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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pesquisadores confirmam que os homens são capazes de manter a fecundidade mesmo após os 60 anos

Para isso, é necessário praticar exercícios e se alimentar bem.
O ator e cineasta Charles Chaplin foi pai aos 73 anos. O humorista Renato Aragão presenciou o nascimento da filha caçula aos 64 anos. O cantor britânico Rod Stewart, 65, anunciou ontem que vai ser pai pela sexta vez. A chance de ter um filho depois dos 50 não é privilégio de poucos, mas de todos os homens. Ao contrário do que acontece com as mulheres, a fertilidade masculina não diminui quando a idade aumenta. Eles têm a capacidade de produzir espermatozoides até o fim da vida. Cientistas conseguiram comprovar que a qualidade do sêmen pode sofrer alterações com a velhice, porém isso não causa infertilidade. Para quem tem uma alimentação saudável, pratica exercícios físicos regularmente e está longe dos excessos, a longevidade do sêmen é ainda maior.

Depois de dois filhos bem criados e um neto, Armando da Silveira Filho nunca poderia imaginar que seria pai de novo, aos 68 anos. “Foi uma surpresa maravilhosa. É um sentimento incrível ter um filho nessa altura da minha vida. Estou revivendo momentos como o primeiro banho. É como se a vida tivesse recomeçado. Estou muito feliz”, conta o aposentado. Samuel, que tem apenas um mês e meio, é fruto do terceiro casamento de Armando e revolucionou a rotina do chefe da família, que aproveita bem a paternidade depois de mais de 20 anos. “Me sinto renovado, ganhei uma injeção de ânimo. Vejo tantas pessoas mais novas sem força para viver, desanimadas e a paternidade me rejuvenesceu. Me sinto privilegiado por estar vivendo esses momentos com os meus filhos e neto”, diz.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Verhum de Brasília conseguiu demonstrar que a idade do homem não influencia negativamente a fertilidade. “Com a velhice, sabemos que o número de espermatozoides diminui e a mobilidade também. Mas isso não é determinante para a capacidade de ter filhos. Afinal, passar de 50 milhões a 10 milhões de células não fazem tanta diferença no momento da reprodução”, afirma o pesquisador Vinícius Medina Lopes, que integra o grupo de estudo.

Os dados do trabalho foram coletados entre agosto de 2003 e dezembro de 2008, com dois grupos de pacientes, com menos e mais de 40 anos, em duas instituições de reprodução assistida no Brasil, e os resultados conseguiram comprovar a teoria.

Hábitos saudáveis
O homem nunca deixa de produzir células reprodutivas. Para as mulheres, o processo começa a diminuir a partir dos 35 anos até atingir a menopausa. “Os espermatozoides são produzidos durante a vida toda. É claro que pode acontecer alguma alteração na parte hormonal masculina, mas não existe um momento que a função reprodutora termine”, explica o andrologista do instituto Eduardo Pimentel.

No auge dos seus 69 anos, o aposentando Sinfrônio André diz que “está com tudo”. “Ainda dou muito trabalho para a minha mulher”, brinca o comerciante aposentado. Ele teve o primeiro filho em 1972 e o último em 1998, quando tinha 57. “Tive três meninos no meu primeiro casamento, me divorciei, casei com uma mulher 20 anos mais nova e então tivemos o Tiago. A fertilidade não piora com a idade, só melhora”, garante. Para Sinfrônio, a paternidade tardia deve ser não só comemorada como incentivada. “É uma maravilha! Meu filho mais novo tem 12 anos, e na aposentadoria ele me faz companhia e me ajuda bastante”, diz o pai coruja.

Hábitos de vida podem ajudar ou atrapalhar a fertilidade masculina. Quase metade dos homens inférteis não consegue descobrir a causa de não poder ter filhos e os especialistas acreditam que a culpa seja de um rotina pouco saudável. “Hoje em dia, nós sabemos que a prática da promiscuidade e a falta do uso do preservativo, para se defender de infecções, podem causar infertilidade. O tabagismo, o alcoolismo e o consumo de drogas e anabolizantes também são prejudiciais”, comenta Pimentel. Algumas doenças sexualmente transmissíveis podem causar a infertilidade, por exemplo a varicocele — dilatação das veias dos testículos.

Poluição e obesidade atrapalham reprodução
Por outro lado, uma alimentação saudável e a prática de exercícios podem trazer muitos benefícios. “A fertilidade está ligada à produção do sêmen e isso envolve a parte hormonal, o comportamento e os costumes alimentares. Uma dieta rica em vitaminas e antioxidantes pode melhorar a concentração e a qualidade dos espermatozoides. Recentemente foram feitos 11 estudos que ligam a obesidade à alteração da produção de células reprodutivas”, analisa Bruno Schesser, diretor do Instituto Brasileiro de Reprodução Humana Assistida (Ibrra).

Alguns fatores, considerados raros, também podem influenciar a fertilidade masculina. A poluição do ar, principalmente para os homens que trabalham com produtos químicos, pode diminuir a qualidade do espermatozoide. Além disso, o velho mito de que calça muito apertada também pode atrapalhar o funcionamento do órgão reprodutivo é verdadeiro. “A temperatura influencia muito nesses caso. Também não é recomendado o uso contínuo de saunas e ôfuros”, diz Pimentel.

A melhor forma de descobrir a existência ou não de um problema de fertilidade é fazer um espermograma. O exame avalia a quantidade e a qualidade do espermatozoide. Não existe uma recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia sobre quando ele deve ser feito, mas muitos casais o colocam na lista de exames pré-nupciais. “Geralmente, recomendamos o teste quanto um casal tenta ter filhos e não tem sucesso depois de seis meses. Pode ser constrangedor para alguns homens, mas é um exame muito simples . E sempre vale a pena procurar um especialista”, aconselha o andrologista.

Depois de tentar ter filhos sem sucesso, Sandro Rodrigues, 36 anos, passou por todo o processo para chegar até ao diagnóstico. “É um situação muito penosa para o casal. Para o homem, a pressão é muito grande e tem aquela coisa do machismo em relação a isso. É preciso passar pelo desconforto do espermograma e pela coleta”, comenta o administrador. O lado psicológico também fica muito abalado. “Tem que estar com a cabeça muito boa, porque senão vai tudo por água baixo”, acrescenta.

A mulher dele, Janice, tem problemas de ovulação e isso impossibilita a gravidez. Foram quase nove anos, três fecundações in vitro e duas inseminações até a chegada de Maria Vitória, hoje com 1 ano e 3 meses. De acordo com o diretor do Ibrra, é importante não perder tempo.

Espermograma
Homens que pretendem ter filhos, no presente ou mesmo em um futuro distante, devem fazer o exame. “O interessante na vida é ter opções. O espermograma deve ser encarado com um exame de rotina. Mesmo com o resultado nas mãos, ele precisa ser repetido depois de três meses. Isso evitaria desgastes e momentos de angústia para o casal e ajudaria em um possível tratamento de fertilidade”, afirma Schesser. “E mais: se um homem tiver varicocele pode correr o risco de doença ir piorando a cada ano; quanto mais cedo ele for tratado, melhor”, sugere.

Tatiana Sabadini
Correiobraziliense.com.br

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