Isso ocorre porque, estimulando o interesse pelo significado das palavras, os pais colaboram para o desenvolvimento.
A relação da pequena Maria Beatriz Aureliano Bento, 3 anos e meio de idade, com os livros começou antes mesmo de a menina saber que eles existiam. Enquanto ainda estava na barriga da mãe, a pedagoga e professora Elem Carine da Silva Aureliano, 30 anos, ela já era acalentada por cantigas infantis e pelas histórias que o pai contava, mudando as vozes de acordo com o personagem. Depois de nascer, o vínculo se estreitou. Ela ganhou um livro feito de espuma, chamado Os sons do bebê, que reproduz barulhos familiares aos recém-nascidos. O livrinho ajudou-a a explorar os sentidos, até aprender a interpretar, a seu modo, as historinhas que ele contém. Hoje, muitas histórias depois, a menina é exemplo dos benefícios da leitura para crianças que nem sequer deixaram as fraldas.
Na hora de reconhecer a capacidade intelectual da filha, Elem Aureliano não poupa boas referências. “Ela se comunica com adultos e crianças, o vocabulário está além do normal para a faixa etária e, na escola, os professores dizem que a Maria Beatriz está à frente dos coleguinhas”, contou. E o orgulho materno não é infundado: antes de completar quatro anos, a menina já reconhece todas as letras, sabe identificar os nomes dos pais e tem noções de quantidade. Também consegue associar as letras a palavras que fazem parte do seu cotidiano. Entusiasmada com o universo que se descortina nos livros, ela aproveita os momentos de leitura da família para carregar seus livrinhos para perto dos pais. Aconchegada a eles, a pequena passa os dedinhos sobre as linhas da história, como se já estivesse lendo perfeitamente.
O bom desempenho escolar e a aceleração no aprendizado não são as únicas vantagens de quem se apega, desde cedo, ao hábito de ler. Segundo o psicólogo e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, a leitura é uma das formas mais eficazes de dar às crianças um vocabulário mais rico e o contato com uma sintaxe mais complexa. O Alfa e Beto é uma organização não governamental focada em políticas de educação. “Ainda é um processo agradável, que reforça a afetividade com a família. Além disso, vocabulário é conceito, e quanto mais se tem, mais ideias variadas se pode expressar. A sintaxe da escrita é diferente da oral e permite uma forma de pensar mais complexa e rica”, considerou.
Aprendizado
Engana-se quem pensa que textos escritos não são proveitosos para crianças ainda não alfabetizadas. Antes mesmo de dar significado à sopa de letrinhas que visualiza nas páginas, a meninada aprende a segurar um livro, entende a direção da leitura, ganha familiaridade com as sequências que compõem uma história e ainda tem contato com uma explosão de palavras e frases. “Quando está na barriga da mãe, o bebê já ouve sons, reconhece a cadência e a sonoridade das falas e até identifica o sotaque dos pais”, ressaltou Oliveira. Nessa fase, a linguagem é uma forma de transmitir calma e serenidade ao feto.
Entre quatro e cinco meses de vida, o bebê já leva os objetos à boca, até mesmo os livros, e foca a atenção em figuras nítidas. Nessa fase, ele acompanha o olhar dos pais e começa a emitir os primeiros sons que capta. Por causa do hábito de levar os objetos à boca, os livros devem ser adequados para serem folheados na água e precisam ter as pontas arredondadas, para evitar machucados. Apesar de não apreender o conteúdo, o bebê já consegue entender que existe uma linguagem. Por volta de oito meses de idade, ele começa a se interessar por fotos, formas, figuras e cores. “O mais importante nesse momento não é ensiná-lo, mas entretê-lo”, reforça o especialista.
Mas não basta estimular a inteligência, é preciso escolher as ferramentas corretas. Na fase em que crianças ainda não são íntimas do alfabeto, a literatura escolhida pelos pais deve conter cantigas, rimas, sonoridade variada e aliterações, que prendem a atenção ao ritmo. Depois de seis meses de idade, o interesse se expande para figuras de animais, imagens de outros bebês e objetos familiares. A partir dessa etapa, a criançada se fixa nos hábitos e nas atitudes que ajudam a criar uma rotina.
Desempenho superior
Segundo o presidente do instituto, estudos internacionais apontam que crianças com forte relação com os livros aos três anos de idade apresentam, aos 10, desempenho escolar superior ao de alunos que não receberam o mesmo estímulo. Outro levantamento aponta uma grande diferença de habilidade na fala entre as diferentes classes sociais. Há ainda um indicador que destaca que a quantidade de palavras que uma criança consegue entender aos seis anos de idade está intimamente relacionada com as notas que irá tirar na escola. Quanto mais palavras, mais motivos de se orgulhar do boletim.
Para difundir essa política da leitura no Brasil, o IAB está organizando um ciclo de debates, batizado de leitura desde o berço: políticas sociais integradas para a primeira infância em cinco capitais do país: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA), Maceió (AL) e Recife (PE). Em Brasília, a data prevista é o dia 17 próximo. Todos os eventos serão realizados até o dia 22 e contarão com a presença de dois especialistas norte-americanos. Doutor em educação pela Universidade de Harvard e especialista em alfabetização, David Dickinson apresentará estudos científicos que relacionam a leitura precoce e o desenvolvimento da linguagem. Já a pediatra, pesquisadora, jornalista e escritora Perri Klass abordará os métodos de leitura para crianças de forma a oferecer os estímulos mais adequados a cada idade. Ela também trata do desenvolvimento de programas específicos para esse fim.
Em São Paulo, a ONG ainda fará o lançamento da Biblioteca do Bebê, dentro da Bienal Internacional do Livro, de que se realiza até o dia 22 deste mês. Nesse espaço, os pais poderão ver demonstrações de técnicas eficientes de leitura para crianças de até quatro anos. No mesmo evento, serão distribuídas cartilhas que ensinam diferentes modos de ler para crianças e uma coleção de livros será lançada. Outra novidade que promete animar os pais é o lançamento do catálogo Guia IAB de leitura para a primeira infância: os 600 livros que toda criança deveria ler antes de entrar na escola. “Queremos rever esse guia a cada dois ou três anos, separar por idade e ajudar os pais a escolherem variedade e tipo de livro, procurando contemplar livros não literários”, assegurou João Batista Oliveira.
Repetição
Aliteração é uma figura de linguagem que consiste em repetir sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma frase, especialmente as sílabas tônicas. A aliteração é largamente utilizada em poesias, mas também pode ser empregada em prosa, especialmente em frases curtas. Um exemplo famoso é a frase: “O rato roeu a roupa do rei de Roma”.
A importância de ler para os pequenos
» O hábito ajuda a desenvolver atenção, concentração, vocabulário e memória.
» Cria um tempo de diálogo com os pais, mesmo que a criança ainda não fale.
» Ensina a identificar e a brincar com os sons das palavras.
» Desenvolve a curiosidade, a imaginação, a criatividade e a complexidade dos sonhos.
» Ajuda a perceber os próprios sentimentos, os de outras pessoas e a lidar com emoções e estresse.
» Amplia o conhecimento sobre o mundo, as pessoas, as formas, as cores e as quantidades.
» Faz conhecer históriasreais e imaginárias.
» Usa a linguagem mais próxima da linguagem dos livros e da escola.
» Ajuda a falar de livros, pessoas,coisas e situações que não se encontram aqui e agora.
» Faz perceber que os livros oferecem momentos de aprendizagem e diversão.
» Adquirire o hábito de ouvirhistórias e de ler.
» Faz pensar e desenvolver o raciocínio.
» Ajuda a adquirir conhecimentos que contribuirão para seu sucesso escolar futuro.
Como familiarizá-los com os livros:
» Leia conversando. A leitura deve ser envolvente, interativa.
» Deixe a criança pensar, falar e perguntar.
» Estimule a observação das imagens e, aos poucos, das palavras.
» Deixe a criança manusear o livro e virar as páginas do jeito dela.
» Faça perguntas e ouça as respostas da criança. Estimule, bata palmas, sorria, elogie as reações dela.
» Repita o que ela diz e acrescente uma informação nova. Se a criança diz “bola”, diga, por exemplo: “bola bonita” ou “bola vermelha”.
» Responda fazendo novas perguntas: “A menina foi embora. Para onde será que ela foi?”.
» Dê um tempo para a criança observar e pensar, antes de responder.
» Leia exatamente o que está escrito. Esteja preparado para ler e reler os mesmos livros. As crianças levam tempo para aprender e adoram repetições.
» Leia com atenção, entusiasmo e entonação adequada ao texto.
» Imite sons, faça barulhos variados.
» Leia segurando a criança no colo, no sofá, no chão, onde for mais adequado.
» Converse antes e depois de ler. Como será o livro? O que será que vai acontecer nessa história? De que você mais gostou nesse livro?
» Explore os sentimentos e as emoções. Diga o que você sente e estimule a criança a dizer o que ela está sentindo.
» Fique atento às reações. Mesmo sem falar, elas dão sinais sobreo que gosta de ver e ouvir.
» Guarde os livros ao alcance da criança.
» Ensine-a a escolher, pegar, buscar, guardar e cuidar dos livros.
» Leia sempre que a criança pedir. Se não puder naquela hora, combine outro horário.
» Estabeleça pelo menos um ou dois horários em que você vai ler para ela todos os dias. É dessa maneira que se forma o hábito.
» Leia seus poemas favoritos, cante cantigas, converse com o bebê.
» Há livros de pano e de plásticoque podem fazer parte das brincadeiras na banheira.
» Enquanto a criança come, conte histórias e mostre figuras.
» Antes de dormir, leia de forma pausada, tranquila, com ritmo mais lento.
Conheça maisPágina do instituto: http://www.alfaebeto.org.br/
Correiobraziliense.com.br
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