O encontro durou pouco mais de meia hora. O vento amenizava o calor corriqueiro na capital federal na tarde de ontem. Com olhares atentos e sentados no pátio de cimento, 24 alunos da 4ª série da Escola Classe Granja do Torto observaram três poetas de Brasília declamar. Estavam lá Nicolas Behr, Luis Turiba e Amneres Santiago, integrantes do grupo OIPoema, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC). “Para ser poeta é preciso três coisas. Alguém sabe o quê?”, Nicolas perguntou, logo de cara, para as crianças. “De imaginação”, respondeu uma moça da última fileira. “De rima”, emendou o coleguinha ao lado. “Todas as opções estão corretas, mas faltou o papel”, disse o poeta. “E do lápis”, apressou-se a dizer um outro aluno sentado no canto esquerdo do pátio. Então, para ser poeta, é preciso, na verdade, quatro coisas: imaginação, rima, papel e o lápis. A brincadeira rolou solta.
Durante a visita, as crianças deram gargalhadas, ouviram, tiraram dúvidas e recitaram poemas criados por elas mesmas. A maioria resolveu criar textos em cima do tema mosquito da dengue, doença que tem afetado muitas famílias da região. Maria, 9 anos, levantou-se e deu o recado: “Se deixar água parada, vai se meter em uma cilada”. Júlia Vitória, 10 anos, também estava inspirada, mas deixou o Aedes Aegypti de lado. Romântica, a menina preferiu recitar para os colegas um breve trecho que escreveu há dois meses, enquanto estava em casa: “Gosto da lua, gosto do luar, gosto de você em primeiro lugar”.
O motivo da visita foi a vontade dos poetas de disseminar o gosto pela leitura. O grupo OIPoema tem passado por várias escolas públicas do Distrito Federal e aumentado o acervo das bibliotecas com livros que muitas vezes ficam engavetados na Secretaria de Cultura. Também fazem parte do projeto Angélica Torres Lima, Cristiane Sobral e Bic Prado, além do designer Luis Eduardo Resende. Todos eles adotaram uma escola das regiões administrativas de Planaltina, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Itapoã, Park Way e Varjão. Em 31 de agosto, Luis Turiba adotou a Escola Classe da Vila Buritis, em Planaltina, onde conheceu a sala de leitura das crianças. Ele levou livros próprios e de outros autores para enriquecer a biblioteca do colégio.
Autoestima
Para o poeta, historiador e escritor Nicolas Behr, a poesia significa uma semente plantada no coração dos pequenos. “Talvez um dia algum deles vire um escritor. A poesia melhora a autoestima e a arte educa. Formar leitores é fundamental para a educação no nosso país”, defendeu o autor de inúmeros livros que revelam Brasília como musa inspiradora para a criação de seus poemas. Para Amneres Santiago, o incentivo à leitura significa ainda proporcionar o exercício da cidadania. “As crianças têm sede de contato com a arte, mas ainda faltam experiências que ajudem a complementar a educação básica”, acredita.
A Escola Classe Granja do Torto foi o quarto estabelecimento de ensino visitado pelos poetas. Segundo a diretora Danielle Vieira Salles, a presença dos poetas desperta nos alunos um interesse maior pelos livros. “É muito importante quando eles têm oportunidade de viver experiências desse tipo. As crianças costumam ler obras de vários escritores, mas dificilmente têm contato com eles. Quando elas souberam que os poetas viriam para a escola, ficaram muito ansiosas”, ressaltou. E a curiosidade das crianças fez o tempo passar despercebido. Os 30 minutos de poesia trouxeram sorrisos e a vontade de um dia se tornar um escritor famoso para colocar no papel todas as coisas que trazem inspiração. A despedida foi com a música O voo da juriti(1), de Aldo Justo e Paulo Tovar. No pátio, as crianças ficaram de pé e cantaram com o coração e com as mãos erguidas, de braços abertos para dar asas à imaginação. Que surjam daí os escritores do futuro.
Mara Puljiz
Correiobraziliense.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário