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segunda-feira, 26 de abril de 2010
Sarau em banheiros públicos da capital
Viu, agora as pessoas podem ir ao banheiro e ver coisas bonitas. Ter cultura em todos os locais é muito legal!
Quem poderia imaginar que a poesia invadiria espaços tão reservados? A poeta Marina Mara driblou as regras e levou cartazes com textos bem-humorados a mictórios.
É com jeitinho que Marina Mara, 31 anos, se aproxima do responsável pela limpeza dos banheiros da Feira dos Importados. “Vê se tem alguém lá?”, pede. Quando retorna, o moço já virou cúmplice da poetisa: “Pode entrar.” Marina entra então um universo frequentado apenas por homens. Acima dos mictórios do banheiro masculino, prega seis cartazes com poesias de autoria própria. Uma fala sobre TPM, a famosa tensão feminina. Outra discorre sobre o Mac Donald’s. A promoção é um “castigo” pedido pelo “número”, segundo a autora. Tem ainda um sobre cabelos e outro sobre viver em Brasília. Versos muito femininos, é verdade, mas também carregados de bom-humor. E, como estão na frente dos mictórios, fica impossível não fincar o olho.
O fundo dos cartazes é ilustrado com pinturas de Clarice Gonçalves, que só troca os rostos e formas femininos por eventuais e raras cenas urbanas. “É uma ideia belíssima por dois motivos”, repara o jornalista Edson Chaves, 57 anos, ao sair do banheiro. “Primeiro porque é compulsório: naquela situação não tem como não
olhar pra frente. Depois, porque é levar cultura para as pessoas nos lugares mais simples.” Chaves notou exatamente o que Marina imaginou ao criar o Sarau Sanitário.
Há um ano, quando largou a publicidade e o jornalismo para se dedicar à poesia, ela planejava levar os próprios versos ao maior número de pessoas possível. “Minha bandeira é a popularização da poesia. Às vezes, a poesia tem mesmo esta cara de velha, de coisa mofada. E, às vezes, fala de coisas tão distantes da maioria das pessoas. Meus temas vêm do cotidiano”, avisa.
Assim, Marina resolveu imprimir mil cartazes com 20 poesias diferentes e sair pelo Distrito Federal distribuindo as peças pelos banheiros de locais públicos. Quanto maior a circulação, mais a poetisa se empenha. “Todo mundo vai ao banheiro”, constata. Com verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e uma boa quantia tirada do próprio bolso, ela já distribuiu 900 cartazes.
Esteve na Rodoferroviária, nos banheiros químicos da festa Brasília outros 50 e em bibliotecas e escolas públicas da cidade. “Mas sem dúvida os locais que mais me marcaram foram as instituições para deficientes visuais”, conta.
Como o projeto Sarau Sanitário também visa a inclusão social, Marina fez cartazes em braile. E quando pregou as peças em escolas e bibliotecas destinadas aos cegos, acabou incitando os leitores de braile a realizar saraus espontâneos. “Eles começaram a declamar”, comemora a poetisa. Os cartazes acabam por causar um certo impacto. Na festa Brasília outros 50, uma senhora não se conteve e roubou uma peça.
Foi imitada por outros frequentadores. Marina não revelou ser a autora, mas conversou com a senhora e ficou emocionada ao descobrir que o papel iria parar na parede da sala de um apartamento. Decidiu então liberar os cartazes para impressão e por meio do site www.sarausanitario.com.br.
Correio Braziliense
Nahima Maciel
Publicação: 26/04/2010 08:32
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