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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Exposição no Museu da República traz preciosidades do artista espanhol Joan Miró

Surrealismo libertário: obras de Miró que serão apresentadas ao público até 25 de novembroO Joan Miró que Brasília poderá conhecer a partir de hoje não está parado no surrealismo dos anos 1940 que o consagrou. Nem é de maneira convencional que será oferecido ao público brasiliense. A exposição do artista morto há 26 anos ocupa a partir de hoje o Museu Nacional do Conjunto Cultural da República ao lado de cinco jovens talentos da arte espanhola em um diálogo que refresca a obra de Miró e abre espaço para questões contemporâneas.

Los 24 escalones e Joan Miro tem desenhos, pinturas, gravuras e outras curiosidades do espanhol ao lado de obras de Diana Larear, Abigail Lazkioz, Juan López, Javier Arce e Raúl Belinchón. A ideia partiu da Fundación Joan Miró de Barcelona, que convidou o curador Jorge Diez para escolher artistas contemporâneos e ainda não consagrados com os quais a obra do surrealista pudesse dialogar.

A interação era vontade do próprio artista. Em Barcelona, a fundação mantém o Espai 13, uma sala de exposições à qual o público tem acesso depois de visitar a coleção de obras de Miró. Para chegar lá, é preciso descer 24 degraus. É um espaço experimental e Diez tomou a ideia, juntou a um livro de John Buchan e chegou ao nome da exposição. “Tem a ver com o caráter de estranheza de muitas pessoas a respeito da arte contemporânea, apesar de um número elevado dessas mesmas pessoas serem consumidoras da arte oferecida pelos meios de comunicação e pela indústria cultural”, explica Diez. “Por desejo explícito do próprio artista, a Fundação Miró está atenta para as novas propostas e tem dedicado espaço à arte emergente. Chega-se ao Espai 13 por uma escadaria descendente, que incrementa a sensação de estranheza dos visitantes não advertidos quando se defrontam com os projetos ali expostos.”

A rampa do mezanino do Museu Nacional parece estilhaçada, prestes a desmoronar graças à intervenção de Juan López. Com adesivos coloridos em amarelo, azul e vermelho — “as cores de Miró” —, o artista simulou um concreto quebrado para dar vazão à ânsia de modificar a arquitetura por meio do desenho. As intervenções de López agem no espaço como se quisessem transformá-lo. “O que me interessa é desenhar diretamente na parede. Não tenho ateliê e gosto dessa ideia de habitar um trabalho, porque quando faço uma intervenção praticamente vivo no espaço, passo tempo, me alimento. Gosto dessa ideia de um ateliê sempre mudando de lugar”, conta.

No centro da sala de exposições, as luzes ofuscantes da instalação de Diana Larear causam repulsa e atração. São dezenas de lâmpadas brancas dispostas em um labirinto geométrico pelo qual se pode passear. Na parede oposta, as grandes pinturas pretas funcionam como uma mescla de temas que preocupam Abigail Lazkoz há muito tempo. A guerra, principalmente.

Reflexão
Abigail trabalha com pincel direto na parede e idealizou os desenhos depois de ter acesso aos cadernos de notas de Miró durante as conversas e reuniões preparatórias com Jorge Diez. “Foi interessante ver o trabalho dele sem ordem temporal, todo junto. Miró trabalhava em séries fechadas e, ao ver os cadernos, pensei em mesclar as diferentes séries do meu trabalho”, conta. O fato de a guerra estar simbolicamente presente nas máquinas e objetos retratados vem de uma reflexão da artista sobre sua própria condição. Os pais de Abigail fazem parte da primeira geração nascida após a Guerra Civil Espanhola e a família é do País Basco, região de conflitos separatistas.

Mais adiante, nas vitrines, Javier Arce provoca ao sugerir objetos de arte em forma de mercadoria e Raúl Belinchón fala de tempo em fotografias de pedras. Nascidos na Espanha na década de 1970, os cinco artistas representam uma geração que chega agora à maturidade. Nem todos são diretamente influenciados por Miró — e Juan López garante que não é —, mas todos são herdeiros do diálogo entre a arte espanhola e o mundo iniciada e defendida por artistas como Picasso, Miró e Dalí em tempos de guerras e liberdades cerceadas. “Cada um dos artistas eleitos estabeleceu um marco próprio para o diálogo, em alguns casos mais explícito e em outros menos evidente, para acabar propondo intervenções específicas”, avisa Diez.

Preciosidades surrealistas
Além de pinturas, gravuras desenhos e uma escultura, o Museu Nacional recebe duas preciosidades pouco expostas nas mostras dedicadas a Joan Miró. No início da Segunda Guerra Mundial, o artista realizou uma série de 33 aquarelas intitulada Las constelaciones para retratar o pesadelo de um mundo em conflito. Em 1958, André Breton, fundador do surrealismo, compôs um conjunto de poemas em prosa para ilustrar a obra de Miró.

Para Los 24 escalones e Joan Miro, Jorge Diez selecionou 22 aquarelas da série. A mostra traz também um vídeo sobre o balé Jeux d’enfants, estreado pelos Balés Russos de Montecarlo, em 1932, e para o qual Miró realizou painéis, cenografia, vestuário e objetos de cena. “E haverá ainda os trabalhos audiovisuais Miró 37- Aidez l’Espagne e Miró l’altre. Para completar a aproximação de Miró há uma zona de consulta de publicações e vídeos que servirá de base para os ateliês pedagógicos organizados pelo Museu Nacional”, avisa o curador Jorge Diez.

Nahima Maciel
Correiobraziliense.com.br

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