmo, em um sistema de cooperação e não de competição. “A proteção da natureza é muito importante, porque a gente precisa dela para viver. As árvores são a casa dos animais e ajudam a conservar a água também”, definiu Kelson Mikhail Barbosa, 7 anos. “Com mais árvores, vai chover mais. Se não plantarmos, não vamos ter oxigênio limpo”, alertou Lívia Elias Fidelis, 9.
Vários órgãos do DF participam do projeto coordenado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa). O diretor da Adasa, João Carlos Teixeira, ressaltou que a agência criou um plano especial para minimizar os impactos ambientais ocasionados pela rotina de seus trabalhos cotidianos, por meio da Agenda Ambiental-Adasa. Entre os participantes estão Caesb, Emater, Ibram e Terracap. Além do plantio de árvores, está em curso um programa integrado de educação ambiental. Agentes desses setores percorrem as escolas e as propriedades rurais para ensinar a adultos e crianças como manter no dia a dia ações que revertam o desmatamento, o processo erosivo e a sedimentação do rio.
1 - Perigo constante
O assoreamento é o acúmulo de sedimentos pelo depósito de terra, areia, argila e detritos, por exemplo, na calha de um rio. Com isso, a água pode secar e causar graves transtornos a quem precisa dela para viver.
Leilane Menezes
Correiobraziliense.com.br
Em Brazlândia, a intenção é completar 150 mil novas árvores em terrenos próximos à água, até o fim da época de chuva. O reflorestamento ocorre em uma área de 1.317,98 hectares, em uma faixa de proteção de 125 metros afastados das margens do rio. Entre as espécies escolhidas, há embaúbas, barus, ipês, aroeira e mudas de mandioca.
O projeto Descoberto Coberto, como foi batizada a ação, é uma parceria entre 73 produtores rurais, escolas públicas e particulares e Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa surgiu em 2009, quando o Ministério Público determinou a criação de um grupo de trabalho para evitar o assoreamento (1) do Descoberto. “É do Descoberto que saem 65% da água que abastece o DF. Por isso estamos aqui hoje para ajudar na sobrevivência”, explicou o estudante Gabriel Lemes, 9 anos, mostrando que fixou bem o conteúdo aprendido em sala de aula.
Educação
Professores dos colégios de Brazlândia, região do DF que acolhe a maior parte do rio, trabalham desde o início do ano para conscientizar os alunos sobre a importância de preservar a natureza. “Antes de vir até aqui, as crianças plantaram flores na escola. Aprenderam a fazer reciclagem e compostagem — usar restos como adubo agrícola. Falamos muito sobre queimadas também. Hoje, eles mesmos brigam com os pais se esses jogam cigarro em mato, por exemplo”, afirmou Michele Michetti, professora do 2º ano da Escola Classe do Incra 6.
Ao redor das árvores, os alunos plantaram diversas outras sementes. Cada uma cresce em um ritmo, em um sistema de cooperação e não de competição. “A proteção da natureza é muito importante, porque a gente precisa dela para viver. As árvores são a casa dos animais e ajudam a conservar a água também”, definiu Kelson Mikhail Barbosa, 7 anos. “Com mais árvores, vai chover mais. Se não plantarmos, não vamos ter oxigênio limpo”, alertou Lívia Elias Fidelis, 9.
Vários órgãos do DF participam do projeto coordenado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa). O diretor da Adasa, João Carlos Teixeira, ressaltou que a agência criou um plano especial para minimizar os impactos ambientais ocasionados pela rotina de seus trabalhos cotidianos, por meio da Agenda Ambiental-Adasa. Entre os participantes estão Caesb, Emater, Ibram e Terracap. Além do plantio de árvores, está em curso um programa integrado de educação ambiental. Agentes desses setores percorrem as escolas e as propriedades rurais para ensinar a adultos e crianças como manter no dia a dia ações que revertam o desmatamento, o processo erosivo e a sedimentação do rio.
1 - Perigo constante
O assoreamento é o acúmulo de sedimentos pelo depósito de terra, areia, argila e detritos, por exemplo, na calha de um rio. Com isso, a água pode secar e causar graves transtornos a quem precisa dela para viver.
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Menino que ficou cego ganhou concurso de redação na escola
Prematuro, Pedro Henrique teve retinopatia e aos poucos foi perdendo a visão. Aos 12 anos, a cegueira total. Ainda assim, é um vitorioso. Ele também coleciona medalhas de natação.
Ele nasceu com 49cm e pesava 1,2kg. A mãe, que aos três meses sofreu um descolamento de placenta, teria uma gravidez de altíssimo risco. No sexto mês, começou a sangrar. E não deu mais para esperar. Uma cesariana foi feita às pressas. E nasceu o menino, que logo teve que ir para a incubadora. Ficou ali por 180 dias. Precisou de oxigênio para se manter vivo. Saiu do hospital, em Rondonópolis, no Mato Grosso.
A vida seguiu. A mãe, moça que contava 20 anos à época, criou o segundo e último filho com toda a dedicação que uma criança prematura requer. Levou-o a todas as consultas. Acompanhou cada alteração. E comemorou os pequenos progressos. Aos nove meses, em mais uma visita de rotina ao médico do posto de saúde, algo estranho aconteceu. O pediatra percebeu que o bebê tinha estrabismo.
O médico recomendou à mãe que levasse o filho a um oftalmologista. Com um ano e seis meses de vida, o menino começou a usar tampão nos dois olhos, alternando no direito e no esquerdo. A mãe fez tudo como o especialista determinou. “Um dia, coloquei um brinquedo no chão e percebi que ele não via, não pegava”, lembra a auxiliar de serviços gerais Cristiane Cruz da Silva, hoje com 36 anos.
Mais consultas médicas. O que era apenas um severo estrabismo logo recebeu outro nome. Pedro Henrique Cruz Araújo tinha retinopatia da prematuridade, alteração no crescimento da retina. Assim, cada vez enxergando menos, Pedro Henrique cresceu.
Aos seis anos, não quis mais ir à escola. Nem brincar com os amigos. Nessa idade, o menino teve sua primeira grande tristeza. “Eu só via as cores, mas não conseguia enxergar o rosto das pessoas, os detalhes. Eu passei a reconhecer pela voz”, ele lembra.
Era preciso fazer alguma coisa urgente. E só havia uma cirurgia. Onde fazer? Como fazer? Cristiane precisava chegar a Campinas (SP) com o filho. Uma verdadeira campanha de solidariedade foi realizada. “De rifa a pedágio, tudo fizemos. Foram quase dois anos de luta”, ela conta. Conseguiu arrecadar a quantia para chegar a Campinas, em busca de um especialista.
Em São Paulo, os médicos acharam melhor que Pedro Henrique fosse submetido a uma cirurgia no Instituto da Visão, em Belo Horizonte (MG). Era 2003. Quatro procedimentos cirúrgicos — dois em cada olho — foram realizados. Pedro Henrique contava 8 anos. “Eu fiquei muito feliz. Passei a ver os carros na rua”, ele conta.
A felicidade de ver a vida e as cores foi logo interrompida. “Ele sofreu uma rejeição do silicone que cola a retina no olho direito, o que provocou o descolamento total”, explica a mãe. Em seguida, houve a mesma coisa com o olho esquerdo. Ele voltou a ter apenas 10% da visão.
Mudança de vida
Veio, novamente, a tristeza. Era como se o mundo estivesse desabado. Em 2005, a mãe decidiu que em Brasília o filho teria mais chance de ser aceito. Alguém lhe disse, ainda em Rondonópolis, que aqui havia escolas preparadas para educar crianças que mal ou nada enxergavam.
A mulher que sempre limpou e cuidou de casas alheias catou o pouco que tinha e desembarcou em Brasília. Já que não poderia mais fazê-lo enxergar, pelo menos que tivesse dignidade com o que restava. “Só vim por ele”, conta. Foram morar numa colônia agrícola no Riacho Fundo, onde uma irmã dela já vivia.
Pedro Henrique logo foi matriculado numa escola pública local. “Mas os professores de lá não estão preparados para receber alunos com deficiência”, diz o garoto, hoje um adolescente de 15 anos. Os colegas, segundo a mãe, também não foram orientados para conviver com alguém que não era igual a eles. Pedro Henrique chorou pela segunda vez na vida. Na pré-adolescência, mergulhou na depressão. E na solidão.
Mais uma vez, a mãe correu para ajudar o filho. Soube que no Guará I havia uma escola inclusiva, o Centro de Ensino Fundamental 4. E que lá duas professoras da Sala de Recursos faziam um trabalho comovente sobre preconceito e discriminação. Lá nessa sala, 80 alunos com os mais diferentes tipos de necessidades convivem com outros, tidos como “normais”, isentos de “defeitos” — visíveis ou não. Todos se misturam e todos se ajudam.
Cristiane bateu à porta daquela escola. Foi atendida pela professora Idalene André, 46 anos. A mulher simplória contou o drama do seu filho. Idalene ouviu aquela mulher como poucos haviam escutado. E lhe disse que arrumaria, sim, uma vaga para o filho dela. No mesmo dia, Cristiane voltou à antiga escola. Pegou a transferência de Pedro Henrique e o matriculou no Guará I. Era 2007. Em 2008, o menino perdeu o pouco que ainda enxergava. Veio a escuridão total.
Pedro Henrique chegou aoCEF 4 do Guará 1 na 6ª série. Estimulado pelos professores do curso regular e da Sala de Recursos e ajudado pelos colegas que estavam prontos para recebê-lo, o garoto logo se desenvolveu. Participou de concursos de redação desenvolvido pela Secretaria de Educação. Levou o segundo lugar, escrevendo sobre meio ambiente.
"Queria ver o rosto da minha mãe de novo. Hoje eu enxergo usando os outros sentidos"
Pedro Henrique Cruz Araújo, estudante, 15 anos
Herói na piscina
E ainda na escola, encontrou o esporte pela frente. Apaixonou-se pela natação. E virou um recordista. Até agora, colecionou 17 medalhas. “Nove de ouro, quatro de prata e quatro de bronze. Já competi até em São Paulo”, ele conta, danado de orgulhoso. “Mudar de escola mudou a vida do meu filho. Nem acordar às 4h da manhã pra pegar o ônibus às 5h e chegar com ele aqui às 6h30 me desanima”, diz a mãe, em lágrimas.
Eliane Lopes, 41 anos, também professora da Sala de Recursos, comenta: “Ele é mais um exemplo de vida, inclusão e desafio”. E pergunta: “Afinal, quem é diferente?” Idalene emenda: “A diferença está na alma”. Pedro Henrique apenas ouve. “Hoje eu vejo de outras formas”, ele diz. A mãe ainda limpa as lágrimas que caem dos olhos.
Além das aulas regulares no CEF 4 do Guará, Pedro Henrique frequenta o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV), na 612 Sul. Lá, ele aprendeu a escrever em braile e tem noções de orientação e mobilidade, algo de que mais precisam os cegos. É o que lhe permite, por exemplo, andar com sua bengala e tornar-se, cada dia, mais independente no mundo não feito para pessoas “imperfeitas”.
Durante a entrevista na Sala de Recursos, Sônia Guedes, 56 anos, professora de matemática de Pedro Henrique, entra. Afastada da escola por causa de um câncer de mama — ela faz as últimas sessões de radioterapia — e usando um lenço que lhe cobre a cabeça sem cabelos, a mulher que luta pela vida olha para o aluno e diz: “Ele é um exemplo de superação. Nunca se deixou vencer. Caía e levantava”. O garoto abraça a professora dos números. Ela promete: “Eu venho para a sua formatura, no fim do ano”. Ele diz que sim.
Na semana em que as escolas da rede pública chamam para a importância da inclusão, dos direitos e da valorização do aluno que não é igual à maioria, a história de Pedro Henrique soa como um bálsamo. A mãe largou tudo em Rondonópolis para que o filho fosse aceito como deveria ser. Acorda às 4h manhã. Anda meia hora para chegar ao ponto de ônibus. Às 5h, embarca. Deixa o filho na escola e vai limpar escritórios alheios. Isso de segunda a sexta. E nunca se cansa.
No meio do caminho, Pedro Henrique encontrou duas professoras que acreditaram que ele podia. O garoto venceu concurso de redação, tornou-se medalhista de natação. Quer ir cada dia mais longe, mesmo de bengalas. Pergunto do que ele tem saudade quando enxergava. “De ver o rosto da minha mãe”, responde. Mas logo se anima: “Hoje eu enxergo usando os outros sentidos”. E foi assim, descobrindo outros rumos, que ele se reinventou. E quem se reinventa acaba renascendo. Pedro Henrique nasceu quando veio a escuridão.
Marcelo Abreu
Correiobraziliense.com.br
Ele nasceu com 49cm e pesava 1,2kg. A mãe, que aos três meses sofreu um descolamento de placenta, teria uma gravidez de altíssimo risco. No sexto mês, começou a sangrar. E não deu mais para esperar. Uma cesariana foi feita às pressas. E nasceu o menino, que logo teve que ir para a incubadora. Ficou ali por 180 dias. Precisou de oxigênio para se manter vivo. Saiu do hospital, em Rondonópolis, no Mato Grosso.
A vida seguiu. A mãe, moça que contava 20 anos à época, criou o segundo e último filho com toda a dedicação que uma criança prematura requer. Levou-o a todas as consultas. Acompanhou cada alteração. E comemorou os pequenos progressos. Aos nove meses, em mais uma visita de rotina ao médico do posto de saúde, algo estranho aconteceu. O pediatra percebeu que o bebê tinha estrabismo.
O médico recomendou à mãe que levasse o filho a um oftalmologista. Com um ano e seis meses de vida, o menino começou a usar tampão nos dois olhos, alternando no direito e no esquerdo. A mãe fez tudo como o especialista determinou. “Um dia, coloquei um brinquedo no chão e percebi que ele não via, não pegava”, lembra a auxiliar de serviços gerais Cristiane Cruz da Silva, hoje com 36 anos.
Mais consultas médicas. O que era apenas um severo estrabismo logo recebeu outro nome. Pedro Henrique Cruz Araújo tinha retinopatia da prematuridade, alteração no crescimento da retina. Assim, cada vez enxergando menos, Pedro Henrique cresceu.
Aos seis anos, não quis mais ir à escola. Nem brincar com os amigos. Nessa idade, o menino teve sua primeira grande tristeza. “Eu só via as cores, mas não conseguia enxergar o rosto das pessoas, os detalhes. Eu passei a reconhecer pela voz”, ele lembra.
Era preciso fazer alguma coisa urgente. E só havia uma cirurgia. Onde fazer? Como fazer? Cristiane precisava chegar a Campinas (SP) com o filho. Uma verdadeira campanha de solidariedade foi realizada. “De rifa a pedágio, tudo fizemos. Foram quase dois anos de luta”, ela conta. Conseguiu arrecadar a quantia para chegar a Campinas, em busca de um especialista.
Em São Paulo, os médicos acharam melhor que Pedro Henrique fosse submetido a uma cirurgia no Instituto da Visão, em Belo Horizonte (MG). Era 2003. Quatro procedimentos cirúrgicos — dois em cada olho — foram realizados. Pedro Henrique contava 8 anos. “Eu fiquei muito feliz. Passei a ver os carros na rua”, ele conta.
A felicidade de ver a vida e as cores foi logo interrompida. “Ele sofreu uma rejeição do silicone que cola a retina no olho direito, o que provocou o descolamento total”, explica a mãe. Em seguida, houve a mesma coisa com o olho esquerdo. Ele voltou a ter apenas 10% da visão.
Mudança de vida
Veio, novamente, a tristeza. Era como se o mundo estivesse desabado. Em 2005, a mãe decidiu que em Brasília o filho teria mais chance de ser aceito. Alguém lhe disse, ainda em Rondonópolis, que aqui havia escolas preparadas para educar crianças que mal ou nada enxergavam.
A mulher que sempre limpou e cuidou de casas alheias catou o pouco que tinha e desembarcou em Brasília. Já que não poderia mais fazê-lo enxergar, pelo menos que tivesse dignidade com o que restava. “Só vim por ele”, conta. Foram morar numa colônia agrícola no Riacho Fundo, onde uma irmã dela já vivia.
Pedro Henrique logo foi matriculado numa escola pública local. “Mas os professores de lá não estão preparados para receber alunos com deficiência”, diz o garoto, hoje um adolescente de 15 anos. Os colegas, segundo a mãe, também não foram orientados para conviver com alguém que não era igual a eles. Pedro Henrique chorou pela segunda vez na vida. Na pré-adolescência, mergulhou na depressão. E na solidão.
Mais uma vez, a mãe correu para ajudar o filho. Soube que no Guará I havia uma escola inclusiva, o Centro de Ensino Fundamental 4. E que lá duas professoras da Sala de Recursos faziam um trabalho comovente sobre preconceito e discriminação. Lá nessa sala, 80 alunos com os mais diferentes tipos de necessidades convivem com outros, tidos como “normais”, isentos de “defeitos” — visíveis ou não. Todos se misturam e todos se ajudam.
Cristiane bateu à porta daquela escola. Foi atendida pela professora Idalene André, 46 anos. A mulher simplória contou o drama do seu filho. Idalene ouviu aquela mulher como poucos haviam escutado. E lhe disse que arrumaria, sim, uma vaga para o filho dela. No mesmo dia, Cristiane voltou à antiga escola. Pegou a transferência de Pedro Henrique e o matriculou no Guará I. Era 2007. Em 2008, o menino perdeu o pouco que ainda enxergava. Veio a escuridão total.
Pedro Henrique chegou aoCEF 4 do Guará 1 na 6ª série. Estimulado pelos professores do curso regular e da Sala de Recursos e ajudado pelos colegas que estavam prontos para recebê-lo, o garoto logo se desenvolveu. Participou de concursos de redação desenvolvido pela Secretaria de Educação. Levou o segundo lugar, escrevendo sobre meio ambiente.
"Queria ver o rosto da minha mãe de novo. Hoje eu enxergo usando os outros sentidos"
Pedro Henrique Cruz Araújo, estudante, 15 anos
Herói na piscina
E ainda na escola, encontrou o esporte pela frente. Apaixonou-se pela natação. E virou um recordista. Até agora, colecionou 17 medalhas. “Nove de ouro, quatro de prata e quatro de bronze. Já competi até em São Paulo”, ele conta, danado de orgulhoso. “Mudar de escola mudou a vida do meu filho. Nem acordar às 4h da manhã pra pegar o ônibus às 5h e chegar com ele aqui às 6h30 me desanima”, diz a mãe, em lágrimas.
Eliane Lopes, 41 anos, também professora da Sala de Recursos, comenta: “Ele é mais um exemplo de vida, inclusão e desafio”. E pergunta: “Afinal, quem é diferente?” Idalene emenda: “A diferença está na alma”. Pedro Henrique apenas ouve. “Hoje eu vejo de outras formas”, ele diz. A mãe ainda limpa as lágrimas que caem dos olhos.
Além das aulas regulares no CEF 4 do Guará, Pedro Henrique frequenta o Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV), na 612 Sul. Lá, ele aprendeu a escrever em braile e tem noções de orientação e mobilidade, algo de que mais precisam os cegos. É o que lhe permite, por exemplo, andar com sua bengala e tornar-se, cada dia, mais independente no mundo não feito para pessoas “imperfeitas”.
Durante a entrevista na Sala de Recursos, Sônia Guedes, 56 anos, professora de matemática de Pedro Henrique, entra. Afastada da escola por causa de um câncer de mama — ela faz as últimas sessões de radioterapia — e usando um lenço que lhe cobre a cabeça sem cabelos, a mulher que luta pela vida olha para o aluno e diz: “Ele é um exemplo de superação. Nunca se deixou vencer. Caía e levantava”. O garoto abraça a professora dos números. Ela promete: “Eu venho para a sua formatura, no fim do ano”. Ele diz que sim.
Na semana em que as escolas da rede pública chamam para a importância da inclusão, dos direitos e da valorização do aluno que não é igual à maioria, a história de Pedro Henrique soa como um bálsamo. A mãe largou tudo em Rondonópolis para que o filho fosse aceito como deveria ser. Acorda às 4h manhã. Anda meia hora para chegar ao ponto de ônibus. Às 5h, embarca. Deixa o filho na escola e vai limpar escritórios alheios. Isso de segunda a sexta. E nunca se cansa.
No meio do caminho, Pedro Henrique encontrou duas professoras que acreditaram que ele podia. O garoto venceu concurso de redação, tornou-se medalhista de natação. Quer ir cada dia mais longe, mesmo de bengalas. Pergunto do que ele tem saudade quando enxergava. “De ver o rosto da minha mãe”, responde. Mas logo se anima: “Hoje eu enxergo usando os outros sentidos”. E foi assim, descobrindo outros rumos, que ele se reinventou. E quem se reinventa acaba renascendo. Pedro Henrique nasceu quando veio a escuridão.
Marcelo Abreu
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