Coisas legais acontecem o tempo todo em nosso mundo. Por que cultivar assuntos tristes, pessimistas e violentos, se há tanta coisa interessante ao nosso redor? Por que não ter acesso a informações legais, iniciativas bacanas, notícias que mostram ações construtivas?

Este espaço busca reverter o "efeito noticiário" (aquela depressão que dá ao final de um telejornal, após lermos as manchetes na internet, ou após lermos um jornal qualquer). Aqui podem ser encontrados assuntos diversos que versam sobre temas
alegres, construtivos, leves, bons e divertidos.


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Você vai ver como o mundo é muito legal!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Próteses de braço respondem ao comando do pensamento

Uma nova geração de próteses possibilita mexer os membros artificiais com a força do pensamento. Os movimentos são feitos de forma intuitiva e simultânea -como um membro natural.

A tecnologia, batizada de TMR (em inglês, "targeted muscle reinnervation", algo como reenervação muscular seletiva), utiliza nervos que restaram no membro amputado para controlar a prótese.


O paciente que perdeu o braço passa por uma cirurgia que liga os nervos à musculatura do peito. Segue-se um processo de reenervação, que pode durar vários meses. Eles crescem e se adaptam ao músculo, que receberá a informação do cérebro.

A contração desse músculo segue, então, um novo esquema relacionado ao membro fantasma. Eletrodos transmitem os dados a um computador dentro da prótese, que faz os movimentos.
Por enquanto, o protótipo -apenas de braço- está sendo testado em dois pacientes, nos EUA e na Áustria.

"A TMR é uma opção para qualquer paciente, mas nos mais jovens o processo curativo é mais fácil", diz Andreas Kannenberg, diretor de assuntos médicos da Otto Bock, empresa alemã que pesquisa a TMR. Ele veio ao Brasil para um treinamento.

"No entanto, trata-se de uma tecnologia muito cara e que requer procedimento cirúrgico", reconhece ele.

"Muita gente não recebe a prótese que precisa", diz Henrique Grego, secretário da Associação Brasileira de Ortopedia Técnica. A cada ano, 45 mil brasileiros, em média, precisam colocar próteses, readequá-las ou utilizar muletas, cadeiras de rodas etc.

A maior parte das amputações é de membros inferiores, principalmente devido a complicações do diabetes e acidentes de trânsito.

"Talvez nem todos os pacientes precisem de algo tão sofisticado, mas o futuro caminha para isso", avalia Therezinha Rosane Chamlian, fisiatra da Universidade Federal de São Paulo.

GABRIELA CUPANI
Folha.com.br

Células de gordura podem regenerar músculos de roedor


A aplicação de células-tronco de gordura, injetadas por via sistêmica (na veia) repetidas vezes, pode ajudar a recomposição de uma série de músculos danificados.

É isso que mostram as pesquisas sobre aplicação dessas células no tratamento de doenças neuromusculares em camundongos, realizadas por alunos de doutorado coordenados por Mayana Zatz, geneticista da USP .

Os resultados foram apresentados no Congresso Brasileiro de Neurologia, ontem, no Rio de Janeiro, e serão publicadas dentro de semanas na revista "Stem Cell Reviews and Reports".

O grupo comparou células-tronco de origem adiposa (gordura) e umbilical para verificar qual tem mais potencial para se transformar em diferentes músculos.

EFICIÊNCIA
A conclusão é que as células-tronco de gordura são mais eficientes na regeneração muscular. "Os camundongos melhoraram", anima-se a cientista da USP.

O bom resultado das células de gordura pode ter relação com uma espécie de "memória" das células-tronco, que tendem a "voltar" a sua origem. "As células adiposas ficam mais próximas dos músculos", explica Zatz.

As células do cordão umbilical chegaram aos músculos, mas não formaram proteínas humanas. O quadro dos animais ficou estagnado.

O bom resultado para as células de gordura tem uma vantagem: a facilidade de se obter essas células. "Não faltam doadores, todo mundo quer fazer lipo", brinca Zatz.

NA VEIA
Os cientistas também estudaram a evolução do quadro dos animais conforme a via de aplicação das células.

Com aplicação local, as células-tronco desapareceram. Já por meio de injeções na veia, as células permaneceram no músculo por até seis meses. Ou seja: no caso de um possível tratamento, serão necessárias injeções repetidas dessas células.

Para a cientista da USP, é possível pensar em testes clínicos num futuro próximo. "Estamos chegando perto de fazer os testes experimentais em humanos", afirma.

SABINE RIGHETTI
Folha.com.br

Cientista canadense faz córnea artificial

As longas filas de espera por um transplante de córnea podem estar com os dias contados. Cientistas conseguiram recriar essa camada ocular em laboratório, eliminando a necessidade de um doador para a cirurgia.

Nos primeiros testes, a córnea biossintética recuperou completamente a capacidade de enxergar em seis dos dez pacientes, que tinham lesões ou doenças na córnea.

Em todos os casos, as terminações nervosas voltaram a crescer, e o novo tecido foi completamente incorporado ao organismo.

Segundo os pesquisadores, o método acabou com dois dos principais problemas do transplante convencional: a rejeição ao tecido e a necessidade de tratamento de longo prazo com drogas que diminuem essa rejeição.

As córneas biossintéticas também recuperaram a sensibilidade ao toque e voltaram a permitir a presença de lágrimas, que lubrificam os olhos e evitam problemas como infecções.

"Esta é a primeira vez que um trabalho mostra uma córnea criada artificialmente se integrando ao olho e estimulando a regeneração", afirmou May Griffith, da Universidade de Ottawa (Canadá), uma das líderes do estudo publicado na revista "Science Translational Medicine".

DUAS SEMANAS
A criação do tecido artificial leva duas semanas. Cientistas sintetizam o colágeno, proteína que é um dos principais componentes da córnea natural, em laboratório.

O colágeno, então, é moldado para ter formato e consistência muito parecidos com os de uma lente de contato convencional. O processo leva duas semanas.

Na cirurgia, os médicos fazem um corte circular e retiram o centro danificado da córnea. O novo tecido é então "costurado" ao que sobra da córnea natural. O tempo de operação é quase o mesmo dos atuais transplantes.

"É um método muito promissor e com grandes chances de sucesso", disse Renato Ambrósio Jr., da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Na sua opinião, porém, são necessários testes. "Só com um número maior de pacientes, com diferentes condições, poderemos dizer se é realmente eficaz."

Como os trabalhos estão muito no início, a técnica não deve chegar a hospitais em menos de dez anos.

GIULIANA MIRANDA
Folha.com.br

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Arte de superar os limites virou a melhor obra das vidas de dois artistas

Uma pintora com paralisia cerebral e um músico que não enxerga abrem hoje, no Senado Federal, uma exposição comovente.

Uma moça que nunca andou, fala com dificuldade extrema e tem comprometimento de todo o aparelho locomotor. Um homem cuja última lembrança na vida foi a de ter visto o jaleco branco do médico que o operou. Ele contava 8 anos. Está com 53. A professora de artes que um dia conheceu esse homem, depois essa moça. Uma mãe que, ao saber que a filha tinha paralisia cerebral, demorou três dias para ter coragem e perguntar à médica o que aquilo queria dizer para o resto da vida. E uma produtora cultural que viu toda essa história e escreveu um projeto. E o projeto virou arte. Juntou pintura e música. A melhor de todas.

História danada de boa essa. A moça que não anda e vive cheia de limitações é uma pintora. Das melhores. O homem que não enxerga é compositor, arranjador e instrumentista. No violão, ninguém o detém. A professora de artes que um dia conheceu ambos virou curadora. A mãe que não sabia o que fazer com aquela sentença nunca mais perguntou por que aquilo havia acontecido com sua filha. A produtora cultural é autora de um projeto de sucesso, há um ano e meio correndo estrada.

E hoje, às 15h, no Salão Branco do Senado Federal, a pintora de sorriso encantador e o tímido músico mineiro estarão juntos, inaugurando a exposição Arte superando barreiras. Kátia Santana mostrará 11 pinturas abstratas, em acrílico sobre tela. Evaldo Leoni cantará músicas de própria autoria e de compositores consagrados da Música Popular Brasileira. Enquanto Evaldo estiver cantando, Kátia pintará mais uma obra.

Ivana Andrés, 59 anos, a professora de artes, que há sete anos acreditou que essa moça poderia pintar de verdade, vai estar ao lado da aluna. Simone Senra, 41, a produtora cultural, verá seu projeto, mais uma vez, ganhando espaço e elogios rasgados do público. E Izabel Nedina, 48, cabeleireira, a mãe, certamente chorará em algum canto daquele salão do Senado Federal. E toda lágrima que derramar não terá sido em vão.

Na tarde de ontem, o Correio foi ao encontro de Kátia e Evaldo, que haviam acabado de desembarcar de Belo Horizonte (MG), onde moram. Ela, aos 29 anos, é pura alegria. A primeira vez em Brasília. Ele, aos 53, é mineirinho de tudo: fala baixo e tem no violão o melhor confidente. Ela, de cabelos pintados de loiro, com uma borboleta tatuada no ombro esquerdo e piercing discreto no nariz, diz, num esforço sobre-humano: “É com a arte que expresso a minha alegria e minha tristeza”. Ele, sentadinho, com o violão no colo, declara, com sinceridade comovente: “A música é toda minha vida”.

Izabel olha para a filha, para os quadros da artista que começavam a ser colocados na exposição e reconhece: “Ela é o meu maior orgulho. Meu maior aprendizado”. Ivana, também pintora consagrada, filha da mestra Maria Helena Andrés, admite: “Para pintar, é preciso ter coragem. E Kátia não tem medo de perder um quadro e refazê-lo, transformá-lo”. Sobre a dificuldade motora da aluna em pegar o pincel, a professora é categórica: “O olho é mais importante que a mão”. Evaldo, que não enxerga, usa as mãos ágeis para fazer mágica com as cordas do seu violão. A pintora com paralisia cerebral e o músico que nada vê se completam. E se entendem nas suas diferenças.

Renascimento
E esse encontro é tão comovente quanto a própria arte que brota das mãos de ambos. “Esse é um projeto de oportunidades. A inclusão é nossa. O preconceito é nosso. Esse foi um encontro de todos nós”, diz Simone, a produtora. O projeto Arte superando barreiras foi patrocinado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet). Teve também o apoio do jornal O Estado de Minas, pertencente aos Diários Associados, e de algumas empresas mineiras.

Durante um ano e meio, Kátia e Evaldo expuseram em Belo Horizonte, em Nova Lima (MG), em São Paulo, e agora chegaram a Brasília, para o encerramento do projeto que mudou a vida de ambos. “Ela ficou mais confiante, mais feliz”, percebe a mãe. Kátia escreveu, em seu computador adaptado: “Comecei a pintar há cerca de oito anos porque estava com depressão. Logo comecei a me sentir cada vez melhor e mais livre.... Penso que quando alguém desiste de sonhar desiste da vida”.

Evaldo, com o projeto, passou a apresentar semanalmente o programa A arte de superar barreiras, numa rádio comunitária de Belo Horizonte. No espaço, histórias de superação de pessoas com qualquer tipo de deficiência são abordadas. Ele canta e recita poesias — de vários autores e também dos convidados entrevistados. E nunca tocou tanto quanto agora no Voz e Poesia, grupo musical do qual faz parte.

A pintura de Kátia tem muita cor e luz. Tem magia. É alegre e convida, pelo abstrato, para uma viagem. A artista sabe exatamente quais os caminhos aonde pretende chegar. “Ela tem uma experiência autodidata. Às vezes, começa o quadro pelo meio. E, mesmo com toda limitação, é rápida. Pintou três telas grandes em menos de três horas”, exulta a professora de artes, embasbacada com sua primeira aluna tão especial.

A música de Evaldo tem cheiro das Minas Gerais. É suave, baixa e tem um quê de Clube da Esquina. O compositor é fã de carteirinha de Milton Nascimento e de toda aquela turma que se formou naquela época. Gosta do verso, da poesia dita com honestidade. E foi essa música, estudada à exaustão, que fez o menino que perdeu a visão aos 8 anos, em decorrência de um glaucoma avassalador, acreditar a que a escuridão não seria o fim. “Aconteceram tantas coisas boas na minha vida que não penso mais na cegueira”, diz o homem que se casou pela terceira vez e tem dois filhos, um deles também músico.

Acessibilidade
Sessão de fotos para a matéria. Kátia, sorrindo riso de felicidade, pergunta ao fotógrafo: “O Evaldo aparece também?”. Ela enxerga pra ele. Ele caminha pra ela. “Ela é linda, espetacular”, diz o músico. Ela ouve e ri. Ele não vê, mas sente. Ela fala, de novo fazendo um esforço danado para ser entendida: “Quando pinto, sinto que tô livre, fora da cadeira de rodas”.

E é no Senado Federal, lugar onde o país se reconhece, se espanta e de quando em vez ainda se enche de esperança, que a exposição terá seu desfecho. Mônica de Araújo Freitas, presidenta do Programa de Acessibilidade do Senado Inclusivo, elogia o trabalho da dupla.

Ela conta que a Casa, há seis anos, passou a tratar como prioridade o direito de ir e vir dos que têm limitações. “Fizemos reformas e adaptações estruturais, compramos equipamentos, temos intérprete de Libras e realizamos um censo para saber quantos funcionários são portadores de necessidades especiais. Todo ano, em dezembro, realizamos a Semana do Senado Inclusivo. Virou um sucesso, nosso compromisso.”

Kátia olha os quadros sendo colocados nos painéis. Dá palpite. Quer ver sua obra mais bonita. Sentadinho, Evaldo afina as cordas do seu instrumento. É hoje, daqui a pouco, a abertura da exposição da pintora e do músico. Pergunto a ela como está a emoção. Ela responde: “Tô muito feliz, o coração tá batendo cada vez mais forte”. Ele só quer fazer o que mais gosta: tocar, tocar e tocar. Em seu computador, Kátia escreve páginas do livro que vai lançar, Um sonho de vida: “Sou assim, livre. presa, triste, alegre, segura do que faço e firme nas decisões. Desejo aprender sempre mais e acreditar que tenho forças para continuar. Sinto a luz de Deus dentro de mim”. Não há mais o que perguntar. Deixa a música de Evaldo seguir.

Essa história é boa demais. Boa pra contar. Melhor ainda pra ver e ouvir. E sentir.

Marcelo Abreu
Correiobraziliense.com.br

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

UFRJ desenvolve ônibus movido a hidrogênio

O Brasil entra definitivamente na corrida por transportes coletivos sustentáveis e não poluentes com o desenvolvimento de um ônibus movido a hidrogênio a partir de tecnologia totalmente nacional. Até então, o país já havia desenvolvido um veículo similar, porém com tecnologia mista — brasileira e alemã. O ônibus, criado pelo Instituto Alberto Luís Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), será uma das opções de transporte na capital fluminense durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. O projeto conta com parceria da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).

O que diferencia o veículo de outros similares que já circulam em lugares como a Europa, por exemplo, é que suas pilhas a combustível podem ser abastecidas tanto com hidrogênio(1) como por meio da rede elétrica comum. Além disso, o ônibus é equipado com um sistema capaz de transformar a energia liberada durante as freadas em eletricidade (veja arte).

O sistema de recuperação de energia cinética é o mesmo utilizado nos carros da Fórmula1. A diferença é que, nessa modalidade do automobilismo, ele serve para aumentar a velocidade, enquanto, no ônibus, é utilizado para ampliar a eficiência energética e economizar combustível. “A energia elétrica convertida por esse sistema é lançada no motor, que acaba economizando o hidrogênio a bordo”, explica Paulo Emílio Valadão de Miranda, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Coppe. Por conta desse mecanismo de abastecimento, o coletivo não precisa ter uma pilha a combustível enorme nem consumir tanto hidrogênio para se deslocar.

Como resultado, o ônibus híbrido tem uma eficiência energética muito maior que a dos convencionais a diesel. Além disso, ele não emite poluentes. Segundo Miranda, o único resíduo lançado no ar pelo veículo é o vapor d’água, oriundo da reação eletroquímica da pilha a combustível, alimentada de hidrogênio e oxigênio proveniente do ambiente. “Parte desse vapor d’água é condensado e aproveitado no sistema de umidificação das pilhas a combustível”, esclarece o coordenador do laboratório. Outro destaque é a ausência de ruído. Por ter tração elétrica, o ônibus a hidrogênio não faz barulho nem dá solavancos no momento da partida, como os coletivos a diesel.

O hidrogênio que abastece o ônibus fica armazenado em dois cilindros com um tubo interno de alumínio, revestido por um polímero de alta densidade e amarrado com fibras de carbono. “Com isso, tem-se cilindros leves, mas que permitem o armazenamento de hidrogênio até 350bar, uma pressão mais elevada do que a usada normalmente”, explica o professor da Coppe. O ônibus carrega 15kg de hidrogênio nos dois cilindros, o que lhe dá uma autonomia de 300km.

Por enquanto, a Coppe produziu um protótipo do veículo para rodar pela Cidade Universitária, transportando alunos, professores e funcionários. Segundo Guilherme Wilson, gerente de operações da mobilidade da Fetranspor, a maior qualidade do projeto é sua natureza nacional de desenvolvimento. “É um projeto feito essencialmente por engenheiros brasileiros, dentro da universidade, com resultados já bastante impressionantes”, comenta. Wilson diz que a expectativa do setor é testar sua robustez em operações diárias e reais de transporte coletivo de passageiros. “Isso está previsto para 2011”, acrescenta.

CustosEm termos de custo, segundo Miranda, para se fabricar um veículo como o da UFRJ, gasta-se menos da metade do que na produção de um similar europeu. “Isso se dá por conta da tecnologia do sistema híbrido de tração elétrica e produção de energia”, destaca. Porém, comparado ao ônibus a diesel comum, o movido a hidrogênio é mais caro. No entanto, a estimativa de Paulo Emílio é que essa diferença desapareça a partir da produção em escala. “Por enquanto, é só um protótipo e não dá como comparar com a produção. No entanto, se formos projetar a produção desse veículo em larga escala, como o ônibus a diesel, a diferença de preço diminui consideravelmente. Além disso, ele tem a vantagem sobre sua operação e manutenção, que são mais baratas do que os ônibus movidos com combustível fóssil”, afirma.

Neste momento, os pesquisadores fazem diversos testes, recolhendo dados de operação para, a partir daí, projetarem o que eles chamam de um cabeça de série. Ou seja, o veículo pronto para a comercialização ou para a industrialização em larga escala. “São mais detalhes de refinamento de controles e reposicionamento de equipamentos. O sistema como um todo funciona muito bem, mas temos a mania de refinar as coisas”, diz o coordenador do projeto. A perspectiva é que, nos próximos anos, possam ser produzidas pequenas frotas do ônibus a hidrogênio.

1 - Fácil obtenção
O hidrogênio não é um combustível primário como é o petróleo, por exemplo. A vantagem é que ele pode ser produzido a partir de muitas matérias-primas e por meio de processos distintos. Por exemplo, a partir da eletrólise da água e de qualquer biomassa, como resíduos da agropecuária, de esgotos e resíduos industriais, ou ainda de metano oriundo de biogases, como aqueles produzidos em aterros sanitários.

Silvia Pacheco
Correiobraziliense.com.br

Empresas incentivam e valorizam o voluntariado entre os funcionários

A filosofia também serve para as seleções. Participar de ações sociais pode desempatar candidatos com qualificações parecidas.

Entre uma pergunta e outra durante a entrevista, o recrutador questiona sobre prestação de trabalho voluntário. Cuidado! A resposta pode garantir a sua vaga. Engana-se quem acredita que só os cursos de qualificação chamam a atenção de um profissional de recursos humanos. Várias empresas, principalmente as que desenvolvem projetos sociais, querem profissionais que pensam no próximo. Evidentemente que um bom currículo continua fazendo a diferença. Mas a ida regular a instituições de caridade, por exemplo, pode desempatar os documentos.

Recentemente, Marillac de Castro fez a pergunta durante um processo seletivo para uma vaga de trainee. “A empresa fez essa exigência na hora da seleção”, explica. A consultora da Intellijob alerta que, em um momento como esse, o importante é falar a verdade, mesmo que a resposta não agrade o recrutador. “Nem todos têm tempo para fazer esse tipo de trabalho”, justifica. “Também é importante que a pessoa tenha trabalhado ativamente. Se ela só fez a atividade uma vez ou não teve uma participação ativa, talvez não seja uma boa ideia mencionar a experiência.”

O profissional também pode destacar, no currículo, que se interessa por trabalho voluntário, mesmo sem nunca tê-lo praticado. Quem já participou deve informar, no documento, o nome da entidade beneficiada, a atividade realizada e a duração do trabalho. Carmen Cavalcanti aponta quais empresas gostam dessa informação. “O mais comum é que companhias maiores recrutem esses profissionais”, diz. Por isso, a diretora da Rhaiz Soluções em RH sugere que os candidatos procurem saber se a companhia valoriza esse tipo de ação antes de enviar o currículo ou de participar de uma entrevista. “Dependendo dos valores e da cultura, esse dado não chama a atenção”, explica.

Não é o caso do Itaú. Nas seleções feitas pelo banco, saem na frente os candidatos que já participaram de ações sociais. “Entre dois profissionais qualificados, a empresa tende a escolher aquele que possui essa visão mais ampla”, informa Valéria Riccomini, diretora da Fundação Itaú Social. Para despertar o interesse social dos seus colaboradores, a fundação mantém o programa de voluntariado desde 2003. Segundo Valéria Riccomini, 9 mil pessoas já participam espontaneamente dos projetos. “A participação acontece em todos os níveis da empresa: diretores, funcionários das agências e familiares dos colaboradores. Todos ajudam a desenvolver ações”, explica.

Milene Ossuna é uma delas. A gerente da plataforma de Atendimento a Empresas juntou-se a outras 700 pessoas, entre funcionários e parentes de colaboradores do Itaú, para reformar, em junho deste ano, um lar de crianças em situação de risco. “Depois que fiz essa ação, vejo o mundo diferente”, conta. A preocupação com o outro é levada em conta quando Milene precisa mexer em sua equipe. “A atividade pesa no currículo do profissional”, sentencia.

E se o candidato conseguir um emprego destacando o voluntariado é preciso ficar atento. Segundo Marillac de Castro, esses profissionais podem ser convidados para participar de projetos dentro da companhia. “Existem empresas que desenvolvem ações sociais e podem pedir a participação dos funcionários. Por isso, existe a importância de não realizar essas atividades apenas para impressionar o empregador”, avisa.

Lorena Menezes, 21 anos, até quer encher os olhos dos chefes, mas no futuro. A estudante de psicologia da Universidade de Brasília é voluntária do Abrigo Nosso Lar. Há seis meses, nas quintas-feiras, é possível encontrá-la brincando com as crianças ao mesmo tempo em que desenvolve suas habilidades profissionais. “Com esse trabalho, posso colocar em prática tudo o que aprendemos em sala de aula. É uma experiência que, com certeza, vai para o meu currículo”, avalia.

Faça a coisa certa

» Antes da entrevista, pesquise se a empresa tem algum tipo de programa social. Às vezes, ações voluntárias não fazem diferença para a organização. Nesse caso, é melhor nem falar sobre elas

» No currículo, informe o trabalho voluntário no campo destinado a outras atividades

» Não tente impressionar o recrutador inventando que participa de projetos sociais. O ideal, inclusive, é que você detalhe a experiência, informando o que fez, em que período e em que instituição

» Se não tiver experiências voluntárias, não fique com medo de assumir isso. Lembre-se de que a atividade não é obrigatória. E se houver interesse em fazê-la, comente a sua intenção, sabendo que você pode ser convidado a participar de projetos da empresa

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Consumir folhas verdes reduz risco de diabetes, diz estudo


Consumir mais vegetais verdes, como espinafre e outros vegetais folhosos, pode reduzir o risco de se desenvolver diabetes tipo 2, revelou um estudo publicado esta sexta-feira no British Medical Journal (BMJ).

A pesquisa entra em um campo controverso e seus autores alertam que é preciso mais pesquisas para confirmar as descobertas.

Uma equipe de cientistas chefiada por Patrice Carter, da Universidade de Leicester (centro da Inglaterra), revisou seis estudos feitos com 200 mil pessoas que exploraram o vínculo entre o consumo de frutas e vegetais e o diabetes tipo 2, normalmente ativada na idade adulta.

Comer uma ou meia porção extra de vegetais verdes reduziria em 14% o risco de desenvolver diabetes, mas ingerir mais frutas e vegetais combinados demonstrou ter um impacto desprezível.

O diabetes tipo 2, a forma mais comum da doença, se espalha rápido entre os países de economias em desenvolvimento, à medida que suas populações adotam uma dieta rica em gorduras e açúcar, e seguem um estilo de vida sedentário.

Mais de 220 milhões de pessoas de todo o mundo são afetadas pela doença, que mata mais de um milhão de pessoas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). À medida que aumenta a taxa de obesidade, o número de mortes poderá dobrar entre 2005 e 2020, acrescentou a OMS.

A alimentação e a prática de exercícios são formas de prevenção conhecidas, mas quais alimentos funcionam melhor e porquê permanecem questões sem resposta, em face dos poucos estudos realizados sobre qualidade.

A equipe de Carter sugere que os vegetais de folhas verdes são úteis porque são ricos em antioxidantes e magnésio. No entanto, é preciso realizar mais estudos para sustentar esta afirmação.

Em um estudo separado, publicado na quarta-feira no British Journal of Pharmacology, cientista chineses informaram que um composto extraído de várias ervas chinesas ajudaram a reduzir o impacto do diabetes tipo 2 em camundongos.

O composto, conhecido como emodina, inibe a enzima chamada 11-Beta-HSD1, que desempenha um papel na resistência à insulina, hormônio que ajuda a remover o excesso de açúcar do sangue.
Segundo o artigo, a emodina pode ser extraída das ervas chinesas ruibarbo (Rheum palmatum) e fallopia japônica (Polygonum cuspidatum), entre outros.

"Os cientistas precisariam desenvolver elementos químicos que têm efeitos similares aos da emodina, e estudam quais deles poderiam ser usados como medicamento terapêutico", disse Ying Leng, do Instituto de Matéria Médica de Xangai.

O diabetes é controlado com injeções de insulina e a adoção de uma dieta de controle dos níveis de açúcar. Se não for controlada, a doença pode provocar problemas cardíacos, cegueira, amputações e falência renal.

Frace Presse
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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Crianças que têm hábito de ler se saem melhor nos primeiros anos de estudo


Isso ocorre porque, estimulando o interesse pelo significado das palavras, os pais colaboram para o desenvolvimento.

A relação da pequena Maria Beatriz Aureliano Bento, 3 anos e meio de idade, com os livros começou antes mesmo de a menina saber que eles existiam. Enquanto ainda estava na barriga da mãe, a pedagoga e professora Elem Carine da Silva Aureliano, 30 anos, ela já era acalentada por cantigas infantis e pelas histórias que o pai contava, mudando as vozes de acordo com o personagem. Depois de nascer, o vínculo se estreitou. Ela ganhou um livro feito de espuma, chamado Os sons do bebê, que reproduz barulhos familiares aos recém-nascidos. O livrinho ajudou-a a explorar os sentidos, até aprender a interpretar, a seu modo, as historinhas que ele contém. Hoje, muitas histórias depois, a menina é exemplo dos benefícios da leitura para crianças que nem sequer deixaram as fraldas.

Na hora de reconhecer a capacidade intelectual da filha, Elem Aureliano não poupa boas referências. “Ela se comunica com adultos e crianças, o vocabulário está além do normal para a faixa etária e, na escola, os professores dizem que a Maria Beatriz está à frente dos coleguinhas”, contou. E o orgulho materno não é infundado: antes de completar quatro anos, a menina já reconhece todas as letras, sabe identificar os nomes dos pais e tem noções de quantidade. Também consegue associar as letras a palavras que fazem parte do seu cotidiano. Entusiasmada com o universo que se descortina nos livros, ela aproveita os momentos de leitura da família para carregar seus livrinhos para perto dos pais. Aconchegada a eles, a pequena passa os dedinhos sobre as linhas da história, como se já estivesse lendo perfeitamente.

O bom desempenho escolar e a aceleração no aprendizado não são as únicas vantagens de quem se apega, desde cedo, ao hábito de ler. Segundo o psicólogo e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, a leitura é uma das formas mais eficazes de dar às crianças um vocabulário mais rico e o contato com uma sintaxe mais complexa. O Alfa e Beto é uma organização não governamental focada em políticas de educação. “Ainda é um processo agradável, que reforça a afetividade com a família. Além disso, vocabulário é conceito, e quanto mais se tem, mais ideias variadas se pode expressar. A sintaxe da escrita é diferente da oral e permite uma forma de pensar mais complexa e rica”, considerou.

Aprendizado
Engana-se quem pensa que textos escritos não são proveitosos para crianças ainda não alfabetizadas. Antes mesmo de dar significado à sopa de letrinhas que visualiza nas páginas, a meninada aprende a segurar um livro, entende a direção da leitura, ganha familiaridade com as sequências que compõem uma história e ainda tem contato com uma explosão de palavras e frases. “Quando está na barriga da mãe, o bebê já ouve sons, reconhece a cadência e a sonoridade das falas e até identifica o sotaque dos pais”, ressaltou Oliveira. Nessa fase, a linguagem é uma forma de transmitir calma e serenidade ao feto.

Entre quatro e cinco meses de vida, o bebê já leva os objetos à boca, até mesmo os livros, e foca a atenção em figuras nítidas. Nessa fase, ele acompanha o olhar dos pais e começa a emitir os primeiros sons que capta. Por causa do hábito de levar os objetos à boca, os livros devem ser adequados para serem folheados na água e precisam ter as pontas arredondadas, para evitar machucados. Apesar de não apreender o conteúdo, o bebê já consegue entender que existe uma linguagem. Por volta de oito meses de idade, ele começa a se interessar por fotos, formas, figuras e cores. “O mais importante nesse momento não é ensiná-lo, mas entretê-lo”, reforça o especialista.

Mas não basta estimular a inteligência, é preciso escolher as ferramentas corretas. Na fase em que crianças ainda não são íntimas do alfabeto, a literatura escolhida pelos pais deve conter cantigas, rimas, sonoridade variada e aliterações, que prendem a atenção ao ritmo. Depois de seis meses de idade, o interesse se expande para figuras de animais, imagens de outros bebês e objetos familiares. A partir dessa etapa, a criançada se fixa nos hábitos e nas atitudes que ajudam a criar uma rotina.

Desempenho superior
Segundo o presidente do instituto, estudos internacionais apontam que crianças com forte relação com os livros aos três anos de idade apresentam, aos 10, desempenho escolar superior ao de alunos que não receberam o mesmo estímulo. Outro levantamento aponta uma grande diferença de habilidade na fala entre as diferentes classes sociais. Há ainda um indicador que destaca que a quantidade de palavras que uma criança consegue entender aos seis anos de idade está intimamente relacionada com as notas que irá tirar na escola. Quanto mais palavras, mais motivos de se orgulhar do boletim.

Para difundir essa política da leitura no Brasil, o IAB está organizando um ciclo de debates, batizado de leitura desde o berço: políticas sociais integradas para a primeira infância em cinco capitais do país: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA), Maceió (AL) e Recife (PE). Em Brasília, a data prevista é o dia 17 próximo. Todos os eventos serão realizados até o dia 22 e contarão com a presença de dois especialistas norte-americanos. Doutor em educação pela Universidade de Harvard e especialista em alfabetização, David Dickinson apresentará estudos científicos que relacionam a leitura precoce e o desenvolvimento da linguagem. Já a pediatra, pesquisadora, jornalista e escritora Perri Klass abordará os métodos de leitura para crianças de forma a oferecer os estímulos mais adequados a cada idade. Ela também trata do desenvolvimento de programas específicos para esse fim.

Em São Paulo, a ONG ainda fará o lançamento da Biblioteca do Bebê, dentro da Bienal Internacional do Livro, de que se realiza até o dia 22 deste mês. Nesse espaço, os pais poderão ver demonstrações de técnicas eficientes de leitura para crianças de até quatro anos. No mesmo evento, serão distribuídas cartilhas que ensinam diferentes modos de ler para crianças e uma coleção de livros será lançada. Outra novidade que promete animar os pais é o lançamento do catálogo Guia IAB de leitura para a primeira infância: os 600 livros que toda criança deveria ler antes de entrar na escola. “Queremos rever esse guia a cada dois ou três anos, separar por idade e ajudar os pais a escolherem variedade e tipo de livro, procurando contemplar livros não literários”, assegurou João Batista Oliveira.

Repetição
Aliteração é uma figura de linguagem que consiste em repetir sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma frase, especialmente as sílabas tônicas. A aliteração é largamente utilizada em poesias, mas também pode ser empregada em prosa, especialmente em frases curtas. Um exemplo famoso é a frase: “O rato roeu a roupa do rei de Roma”.

A importância de ler para os pequenos
» O hábito ajuda a desenvolver atenção, concentração, vocabulário e memória.
» Cria um tempo de diálogo com os pais, mesmo que a criança ainda não fale.
» Ensina a identificar e a brincar com os sons das palavras.
» Desenvolve a curiosidade, a imaginação, a criatividade e a complexidade dos sonhos.
» Ajuda a perceber os próprios sentimentos, os de outras pessoas e a lidar com emoções e estresse.
» Amplia o conhecimento sobre o mundo, as pessoas, as formas, as cores e as quantidades.
» Faz conhecer históriasreais e imaginárias.
» Usa a linguagem mais próxima da linguagem dos livros e da escola.
» Ajuda a falar de livros, pessoas,coisas e situações que não se encontram aqui e agora.
» Faz perceber que os livros oferecem momentos de aprendizagem e diversão.
» Adquirire o hábito de ouvirhistórias e de ler.
» Faz pensar e desenvolver o raciocínio.
» Ajuda a adquirir conhecimentos que contribuirão para seu sucesso escolar futuro.

Como familiarizá-los com os livros:
» Leia conversando. A leitura deve ser envolvente, interativa.
» Deixe a criança pensar, falar e perguntar.
» Estimule a observação das imagens e, aos poucos, das palavras.
» Deixe a criança manusear o livro e virar as páginas do jeito dela.
» Faça perguntas e ouça as respostas da criança. Estimule, bata palmas, sorria, elogie as reações dela.
» Repita o que ela diz e acrescente uma informação nova. Se a criança diz “bola”, diga, por exemplo: “bola bonita” ou “bola vermelha”.
» Responda fazendo novas perguntas: “A menina foi embora. Para onde será que ela foi?”.
» Dê um tempo para a criança observar e pensar, antes de responder.
» Leia exatamente o que está escrito. Esteja preparado para ler e reler os mesmos livros. As crianças levam tempo para aprender e adoram repetições.
» Leia com atenção, entusiasmo e entonação adequada ao texto.
» Imite sons, faça barulhos variados.
» Leia segurando a criança no colo, no sofá, no chão, onde for mais adequado.
» Converse antes e depois de ler. Como será o livro? O que será que vai acontecer nessa história? De que você mais gostou nesse livro?
» Explore os sentimentos e as emoções. Diga o que você sente e estimule a criança a dizer o que ela está sentindo.
» Fique atento às reações. Mesmo sem falar, elas dão sinais sobreo que gosta de ver e ouvir.
» Guarde os livros ao alcance da criança.
» Ensine-a a escolher, pegar, buscar, guardar e cuidar dos livros.
» Leia sempre que a criança pedir. Se não puder naquela hora, combine outro horário.
» Estabeleça pelo menos um ou dois horários em que você vai ler para ela todos os dias. É dessa maneira que se forma o hábito.
» Leia seus poemas favoritos, cante cantigas, converse com o bebê.
» Há livros de pano e de plásticoque podem fazer parte das brincadeiras na banheira.
» Enquanto a criança come, conte histórias e mostre figuras.
» Antes de dormir, leia de forma pausada, tranquila, com ritmo mais lento.

Conheça maisPágina do instituto: http://www.alfaebeto.org.br/

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Novo passo é dado para vacina contra a febre reumática


Equipe de pesquisadores do Incor anuncia ter conseguido sucesso de 100% nos testes, em animais, de substância imunizante contra a doença, que atinge cerca de 15 milhões de crianças a cada ano. Próximo passo será o experimento com humanos.
O Brasil está bem próximo de obter uma vacina contra a bactéria que causa a febre reumática, uma doença autoimune responsável por problemas cardíacos em cerca de 15 milhões de crianças todos os anos, no mundo inteiro. Depois de 20 anos de intensos estudos, os pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), ligado ao Hospital das Clínicas de São Paulo, conseguiram obter sucesso de 100%, nos testes com animais. No fim de 2011, poderão começar os primeiros testes em seres humanos. “É uma vitória para a medicina. Se tudo der certo com os ensaios clínicos em seres humanos, essa vacina servirá de modelo para outros imunizantes contra doenças autoimunes”, diz Luíza Guilherme, pesquisadora e doutora em imunologia, que está à frente do projeto no Incor.

A febre reumática é uma doença decorrente de uma infecção na garganta provocada pela bactéria Streptococcus pyogenes, que tem reflexos no coração (veja infografia). A infecção promove a produção de anticorpos que atacam a bactéria e, ao mesmo tempo, atingem tecidos saudáveis do corpo. “As proteínas da S. pyogenes são muito semelhantes às proteínas do coração, das articulações e do sistema nervoso central, daí o comprometimento da atividade cardíaca provocado pela doença”, explica o cardiologista e coordenador do Laboratório de Valvupatia do Incor, Max Grinberg. Segundo ele, a bactéria não causa diretamente a doença, mas desencadeia um processo que faz o organismo voltar-se contra si mesmo.

De acordo com Luíza Guilherme, esse processo ocorre porque as células do sistema imune aprendem a combater a proteína M, presente na superfície da S. pyogenes, mas a confundem com proteínas dos tecidos cardíacos e das articulações. “A bactéria pode até ser eliminada do organismo, mas o sistema imunológico acredita que ela esteja no corpo e ataque os tecidos, provocando a febre reumática”, disse a coordenadora do projeto.

Para fazer uma vacina contra a bactéria, os cientistas do Incor buscaram o máximo de conhecimento para saber como essa doença ocorre no organismo. Eles procuraram por um trecho que sensibilizasse as células de defesa contra a S. pyogenes. Para isso, estudaram uma região de 100 aminoácidos na base da proteína M. “Ela é comum em todos os estreptococos que causam a frebre reumática. Até onde se sabe, essa região não induz resposta de autoimunidade”, conta Luíza Guilherme. Ou seja, essa base varia muito pouco nas cerca de 200 cepas (o equivalente bacteriano a raças) da bactéria e não induz os linfócitos a destruírem proteínas do corpo humano.

A partir dessa região, os pesquisadores identificaram 55 resíduos de aminoácidos, que formam uma proteína, e com elas fizeram 79 peptídeos (pedaços de proteína). Enquanto isso, recolheram amostras de linfócitos T de 260 pessoas e soro do sangue de 620 pessoas — que mede a reatividade dos linfócitos B. “Quando a pessoa tem uma doença autoimune, ela é causada tanto pela ativação do linfócito B quanto do T, só que de uma forma inadequada. A busca da vacina foi ter uma resposta desses linfócito T e de anticorpos produzidos pelo linfócito B que não causassem a febre reumática”, explica Luíza Guilherme.

Depois das análises, os cientistas do Incor encontraram na proteína M um trecho capaz de induzir o corpo a produzir anticorpos contra a bactéria e passaram a testá-las em animais. “Essa região tem um potencial de produzir anticorpos que, aparentemente, têm capacidade protetora”, afirma a coordenadora do projeto.

Eficácia
Os testes foram feitos em diferentes linhagens de camundongos e todos eles produziram altos títulos de anticorpos. Em dois testes diferentes, camundongos foram vacinados e receberam uma quantidade de bactérias que normalmente seria suficiente para matá-los. Em ambos os testes, os camundongos não desenvolveram a febre reumática. “Observamos que esses animais produziam altos níveis de anticorpos, tinham reatividade do linfócito T, mas não reconheciam proteínas de tecido cardíaco”, diz Luíza Guilherme.

Após os resultados, os pesquisadores resolveram testar a eficácia em pequenos porcos, de 20kg a 30kg, que, do ponto de vista biológico, são próximos aos seres humanos. Como esses animais não desenvolvem a febre reumática, foi injetada uma dose alta com bactéria nos animais, para que fosse desenvolvido um tipo de abcesso. Nos testes com seis porcos, foram obtidos altos níveis de anticorpos e nenhum tipo de reação adversa foi encontrada nos órgãos analisados. “Os resultados nos mostraram que há uma grande chance de que possamos induzir nos humanos uma boa proteção, sem causar reações adversas e autoimunidade”, comemora a doutora em imunologia.

Para que a expectativa quanto aos testes em humanos se concretize, os cientistas estão envolvidos, agora, com a preparação da documentação que será submetida à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Estamos preparando os documentos necessários exigidos pelas leis que regulamentam medicamentos testados em humanos, para dar início aos ensaios clínicos. Como é uma vacina que será aplicada em crianças, os testes devem demorar até cinco anos”, informa Luíza Guilherme. Os ensaios, feitos em voluntários, vão mostrar com qual intensidade a vacina é capaz de induzir uma resposta no corpo humano e as reações que pode provocar.

A febre reumática atinge, principalmente, crianças, a partir de 5 e 6 anos, e adolescentes, e começa com uma infecção na garganta. Se o problema não for tratado, o paciente fica com sequelas. Entre 1% e 5% das crianças adquirem dores nas articulações. Dessas, entre 30% e 40% acabam desenvolvendo problemas cardíacos. “Quando partes do tecido cardíaco já foram destruídas, o paciente pode ser salvo somente por meio de uma cirurgia — em geral, de troca das válvulas mitral ou aórtica, com alto custo e possíveis sequelas”, explica Max Grinberg.

Silvia Pacheco
Correiobraziliense.com.br

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Monteiro Lobato e Clarice Lispector são homenageados na Bienal do Livro


Principais temas desta Bienal, os escritores Monteiro Lobato e Clarice Lispector nortearão toda a programação do evento.

Amanhã, no espaço do Palco Literário, acadêmicos da Academia Paulista de Letras realizam uma mesa para debater vida e obra de Lobato. Entres os convidados estão Lygia Fagundes Telles e Ruth Rocha.

O criador da boneca Emília volta à cena na terça, dia 17, com a mesa "Reinações de Monteiro Lobato", que trará especialistas na produção infantil do autor.

Além de uma exposição com objetos pessoais e sua obra completa, as receitas citadas nos livros de Lobato serão assunto no dia 20 no "Cozinhando com Palavras", setor da Bienal dedicado à gastronomia.

Já Clarice será o tema da mesa que une, no sábado 14, o americano Benjamim Moser, autor de biografia sobre a escritora, e a atriz Beth Goulart, que representou Clarice no teatro. No domingo, autores comentam seus trechos prediletos da autora de "Perto do Coração Selvagem".
Segundo o conselho curatorial da feira, instituído neste ano, a escolha de ambos reforça o caráter cultural do evento.

"Nos últimos anos, a Bienal tinha perdido um pouco da consistência. A proposta da curadoria foi conciliar a ideia de encontro do mercado editorial, que é o foco do evento, com uma bagagem culturalmente relevante", diz Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha e curador do Salão das Ideias.

MARCO RODRIGO ALMEIDA
Folha.com.br

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Programa ajuda a descobrir e a trabalhar talentos de crianças e adolescentes superdotados

Eles nem sempre encontram chance de desenvolver suas capacidades em um esquema tradicional de ensino. O resultado de uma dessas turmas poderá ser visto em exposição na Asa Sul.
Em vez do habitual quadro-negro, a parede é ocupada por pinturas de animais, naturezas-mortas e paisagens bucólicas com casinhas envoltas em muito verde. A sala de aula mais parece um ateliê, com pilhas de telas ainda brancas, pincéis e bisnagas cheias de tinta. “Quando cheguei, só fiquei assim, olhando”, recorda Danilo Cabral, de 10 anos, arregalando os olhos. Ele é o calouro de uma classe especial, formada por crianças e adolescentes, entre sete e 18 anos, donos de um talento incomum em artes plásticas.

Os jovens participam do Atendimento Educacional Especializado ao Estudante com Altas Habilidades/ Superdotação, programa da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). A turma de Danilo, que se reúne na Escola Classe 57, em Ceilândia, está preparando uma exposição de seus trabalhos a ser inaugurada no próximo dia 18, no Espaço Cultural Ary Barroso (Sesc Estação 504 Sul). “Haverá obras com técnicas e temas variados, por causa da diversidade de habilidades que os alunos possuem”, revela a professora Sandra Machado.

Entre os garotos e garotas, há quem se dê melhor com grafite, lápis aquarelado ou tinta a óleo; desenhos de moda, paisagens ou retratos. O novato Danilo ainda está se habituando. Para ver o que ele sabe, a professora deixa que o menino rabisque o que lhe vier à cabeça. “Ele nos foi indicado por uma professora que viu que ele desenhava muito bem”, diz Sandra. Após traçar um jardim bravio com rosas espinhentas e um singelo Pato Donald, Danilo apanhava mais uma folha de papel. “Acho que vou aprender mais sobre arte. Quero ficar bastante tempo, até conseguir fazer parecido com essas aí”, aponta as pinturas na parede. “Soube que vai ter competições e quero vencer pelo menos uma delas”, ambiciona.

Exemplo
Danilo pode se espelhar em Wllyson Santos, 16 anos. Aluno de Sandra desde 2007, ele ganhou o concurso Brincado com arte do ano passado, promovido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Entre os prêmios que já recebeu, estão materiais de pintura, como cavaletes, e bolsas de cursos de desenho. De vez em quando, vende um quadro ou outro por R$ 50 ou R$ 100. “Eu quero ser estilista. A professora me disse que tenho muita chance de chegar lá”, afirma.

Antes de se matricular na turma especial, Wllyson saía desenhando. A inspiração? “Qualquer coisa, o que me desse na telha.” Conseguiu dar ordem a seus impulsos criativos e ficou mais confiante. “Perdi a vergonha de pintar. Antes escondia meus desenhos, com receio de dizerem que estava malfeito”, conta. O ex-caladão celebra a turma de que faz parte. “Se não existisse esse grupo, ia ficar cada um no seu lado. A gente tem que expressar o que sente e divulgar nosso trabalho”, defende.

Ciente da própria vocação, Wllyson recebe o apoio dos pais. “Eles dizem para eu nunca desistir, se é mesmo o que quero”, conta. Edilson José Ferreira, 17 anos, seguiu em frente mesmo após deixar a turma de superdotados, quando concluiu o ensino médio. Ele vai concorrer a uma vaga no curso de artes plásticas da Universidade de Brasília (UnB). Após passar na prova de habilidade específica, aguarda a próxima etapa do vestibular. “Estou estudando, vamos ver o que é que vai dar.”

Se não tivesse feito parte da classe de Sandra, Edilson diz que, provavelmente, não teria escolhido trabalhar com arte. “Turmas como aquela motivam as pessoas. Tem muita gente que desenha bem, mas fica no anonimato”, acredita. Quando se formar, ele planeja ser professor de escola pública. “Acho que, onde eu lecionar, vou mudar bastante coisa; quero fazer as pessoas gostarem de artes plásticas”, prevê. Ele vai tomar a antiga professora como exemplo. “Sandra é diferente das outras. Ela corre atrás, procura concurso para a gente participar, organiza exposição. Isso demonstra dedicação”, elogia. A professora fala dos alunos com carinho, mesmo dos que saíram antes do tempo. “Alguns começam a trabalhar cedo e precisam ir embora. Teve um que foi uma pena: foi ser empregado de um supermercado, tinha uns 15 anos. Ele era ótimo, chegou a ser premiado”, lembra. A classe que ela orienta, composta por cerca de 40 estudantes, é apenas uma das incluídas no programa de atendimento a alunos superdotados.

Ajuda sempre é bem-vinda
O projeto foi criado em 1976 pela SEDF e ganhou novo alento em 2005, quando o Ministério da Educação criou os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades. Atualmente, o DF conta com cerca de 2 mil estudantes inscritos. “Uma das nossas metas é tornar visível a necessidade de educação especial para esses alunos”, afirma a coordenadora de Altas Habilidades do DF, Olzeni Ribeiro.

O programa é dividido em duas áreas: a de Talentos, que inclui artes plásticas, artes cênicas, produção de vídeo e fotografia; e a Acadêmica, que compreende as disciplinas de matemática, química, física, mecânica, mecatrônica, robótica e até gastronomia. As escolas participantes do programa possuem salas de recursos, como a da Escola Classe 57 de Ceilândia, onde ficam os materiais utilizados pelos alunos. As turmas costumam reunir estudantes de diferentes escolas e, às vezes, até de cidades distintas. Vinte por cento das vagas são reservadas para jovens matriculados na rede particular. “Às vezes eles avançam tanto que a escola não dá mais conta. Por isso, precisamos criar parcerias com laboratórios, universidades, empresas”, destaca Olzeni.

“Os professores são orientados sobre como identificar esses alunos especiais, que são muito criativos e inovadores”, explica a coordenadora, que reclama da carência de recursos. Segundo ela, o orçamento destinado à rede pública de ensino do DF não prevê verba alguma para o programa. “Os diretores mais sensíveis acabam pegando parte do material que ia para o ensino regular em suas escolas e dão para as turmas especiais. Porém, há tipos de material muito específicos, difíceis de se obter”, lamenta.

Também falta ajuda de custo para o transporte, o que desestimula alunos de outras escolas. “Eu já perdi alunos que moravam longe, os pais não tinham como trazer”, observa a professora Sandra. Ela diz que o trabalho depende de doações. “Temos muitos parceiros, como o Sesc e a Codevasf. Os doadores particulares são poucos”, comenta. Após serem utilizadas, algumas telas são pintadas de branco para novo uso. Mesmo assim, às vezes os artistas mirins precisam recorrer a velhos discos de vinil. “Em nossas exposições, botamos os quadros à venda. Metade do dinheiro vai para o aluno, a outra parte fica para a compra de material”, revela Sandra, que complementa: “Ele são acostumados com essa coisa improvisada, não se incomodam, o que querem é pintar”.

EXPOSIÇÃO:
SUPERDOTADOS. COM TRABALHOS FEITOS POR ALUNOS DA ESCOLA CLASSE 57, DE CEILÂNDIA.
A partir do dia 18, com visitação até o dia 29, sempre das 9h às 21h. No Espaço Cultural Ary Barroso (Sesc Estação 504 Sul – W3 Sul, 504/505, Bloco A). Informações: 3217-9101

Correiobraziliense.com.br

Exame de hálito poderia detectar vários tipos de câncer, diz estudo

Um exame de hálito, tão barato quanto um teste de alcoolemia, pode permitir detectar o câncer de pulmão, de mama, de intestino ou próstata, garante estudo publicado nesta quarta-feira pela revista britânica The British Journal of Cancer.

Os testes feitos em 177 voluntários afetados ou não por diferentes tipos de câncer mostraram que um teste de hálito pode reagir a compostos químicos que as células cancerosas emitem e estabelecer, independentemente da idade e do sexo dos pacientes, de que tipo de câncer se trata.
Os cientistas do Instituto Tecnológico Technion de Israel já tinham anunciado há um ano que um teste de hálito poderia permitir detectar um câncer, mas só fizeram análises muito preliminares que só confirmaram a detecção do câncer de pulmão.

Os testes publicados nesta quarta confirmam a detecção possível de cânceres, ampliando-se para os de mama, intestinos e próstata.

"Este estudo mostra que um 'nariz eletrônico' pode distinguir uma respiração saudável de uma maligna, assim como detectar os diferentes tipos de câncer", disse o professor Abraham Kuten, do instituto situado em Haifa (norte de Israel).

"Se pudemos confirmar estes resultados preliminares com estudos mais profundos, esta nova tecnologia poderia se tornar uma ferramenta simples para um diagnóstico precoce", acrescentou.

Da France Press
Folha.com.br

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pesquisadores confirmam que os homens são capazes de manter a fecundidade mesmo após os 60 anos

Para isso, é necessário praticar exercícios e se alimentar bem.
O ator e cineasta Charles Chaplin foi pai aos 73 anos. O humorista Renato Aragão presenciou o nascimento da filha caçula aos 64 anos. O cantor britânico Rod Stewart, 65, anunciou ontem que vai ser pai pela sexta vez. A chance de ter um filho depois dos 50 não é privilégio de poucos, mas de todos os homens. Ao contrário do que acontece com as mulheres, a fertilidade masculina não diminui quando a idade aumenta. Eles têm a capacidade de produzir espermatozoides até o fim da vida. Cientistas conseguiram comprovar que a qualidade do sêmen pode sofrer alterações com a velhice, porém isso não causa infertilidade. Para quem tem uma alimentação saudável, pratica exercícios físicos regularmente e está longe dos excessos, a longevidade do sêmen é ainda maior.

Depois de dois filhos bem criados e um neto, Armando da Silveira Filho nunca poderia imaginar que seria pai de novo, aos 68 anos. “Foi uma surpresa maravilhosa. É um sentimento incrível ter um filho nessa altura da minha vida. Estou revivendo momentos como o primeiro banho. É como se a vida tivesse recomeçado. Estou muito feliz”, conta o aposentado. Samuel, que tem apenas um mês e meio, é fruto do terceiro casamento de Armando e revolucionou a rotina do chefe da família, que aproveita bem a paternidade depois de mais de 20 anos. “Me sinto renovado, ganhei uma injeção de ânimo. Vejo tantas pessoas mais novas sem força para viver, desanimadas e a paternidade me rejuvenesceu. Me sinto privilegiado por estar vivendo esses momentos com os meus filhos e neto”, diz.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Verhum de Brasília conseguiu demonstrar que a idade do homem não influencia negativamente a fertilidade. “Com a velhice, sabemos que o número de espermatozoides diminui e a mobilidade também. Mas isso não é determinante para a capacidade de ter filhos. Afinal, passar de 50 milhões a 10 milhões de células não fazem tanta diferença no momento da reprodução”, afirma o pesquisador Vinícius Medina Lopes, que integra o grupo de estudo.

Os dados do trabalho foram coletados entre agosto de 2003 e dezembro de 2008, com dois grupos de pacientes, com menos e mais de 40 anos, em duas instituições de reprodução assistida no Brasil, e os resultados conseguiram comprovar a teoria.

Hábitos saudáveis
O homem nunca deixa de produzir células reprodutivas. Para as mulheres, o processo começa a diminuir a partir dos 35 anos até atingir a menopausa. “Os espermatozoides são produzidos durante a vida toda. É claro que pode acontecer alguma alteração na parte hormonal masculina, mas não existe um momento que a função reprodutora termine”, explica o andrologista do instituto Eduardo Pimentel.

No auge dos seus 69 anos, o aposentando Sinfrônio André diz que “está com tudo”. “Ainda dou muito trabalho para a minha mulher”, brinca o comerciante aposentado. Ele teve o primeiro filho em 1972 e o último em 1998, quando tinha 57. “Tive três meninos no meu primeiro casamento, me divorciei, casei com uma mulher 20 anos mais nova e então tivemos o Tiago. A fertilidade não piora com a idade, só melhora”, garante. Para Sinfrônio, a paternidade tardia deve ser não só comemorada como incentivada. “É uma maravilha! Meu filho mais novo tem 12 anos, e na aposentadoria ele me faz companhia e me ajuda bastante”, diz o pai coruja.

Hábitos de vida podem ajudar ou atrapalhar a fertilidade masculina. Quase metade dos homens inférteis não consegue descobrir a causa de não poder ter filhos e os especialistas acreditam que a culpa seja de um rotina pouco saudável. “Hoje em dia, nós sabemos que a prática da promiscuidade e a falta do uso do preservativo, para se defender de infecções, podem causar infertilidade. O tabagismo, o alcoolismo e o consumo de drogas e anabolizantes também são prejudiciais”, comenta Pimentel. Algumas doenças sexualmente transmissíveis podem causar a infertilidade, por exemplo a varicocele — dilatação das veias dos testículos.

Poluição e obesidade atrapalham reprodução
Por outro lado, uma alimentação saudável e a prática de exercícios podem trazer muitos benefícios. “A fertilidade está ligada à produção do sêmen e isso envolve a parte hormonal, o comportamento e os costumes alimentares. Uma dieta rica em vitaminas e antioxidantes pode melhorar a concentração e a qualidade dos espermatozoides. Recentemente foram feitos 11 estudos que ligam a obesidade à alteração da produção de células reprodutivas”, analisa Bruno Schesser, diretor do Instituto Brasileiro de Reprodução Humana Assistida (Ibrra).

Alguns fatores, considerados raros, também podem influenciar a fertilidade masculina. A poluição do ar, principalmente para os homens que trabalham com produtos químicos, pode diminuir a qualidade do espermatozoide. Além disso, o velho mito de que calça muito apertada também pode atrapalhar o funcionamento do órgão reprodutivo é verdadeiro. “A temperatura influencia muito nesses caso. Também não é recomendado o uso contínuo de saunas e ôfuros”, diz Pimentel.

A melhor forma de descobrir a existência ou não de um problema de fertilidade é fazer um espermograma. O exame avalia a quantidade e a qualidade do espermatozoide. Não existe uma recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia sobre quando ele deve ser feito, mas muitos casais o colocam na lista de exames pré-nupciais. “Geralmente, recomendamos o teste quanto um casal tenta ter filhos e não tem sucesso depois de seis meses. Pode ser constrangedor para alguns homens, mas é um exame muito simples . E sempre vale a pena procurar um especialista”, aconselha o andrologista.

Depois de tentar ter filhos sem sucesso, Sandro Rodrigues, 36 anos, passou por todo o processo para chegar até ao diagnóstico. “É um situação muito penosa para o casal. Para o homem, a pressão é muito grande e tem aquela coisa do machismo em relação a isso. É preciso passar pelo desconforto do espermograma e pela coleta”, comenta o administrador. O lado psicológico também fica muito abalado. “Tem que estar com a cabeça muito boa, porque senão vai tudo por água baixo”, acrescenta.

A mulher dele, Janice, tem problemas de ovulação e isso impossibilita a gravidez. Foram quase nove anos, três fecundações in vitro e duas inseminações até a chegada de Maria Vitória, hoje com 1 ano e 3 meses. De acordo com o diretor do Ibrra, é importante não perder tempo.

Espermograma
Homens que pretendem ter filhos, no presente ou mesmo em um futuro distante, devem fazer o exame. “O interessante na vida é ter opções. O espermograma deve ser encarado com um exame de rotina. Mesmo com o resultado nas mãos, ele precisa ser repetido depois de três meses. Isso evitaria desgastes e momentos de angústia para o casal e ajudaria em um possível tratamento de fertilidade”, afirma Schesser. “E mais: se um homem tiver varicocele pode correr o risco de doença ir piorando a cada ano; quanto mais cedo ele for tratado, melhor”, sugere.

Tatiana Sabadini
Correiobraziliense.com.br

Ecoinformática, barata e eficiente


Em tempos de crise energética, a solução para o futuro passa pela economia e a rapidez nos processos rodados nas máquinas do cybermundo. Uma das alternativas adota o conceito de computação verde, já em uso na UnB.

Não é difícil ficar impressionado com a capacidade de processamento dos computadores atuais. As máquinas de hoje em dia conseguem fazer milhares de operações por segundo, abrindo possibilidades de cálculo e comparações antes inimagináveis para o homem. Mas toda essa parafernália é responsável por um enorme consumo de energia elétrica. Para se ter uma ideia, os servidores do Google nos Estados Unidos respondem por 2% do gasto com eletricidade em todo o mundo. “O atual paradigma da computação é extremamente ineficiente. A computação precisa ser reinventada”, afirma o professor Reiner Hartenstein, da Universidade de Kaiserslautern, na Alemanha.

Reiner é considerado o pai da chamada computação verde, conceito que prega o uso de novos processos na engenharia de software para aumentar o desempenho e a economia de energia elétrica. Quase todos os computadores funcionam com base no modelo de von Neuman. John von Neumann foi um matemático húngaro que, por volta da década de 1940, unificou tudo o que se sabia até então sobre a computação.

Grosso modo, ele definiu um método, uma forma de organizar o funcionamento das máquinas que é usada até hoje. Segundo esse padrão, o computador deve rodar a partir de instruções, uma após a outra, desde o usuário até o processador. Só que esse caminho é longo, as instruções precisam passar por várias camadas de software até que cheguem ao núcleo do PC na linguagem que ele entende, a binária (1).

Essa lógica é demorada e dispendiosa. “As instruções têm que ser processadas no processador, mas elas estão na memória e tudo tem que ser feito passo a passo, sequencialmente”, detalha o professor Carlos Llanos, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Brasília. Ele é um dos professores da UnB que aposta em uma tecnologia mais eficiente. O FPGA (Field Programmable Gate Array, na sigla em inglês) é um dispositivo de hardware programável. Esse tipo de placa, que existe no mercado desde 1984, permite que as instruções sejam inseridas diretamente no hardware, na parte física do computador.

DifusãoCom esse dispositivo programado para fazer determinadas tarefas, elimina-se a parte de mandar instruções, uma vez que essas já foram codificadas na placa. Se, por exemplo, nos atuais computadores, um comando gera 50% de dados e 50% de instruções, com o FPGA ficariam somente os 50% relativos aos dados, ou seja, o fluxo de informações seria reduzido pela metade e, consequentemente, haveria menos gasto com energia elétrica. Além disso, o processamento também ficaria mais rápido. Hartenstein acompanhou testes de placas FPGAs para rodar programas decodificadores de criptografia. A placa programável foi 28 mil vezes mais rápida do que um processador comum.

Mesmo diante de todas essas vantagens, o uso desse tipo de dispositivo ainda não está difundido entre profissionais e estudantes da área. “É um problema educativo, precisamos descobrir como fazer livros, treinar professores para que mostrem aos seus alunos as duas possibilidades: programar em sofware e em hardware (na FPGA)”, aponta o professor Carlos Llanos.

Na UnB, há uma série de projetos que utilizam as FPGAs, entre eles alguns de biocomputação (uso de máquinas para detecção de sequências de genoma) e de robótica. “Estamos agora dando um grito. Há uma crise energética aí, nós temos a solução, mas há o problema da mudança de paradigma. Mudar a cabeça das pessoas não é fácil”, observa o professor Llanos.

1 - Zeros e unsPara processar todos os elementos que precisa, a máquina usa uma linguagem muito simples, chamada de linguagem binária, representada por zeros e uns. O processador apenas mede a tensão, que varia entre 0 e 5 volts. Tudo que estiver mais perto de 0 é considerado 0, e tudo que estiver mais perto de 5 é considerado 1.

Carolina Vicentin
Correiobraziliense.com.br

Cadê a pipa que estava aqui?


Filhos crescem e viram pais, que, por sua vez, amadurecem e viram avôs. É o ciclo da vida, uma das poucas coisas imutáveis de um universo em constante atualização. De uma ponta a outra da história, lá se vão quatro, cinco, seis décadas de memórias. O menino que antes brincava de pião no quintal de casa hoje assiste à nova geração passar ilesa por uma noitada cibernética, assistindo a animações futurísticas na internet e batendo papo em tempo real com colegas do outro lado do planeta. Pouco se veem meninos travessos correndo pelas ruas e enroscando suas pipas em árvores. A coleção de carrinhos de madeira deu lugar aos videogames de última geração. Para que sair de casa para brincar quando se pode fazer gols de craque do sofá da sala? Ficou perigoso lá fora, ficou solitário também. Todas as molecagens do mundo agora cabem no quarto.

Os filhos já não são mais os mesmos. Contra isso, não há argumento. Mas, e os pais? Acompanharam a revolução que veio a reboque da tecnologia e da saída da mãe para o mercado e trabalho? Os novos tempos impõem novos desafios para a educação. Se, antes, malcriação se resolvia à base da palmada e se o papel do pai era, principalmente, o de reprimir, hoje é preciso jogo de cintura, dizem os especialistas. “Se o pai de hoje aprendeu apanhando do pai de ontem, não quer dizer que seus filhos precisem disso. É como se ele dissesse: ‘eu, quando era criança, andei de bonde e, por isso, você vai ter que andar também’. Não faz mais sentido”, sentencia o psiquiatra especialista em educação Içami Tiba, autor de livros como Família de alta performance e Seja feliz, meu filho. “Muitos pais não acompanharam as mudanças e, aí, a história do ‘me respeita que eu sou seu pai’ não resolve porque ele não soube impor o respeito da maneira certa, na base da conversa e da educação”, complementa.

Mas também é certo que os pais estão mais afetivos. “Eles participam mais da vida dos filhos, querem saber mais da sua intimidade, da rotina. Essa aproximação é saudável e é desejada. O que não pode é ser aquele pai que deixa tudo, porque esse acaba não se comprometendo”, analisa o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel, especialista em paternidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. O maior desafio parece ser descobrir o complicado meio-termo entre participar, ser amigo e impor limites e respeito. Aqui, a Revista mostra cinco exemplos, de diferentes gerações, que deram certo.

Quando o corretor de vendas Weber Rios, 39 anos, começa a contar da infância no Cruzeiro, a história que se ouve é semelhante a de todos os que foram moleques na mesma época. O parque de diversões era a rua de casa, um imenso convite para a imaginação correr solta. Na rua, ele soltava pipa, brincava de bolinha de gude, de pneu e fazia o melhor carrinho de rolimã entre a molecada, tanto que até vendia o brinquedo para os amigos. Passadas três décadas, Weber ainda brinca. A diversão, agora compartilhada com o filho, o pequeno Cauan, 6, tem mais a ver com manobras radicais sobre um skate, gols dignos de craque no futebol e ultrapassagens arriscadas numa corrida de carros para lá de possantes. Mas, calma lá. Weber não faz o tipo maluco de pai. As aventuras das quais participa com o filho ocorrem por trás de uma tela de TV. Tudo virtual – e muito seguro, a princípio. E adivinha quem leva a melhor? “Eu!”, responde, ligeiro, Cauan. “Mentiroso!”, emenda o pai. “No futebol, ele ganha, mas na corrida de carros, eu ganho”, defende-se.

Cauan já nasceu na era do videogame. Tinha só quatro anos quando ganhou o seu brinquedo de controle remoto e, desde então, não tem para ninguém na caixa de brinquedos. Enjoou dos carrinhos, dos jogos de montar e dos bonecos de super-heróis. “Já tive bolinha de gude, mas nem sei mais cadê”, confessa o garoto. Com a pipa, ele também não demonstra lá muita intimidade.
Enquanto o pai preparava uma rabiola para a pipa, o menino só olhava, sem muita curiosidade. “Já soltei pipa uma vez, mas faz tempo, nem lembro mais!”, conta.

Para Weber, o jeito foi mesmo se adaptar. Guardar na lembrança o Popeye, o marinheiro atrapalhado que se transforma em super-herói com uma lata de espinafre, e se distrair com o ogro Shrek e com os atrapalhados Pinguins de Madagascar, desenho animado produzido com tecnologia de alta performance. “Gosto desses desenhos novos também. Me divirto com ele”, confessa o pai.

Além das brincadeiras, muita coisa mudou nesses 30 anos que separam as infâncias de pai e filho. A revolução mais importante, na verdade, independe de época e de tecnologia: Weber cresceu e trocou o papel de filho traquina pelo de pai responsável. A habilidade de fazer o próprio carrinho de rolimã deu lugar a uma performance que inclui trocar fraldas, ajudar em casa e fazer aviõezinhos boca adentro. Sinal dos tempos que exigem um paizão por perto, do tipo que dá o primeiro banho. Coube a ele largar o emprego, já que a mãe tinha uma jornada intensa, e hoje trabalhar num esquema que o permita ficar o máximo possível com o filho. “Nunca tive uma relação muito afetiva com meu pai. Ele trabalhava muito, a gente se via pouco e conversava menos ainda. Vou ser amigo do meu filho, com certeza”, justifica Weber. “Mas quero passar para o meu filho a religião, que aprendi a seguir com meus pais”, pondera.

Sentado no sofá da sala e rodeado pelos quatro filhos, Esdras, 29 anos, Luciana, 26, e as gêmeas Larissa e Anelisa, 22, o professor de matemática Nilton Silva, 61, é o retrato de um pai que tem consciência de que fez o melhor pelas crias. Nessa família, comparar a juventude das duas gerações é tarefa quase impossível. “Eu não tive infância nem adolescência. Comecei a trabalhar na roça aos 12 anos. Para eles, fiz de tudo para que tivessem o que eu não tive”, resume Nilton. Nascido e criado em Carmo do Paranaíba, no interior de Minas Gerais, Nilton é o segundo de oito irmãos. Com tanta boca para alimentar, brincar nunca foi exatamente uma prioridade em casa. “Não tinha tempo”, diz. Aliás, nem para brincar, nem para estudar. Quando começou o ginasial (atualmente 5ª a 8ª série do ensino fundamental), Nilton já tinha 18 anos.

Os poucos brinquedos que tinha em casa foram feitos por ele e pelos irmãos. Aprendeu com o pai, marceneiro, a fazer caminhõezinhos de madeira. A criação foi rígida. “Ele era muito autoritário. Acho que porque meu avô era assim e ele quis dar para a gente a criação que teve”, supõe. Para os filhos, Nilton relaxou, mas não faltou limite. O mais velho, Esdras, é o único homem. “Fiquei melhor que ele com a bola!”, provoca o primogênito, que nasceu exatamente num Dia dos Pais. “Quando ele nasceu, eu já pensava numa criação diferente, mas sempre soube exigir, estabelecer regras e limites”, avalia.

Além do time do coração – todo mundo por ali aprendeu a torcer pelo Corinthians – Esdras diz que herdou do pai o jeito de brigar. “Minha mulher fala que eu grito como ele”. Verdade? “Se ela está falando, é porque deve ser!”, responde o pai. A admiração pelo pai levou Esdras, hoje formado em administração, a prestar vestibular para engenharia, só para satisfazer um desejo antigo do pai. “Eu queria ser engenheiro civil e não consegui. Fui fazer matemática porque era um pouco parecido nas exatas. E aí ele prestou engenharia para me agradar. Mas eu disse para ele fazer o que quisesse. Se nem eu fui engenheiro…”, conta Nilton. Esdras não discorda do pai. Afinal, pai tem sempre razão.

Três anos depois de que Esdras nasceu, chegou Luciana. Um casal já parecia ótimo. “Criar menina é muito diferente e a Luciana não era tranquila que nem o Esdras, puxou a minha teimosia”, pondera o pai, diante da filha, envergonhada. As brincadeiras de boneca ficavam mais para a mãe, porque ela “entendia melhor dessas coisas”. As caçulas, as gêmeas Larissa e Anelisa, foram um susto. “A gente queria um terceiro filho, mas só descobrimos que eram gêmeas na hora do parto”, conta Nilton, que chegou a sonhar, na noite anterior ao parto, que a mulher daria à luz duas meninas. “Contei o sonho pra ela. Quando a enfermeira pediu para eu ir conhecer as minhas filhas, fiquei assustado. Falei ‘como assim filhas?’”, recorda-se.

Esdras é servidor público, Luciana é farmacêutica e as gêmeas, que seguiram a irmã mais velha na escolha da profissão, também estão para pegar o diploma. Não tiveram que dividir o quarto com tantos irmãos como pai, nem parar os estudos para ir trabalhar na roça. Muito menos tremeram de medo diante de um pai que educava com mão de ferro. Nilton é conselheiro de todos eles. Do dinheiro para o cinema à opinião sobre uma decisão importante, tudo passa por ele. “A paternidade foi uma bênção de Deus. Não foi difícil educá-los. Acho que consegui dar aos meus filhos um bom direcionamento. A sensação é de dever cumprido”, conclui, enquanto os filhos seguram as lágrimas.

Carolina Samorano
Correiobraziliense.com.br

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

História de José e Lindaura é um amor pra não esquecer


Ela, 84, e há 15 está com Alzheimer. Ele lê as muitas cartas que ambos fizeram um para o outro. Beija-a e a chama de minha cheirosa. Não se sabe se ela escuta o que ele diz. José jurou que seria para sempre, enquanto vida houvesse.

Ela diz, numa carta a lápis, escrita assim pela falta de caneta naquele lugar tão improvável: “Talvez você não sinta saudade de mim... Pois eu tenho saudade de você. Não tem diversão que me faça esquecer você. José, você não acredita, mas eu posso amar sem sofrer. Depositei todo meu amor em você. Não sei se você aceita ser depósito do meu amor. Se te agravei, perdoe-me, meu amor...”

Ele responde, com letra firme e apaixonada: “Com o coração cheio de saudade escrevo estas linhas. Lindaura, sei que tenho lhe dado desgosto em andar pouco em sua casa, sei que você tem queixa de mim por este motivo, mas eu lhe peço mil perdões...E lhe prometo não lhe fazer mais este desgosto, pois frequentarei mais sua casa. Lindaura, eu não lhe deixo por ninguém, lhe amo de todo coração. Não quero dar motivo de ingratidão, pois prestei juramento de lhe amar por toda minha vida...”.

Essas duas cartas foram escritas há 63 anos. Ela, há mais de uma década, está sobre uma cama. Não reconhece ninguém. Não fala, não anda, não demonstra mais emoção. Nem afeto ao homem que amou a vida inteira. Ele, ao contrário, passa a mão sobre os cabelos finos dela. E lê o que ele e ela escreveram um dia um para o outro. Ele sempre se emociona. “Mas nunca choro perto dela. Engulo o choro. Não quero que ela sofra mais”, ele diz.

Ela, quando ele lê as cartas, fica em silêncio. Talvez ouça, talvez não. Os olhos sem brilho silenciam mais ainda. Ela tem Alzheimer — doença provocada pela atrofia do cérebro. É progressiva, irreversível e com causas e tratamento ainda desconhecidos. Começa por atingir a memória e, aos poucos, as outras funções mentais, acabando por determinar a completa ausência de autonomia dos doentes, tornando-os completamente incapazes.

E esta é a história de José Carneiro Almeida e sua eterna e única Lindaura. É a história de um amor que nem o Alzheimer foi capaz de fazer esquecer. Ele a ama como se fosse o primeiro dia. Ela disse isso a ele em várias cartas. E hoje, naquela casa muito simples no Núcleo Bandeirante, com paredes decoradas por azulejos azuis, José, de 85 anos, lê, apenas lê, o que um dia sua Lindaura, 84, também leu.

Ele guardou todos os rabiscos de amor que trocaram por toda a vida. É o que o alimenta. E o que dá força para cuidar de sua amada. “Ela foi minha inspiração divina. Achei ela a mais simpática de todas as que moravam naquelas terras.” José amou Lindaura desde que a conheceu, em Caiçaras, sertão do Ceará. “A gente era primo distante”, conta.

Menino de calça curta, aos 9 anos, eles brincavam juntos. “Ela tinha 8. Sempre foi danada...” Aos 12, estudaram com a mesma professora. “Não tinha escola. A professora ia até as fazendas e dava aula pras crianças da redondeza”, diz. Aos 16 anos, Lindaura era moça. Espichou rápido. “Eu, não, demorei no crescimento.” Bonita, logo a moça despertou a atenção dos rapazes da região. “Todo mundo cobiçava ela”, lembra José.

Ciúmes
Aos 17 anos, Lindaura arrumou um noivo. José quase morreu. Na verdade, José morreu todas as vezes em que pensou ter perdido sua Lindaura. “Mas ele tratava ela mal. E ela nunca foi mulher de aceitar isso.” O noivado terminou. Ainda assim, de longe, José tinha medo de se aproximar. Aos 18 anos, ele nunca havia namorado ninguém. No fundo, ele sabia que um dia ela seria dele. E assimfoi, anos depois.

Lindaura teve outros pretendentes. José continuava sozinho. “Um dia, ela me mandou lembranças. Sabia que tinha alguma coisa naquele recado”, diz. Tempos depois, a primeira carta dela para ele — eles moravam em fazendas a menos de 2km um do outro, e as cartas eram levadas por gente que jamais os denunciaria.

O namoro começou por meio de cartas. Depois, José se encheu de coragem cearense e enfrentou os parentes. Assumiu, aos 22 anos, seu amor incondicional por Lindaura. Beijou-a pela primeira vez. Na verdade, era a primeira vez que beijava uma mulher. Sentiu-se nas nuvens. “Ela foi a primeira e única mulher da minha vida”, ele diz, com um orgulho incontido.

Junho de 1929. José e Lindaura se casam. Ela, de vestido de noiva feito em Sobral. Ele, de terno azul-piscina. “A Lindaura sempre foi muito sincera. Disse, no dia do casamento, que não tinha gostado da cor”, ele conta, às gargalhadas. De terno azul-piscina que Lindaura detestou, José subiu ao altar. Juraram amor eterno.

Tiveram oito filhos. Seis estão vivos. José plantava e colhia na lavoura. Lindaura ensinava as letras para crianças da região. Na própria casa, uma fazenda castigada pela falta de chuva, ela arrumou uma mesa de madeira, juntou um banco grande e, para matar a sede dos alunos, dois potes d’água. Nascia uma escola.

A seca, de tempos em tempos, expulsava José do Ceará. Numa dessas, ele migrou para o Piauí. Lá, nasceu uma de suas filhas. Em agosto de 1967, com Lindaura e os filhos, chegou a Brasília, atrás de dias melhores para a família. Instalou-se no Núcleo Bandeirante, de onde nunca mais saiu.

A Lindaura, coube a educação dos filhos e os cuidados da casa. José abriu um pequeno comércio de madeira. Mas nem só a tarefas domésticas ela se dedicou. Virou uma espécie de líder do bairro. Lutou para que um hospital fosse construído na cidade. Ia à televisão, exigia, reivindicava. Tornou-se, sem saber, porta-voz de várias lutas. Saiu até em jornal do Núcleo Bandeirante.

José apreciava a coragem da mulher. “Ela sempre foi a matriarca da família. Segurava tudo e buscava a solução para os problemas. Nunca desanimou. Tinha uma saída pra tudo”, diz a filha Maria das Graças Carneiro, 59 anos. “Foi um choque pra nós quando tivemos a certeza da doença. Não combinava com ela”, emenda a outra filha, Marlene Almeida, 56.

Doença avassaladora que demorou anos para ter diagnóstico definitivo. Primeiro, há 15 anos, antes de completar 70, Lindaura apresentou um comportamento agressivo. Queria bater nas filhas como se elas ainda fossem meninas. Brigava com as pessoas — até mesmo com José — e passou a ter estranhas manias (lavava e desinfetava coisas sem a menor importância, como saco de lixo).

Depois, veio uma tristeza infinda (não quis mais comer nem tomar banho). Era a depressão. Ela ficava horas sentada na varanda, olhando para as pessoas que passavam pela rua onde sempre viveu desde que chegou a Brasília.

Por fim, veio o esquecimento de tudo e todos. Dela mesma. Até de José. “Ela chamou meu nome pela última vez no dia 17 de abril de 2003”, ele diz, com angústia. “Tem hora que me revolto, depois agradeço a Deus por tudo que vivemos.” Sobre uma cama igual à de hospital, aos cuidados de José, dos filhos e de três auxiliares que se revezam dia e noite. Lindaura não sabe mais se vive.

Na sala da casa simples, retratos na parede. José e Lindaura em vários momentos. Ele lê os escritos antigos. Passa a mão sobre a trancinha que uma das cuidadoras fez nos cabelos ralos da mulher que amou aquele homem como se fosse um conto de fadas.

José ensaia coisas que ainda gostaria de dizer à amada. E diz: “Você tá me ouvindo, minha cheirosa? Eu ainda sou aquele que brincava quando criança. O juramento de amor que lhe fiz ainda está de pé”. Lindaura arregala os olhos opacos. Não se sabe se ouve. José continua: “Tô aqui, minha nega. Tá com fome? Tá com sono? Vamos merendar? Tem mingau”. E a beija no rosto como se fosse a primeira vez.

Emocionado, conta uma história: “Nosso último filho, o Bosco, nasceu aqui. Lindaura tinha 44 anos. Eu fiquei preocupado. Ela me disse pra não ter medo, que tudo daria certo. Nosso filho nasceu, perfeito. Lindaura sempre foi forte, mais do que eu”. Em cima daquela cama, um fiapo de gente, uma mulher com Alzheimer. Ao lado dela, engolindo o choro, um homem de 85 anos ainda fala de amor como se adolescente fosse. “O amor é infinito”, ele diz. José tem permissão para falar de amor.

Marcelo Abreu
Correiobraziliense.com.br

Menino que atirava pedras em carros vira esperança no lançamento de dardo


Antônio Carlos Maciel atirava pedras nos carros que passavam na rodovia Ayrton Senna. Até o dia em que acertou o carro da funcionária da escola em que estudava em Mogi das Cruzes e foi incentivado a trocar a perigosa brincadeira por esporte.

Deu certo. O garoto de 17 anos, primogênito da dona de casa Simone Soares, 35, mãe de mais cinco filhos --a última nasceu há uma semana-- com três pais, transformou-se em atleta do lançamento de dardo e tem marcas que impressionam pelo pouco tempo de treinamento.

Brasil tem poucos talentos no lançamento de dardo Ele está de segunda a sexta-feira no Ibirapuera sob a orientação de Fátima Germano, da ASA (Associação Sertanezina de Atletismo).

Rotina iniciada em fevereiro. Mas que lhe rendeu a marca de 60,25 m com o dardo de 700 g, utilizado na categoria menor (até 17 anos) e 100 g a menos do que o adulto. É o segundo do país nesta idade.

A força já tinha sido percebida em 2003, no dia em que acertou um Corsa na Ayrton Senna sem saber que era de alguém que o conhecia. Em vez de castigo, teve que ouvir um longo sermão das professoras sobre os perigos de atirar pedras nos carros.

Foi a professora Luciene Rocha, que trabalhava com crianças carentes da região no Projeto Fênix, em Mogi das Cruzes, quem indicou Antônio Carlos ao atletismo.

O teste de aptidão foi do jeito que ele gosta: arremessando bolas de tênis em um campo de futebol e correndo. Era basicamente o que ele fazia à margem da rodovia, jogar pedras nos veículos e fugir em disparada para não ser pego pela polícia. Era sua diversão dos 10 aos 13 anos. "Não sabia que era perigoso. Quando comecei a praticar esporte na escola, entendi que não era legal jogar pedras e eu também nem tinha energias para fazer isso depois dos treinos", contou.

Por três anos, Antônio Carlos permaneceu com a professora Luciene participando de festivais de atletismo.

Competir era uma brincadeira. Ele nem sequer tinha cadastro na FPA (Federação Paulista de Atletismo). Lançava dardos a módicos 43 m, participava de provas de 75 m, e ajudava Lucilene nos treinamentos com os alunos do projeto social Fênix.

Esporte passou na ser coisa séria quando ele passou no teste do Centro de Excelência da FPA em novembro e começou a treinar com Fátima três meses mais tarde.

Mudou de endereço. Deixou o barraco da mãe, à margem da Ayrton Senna, e foi para o alojamento no Complexo Constâncio Vaz Guimarães, na zona sul de São Paulo. Passou a ganhar R$ 150 de ajuda de custo da equipe a que se filiou, a ASA.

Após três semanas de treinos, participou da primeira competição --um torneio de lançamentos da FPA. Alcançou 50 m com facilidade.

Competiu em mais seis campeonatos. Um deles em Uberlândia, no Sul-Americano de atletismo, que dava uma vaga ao campeão nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, neste mês.

Não deu para fazer frente ao argentino Braian Toledo, 17, que há cinco disputa provas no dardo. Recordista mundial da faixa etária, colocou 30 m de diferença ao lançamento de Antônio Carlos, que terminou em terceiro.

DANIEL BRITO
Folha.com.br

Artista plástica e arquiteta tenta provocar a percepção visual dos estudantes


Déa Garcia transforma muro de uma escola do Lago Norte em obra de arte usando a técnica trompe l'oeil, que dá a impressão de terceira dimensão.

Déa Garcia, artista que criou o painel, e, acima, sua filha Anita tentando abrir uma porta: elementos que criam ilusão de ótica promovem interação com o público Muitas pessoas costumam dizer que só acreditam em alguma coisa vendo. Mas o olhar pode levar o ser humano a assumir como concreto o que não passa de ilusão. Os artistas fazem esse jogo ilusório volta e meia. A perfeição de certas técnicas obriga o espectador a se questionar. A velha história do “parece mas não é”. Os gregos, precursores de tantas artes, começaram a brincadeira(1). Os barrocos inventaram o trompe l’oeil (em francês,“engana o olho”), método que produz imagens tão reais que criam a ilusão de óptica de que os objetos estão em três dimensões. Os renascentistas a desenvolveram à perfeição com a descoberta da perspectiva. Ontem foi a vez de os brasilienses vivenciarem uma experiência curiosa dessas. Um muro do Colégio do Sol, no Lago Norte, se tornou uma cidade pelas mãos da arquiteta e artista plástica Déa Garcia. Uma homenagem a uma arte cada vez mais rara e à diversidade da arquitetura brasileira.

O trabalho de Déa teve que ser monumental: a tela em branco era um muro de 120 metros quadrados que divide o pátio da escola e o terreno vizinho. A ideia de transformar o espaço em arte veio das diversas visitas que a artista faz ao colégio para buscar a filha, Anita, 10 anos. “A escola é cheia de arte e, no entanto, sempre achei esse lugar, tão usado pelas crianças, sem vida”, avalia. Há mais ou menos três meses, Déa sugeriu ao diretor da escola, o professor Erly Ferreira Gomes, uma intervenção artística. “Não pensei duas vezes”, afirma Erly. E aprovou.

Déa já tinha um plano na cabeça. “Achei que seria uma oportunidade de resgatar o trompe l’oeil. É uma técnica tão difícil — é feita em grandes proporções, requer andaimes, desenhos precisos — que os próprios artistas contribuíram para sua extinção”, lamenta. Primeiramente, ela concebeu um desenho europeizado sugerindo uma paisagem da Itália, país em que a técnica foi amplamente difundida durante o Renascimento. Mas, assim como é preciso olhar duas vezes para reconhecer uma ilusão, a artista repensou o motivo. “Decidi explorar a arquitetura brasileira, que, tendo sido influenciada por tantas culturas estrangeiras, se tornou única e muito rica”, explica.

Foram dois meses de trabalho constante, sempre acompanhado por observadores astutos. “Recebi muitas sugestões dos alunos. Teve um que me alertou sobre a variedade de cores: ‘Você não tem nada laranja. Não se esqueça de colocar alguma coisa laranja’”, recorda Déa.

O resultado foi a criação do mural Vila do povo brasileiro. Impossível como é representar todo o léxico arquitetônico do Brasil, prevaleceram as imagens clássicas, como o estilo do interior de Goiás, o barroco de Minas Gerais, a taipa brasileira descendente da africana, a oca, elementos do modernismo, a palafita, a azulejaria portuguesa e até os arranha-céus comuns tanto em São Paulo quanto em outras metrópoles do mundo. E todos esses exemplos, defende a artista, podem ser encontrados em Brasília. “Pessoas de todos os lugares do Brasil vieram para Brasília e guardam as referências dos lugares de onde vieram. Mesmo que você tenha nascido em Brasília, tem um parente que mora em outro estado e consegue assimilar os traços dessa arquitetura.”

Imersão
Os meninos do grupo dos quadrinhos: arte abstrata caiu no gosto de todos os alunos A principal diferença entre outras formas de pintura e o trompe l’oeil é a relação entre a obra e o público. “Você vai a um museu e contempla um quadro. Com o trompe l’oeil, não. Você não tem escolha. A interação é inevitável”, explica Déa. A técnica também foi escolhida para o local como uma provocação à percepção visual dos alunos. A artista acredita que é preciso instigar a formação gráfica das crianças — a interpretação da imagem é tão importante quanto a da escrita. Ela lembra que a sua curiosidade para a arte foi influenciada pelos desenhos do pai, que é publicitário. Dono de um arsenal de lápis de cor, tintas e outros materiais insuportavelmente atraentes à mente criativa de uma criança, ele esbravejava quando se dava conta de que a filha havia circulado pelo escritório e usado os materiais. “Mas, por mais que eu bagunçasse, ele nunca trancou a porta”, lembra Déa, risonha.

“Assim como os jogos de videogame, o mural também é uma experiência virtual”, explica. A diferença é que neste virtual há a oportunidade do toque. E as crianças tocaram. Objetos reais, como maçanetas de portas e lamparinas, foram instalados no mural, e não faltou quem tentasse abrir as portas. Queriam ver o resto da mulher que aparece atrás de uma porta entreaberta. Pressupor a necessidade de explicação aos jovens é redondo engano. São eles que ensinam os interlocutores. “A vila foi feita com um técnica que mistura pintura com o 3D. Dá pra ver que ela utilizou a perspectiva”, ensina Pedro Henrique Fernandes e Lopes, 12 anos. Murilo Vasconcelos, um ano mais novo que o colega, agrega: “Achei muito interessante, deixa o colégio mais colorido. A cultura influencia muito a vida das pessoas”.

Os dois, com os amigos Júlio Marino Figueiroa da Conceição e Patrick Boescheinstein, ambos com 11 anos, têm um grupo — ou seria uma editora? — de quadrinhos no colégio. Em poucos minutos, um adulto de penúltima geração se espanta com a versatilidade dos meninos-marchandes. “No começo parecia arte abstrata, não dava para ter muita noção de como ia ficar”, argumenta Murilo. Questionado sobre o significado de “arte abstrata”, ele não tibubeia: “É uma arte sem figuras definidas, mas que simboliza alguma coisa”. É espantador.

1 - Arte de iludir
O naturalista romano Plínio, o Velho, conta uma anedota entre Zeuxis e Parraso, pintores renomados da antiguidade helênica. Em uma disputa para eleger o melhor entre os dois, Zeuxis pintou um cacho de uvas. De tão realista, diz a história, passarinhos tentaram bicar as frutas. Passado um tempo, ele pede a Parraso que puxe as cortinas que cobriam a obra para que o rival a visse. O pedido é, na verdade, a confirmação da vitória do oponente: as cortinas haviam sido pintadas por Parraso.

Ariadne Sakkis
Correiobraziliense.com.br