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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Casamento inédito será celebrado, na próxima semana, no Hemocentro

A escolha foi da própria noiva, que, após sobreviver a uma série de problemas devido à disponibilidade de doadores de sangue, resolveu comemorar a cura com uma cerimônia solidária.

Cilma Paula de Azevedo tem 37 anos e vai se casar. Partilha com outras noivas o mesmo sonho de um belo vestido branco e de selar um destino ao trocar alianças com o homem que ama. A partir daí, Cilma caminha só rumo ao dia do “sim.” As diferenças que a deixam fora do clube das noivas começam pelo fato de o casamento ter sido organizado em pouco mais de um mês, enquanto a praxe requer pelo menos um ano. Desconhecidos generosos e conhecidos leais ajudaram a mineira de Paracatu a materializar o sonho que requer mais recursos do que Cilma dispõe. Por fim, a principal singularidade das bodas de Cilma e do noivo, Francisco da Conceição de Carvalho, 49, é que a cerimônia será realizada na Fundação Hemocentro de Brasília, e a lista de presentes tem apenas um item: doação de sangue. Você se pergunta por quê? Só sabendo o início da história para entender.

A primeira mudança na vida de Cilma aconteceu em 16 de novembro do ano passado, quando ela perdeu o emprego devido a uma reestruturação na empresa em que trabalhava havia 13 anos. “Fiquei desnorteada. Eu tenho compromissos a pagar, não sabia o que ia fazer”, conta. Um mês depois, mais um revés: ela e Francisco sofreram um acidente de carro, que não deixou feridos, mas muitos estragos na lataria. O dinheiro que ela havia juntado a vida inteira não serviria ao propósito de conquistar algo perene, mas para pagar contas.

“Decidi que iria comprar alguma coisa para mim e lembrar o meu esforço”, diz. Em 15 de janeiro deste ano, ela e a amiga Nanci Sherata foram a um garage sale (bazar de utilidades do lar) e Cilma se encantou com uma poltrona. No dia seguinte, com o carro emprestado de um amigo, buscou o móvel e levou-o para casa, no Jardim Botânico. Estacionou na garagem e desceu para conversar com Nanci, que havia parado o carro em frente à casa de Cilma. “Esqueci de puxar o freio de mão. Fiquei exatamente entre os dois carros, conversando com ela pela janela do passageiro”, relembra. Francisco, notando a demora de Cilma em entrar, foi até a garagem e viu o carro descendo.

Ele só teve tempo de chamar a atenção de Cilma aos gritos. Sem reação, ela apenas se virou de lado, em vez de sair da direção, e acabou espremida entre os dois carros. Francisco e alguns pedreiros que trabalhavam na rua conseguiram remover o veículo, mas, entre o acidente e a chegada do Corpo de Bombeiros para o socorro, foram 25 minutos de agonia. “Sou voluntária da Cruz Vermelha e sabia que meu caso era grave. Não havia ferimento, mas eu sentia uma dor terrível”, afirma. Seu fígado havia sido esmagado.


Assistência
Cilma foi levada para o Hospital Regional do Paranoá, onde encontrou amparo e dedicação de um médico que fez o que pôde. A hemorragia havia levado o corpo de Cilma ao estado de choque. Coube às enfermeiras bombear 16 litros de sangue tipo B — 40 bolsas — para garantir que a paciente não viesse a falecer. “Se ninguém nunca tivesse doado sangue, eu teria morrido naquele momento. Alguém salvou a minha vida”, lembra, emocionada. Ela foi transferida para o Hospital de Base e, durante a operação para avaliar os estragos e estancar o sangramento no fígado, sofreu uma parada respiratória. Foi preciso fazer uma traqueostomia. Após a cirurgia, Francisco foi informado de que tinha poucos minutos para conseguir uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), indisponível no Base. Apesar de ter sido demitida, Cilma ainda dispunha de seis meses de plano de saúde, e foi esse suporte que a salvou.

Foram 33 dias na UTI de um hospital privado, sem poder falar e em estado crítico. A religião, que sempre fez parte de sua vida, foi fundamental. “Eu tinha que acreditar na fé, na cura. Via gente morrer todos os dias”, conta. Quando uma broncopneumonia foi diagnosticada, a cura, mais uma vez, veio pela transfusão de plaquetas do sangue. “Meus amigos, minha família, colegas de trabalho, instituições onde sou voluntária, o Corpo de Bombeiros e muitas outras pessoas fizeram uma verdadeira campanha de doação de sangue. Recebi muitas energias positivas” lembra. A ideia de se casar no Hemocentro veio nessa época. Sem poder falar, ela escreveu a proposta em um papel e o entregou a Francisco. Ele, claro, aceitou. “Francisco é meu herói. Ali, vi o quanto ele me amava”, declara.

A alta finalmente veio. Mas o bem-estar durou muito pouco. Em maio, ela voltou a sentir dores. Dessa vez os problemas eram no intestino. Foi submetida a outra cirurgia e, ao acordar, lá estava, novamente, em uma UTI. “Achei que não fosse ter forças. Não acreditei que tinha que passar por tudo aquilo de novo. Planejar o casamento foi o que me manteve firme.” A última batalha contra a doença veio após a alta, com uma forte infecção intestinal. Cilma chora muito ao narrar sua história. Conversando com a reportagem enquanto fazia a prévia da maquiagem de noiva, cortesia do Helio Diffusion de Coiffeur, ela batizou a sessão de “choroterapia.” Depois de tudo, triunfou um aprendizado: “As coisas materiais do dia a dia não podem se sobrepor ao valor da vida”, ensina.

Solidariedade
Os caminhos de Cilma e de Cristina Del’Isola, coordenadora do Movimento Maria Cláudia Pela Paz, se cruzaram no fim de maio. Cristina leu uma carta na qual Cilma pedia ajuda para realizar seu sonho de casar. “Aquilo me lembrou o princípio básico da vida da Maria Cláudia, que é valorizar, acima de tudo, a vida. Fiquei muito tocada”, diz Cristina. Todos os anos, o MMC busca realizar algum evento especial em 21 de julho, aniversário de Maria Cláudia, morta brutalmente em 2004. Este ano, é a vez de casar Cilma. Uma rede de parceiros foi acionada e a resposta veio da forma mais positiva possível.

Absolutamente toda a estrutura foi criada com doações de apoiadores. Desde o som até o coquetel. O vestido, o mais importante, foi doado ao MMC há quatro anos e nunca havia servido em ninguém. Caiu como uma luva em Cilma. “Era para ser dela”, comenta Cristina, que também vai casar a filha Maria Fernanda. “Espero que ninguém precise passar por uma tragédia na vida para acordar e ser um ser humano melhor. Hoje, tento fazer isso por mim e pela minha filha. É a forma que encontro de me oxigenar”, completa.

As cicatrizes no corpo de Cilma são grandes, mas ela repete o que uma amiga lhe disse: “Deus marca seus filhos para não os perder de vista”. Ela continuará a mobilizar as pessoas “por grandes causas da humanidade”, a começar por ajudar o próximo como preceito básico de vida. No dia 21, Cilma entrará de branco no Hemocentro, tornando-se a primeira noiva do local. De presente, espera ganhar muitas, muitas bolsas de sangue. Tipo: qualquer um é aceito. “É uma coisa tão simples, mas tão importante. As pessoas não sabem a repercussão que um ato desses tem. Um dia, você pode precisar do sangue de alguém assim como eu precisei”, atenta.

Qualquer um pode ajudar
Para doar sangue, é preciso:
» Ter boa saúde
» Não estar em uso de medicamento
» Ter entre 18 e 65 anos
» Pesar acima de 50kg

Se você se dispuser a doar, fique atento:
» Durma pelo menos seis horas na noite anterior à doação
» Não realize exercícios físicos antes
» Não consuma bebidas alcoólicas por 24 horas
» Não fume por pelo menos duas horas antes de doar

Onde fica
A Fundação Hemocentro de Brasília funciona no Setor Médico-Hospitalar Norte, Quadra 3, Conjunto A, Bloco 2. O atendimento é feito de segunda a sábado, das 7 às 18h. Maiores informações pelo telefone 3327-4424.

Ariadne Sakkis
Correiobraziliense.com.br

Um comentário:

  1. Nossa!! Adorei a idéia!!
    Anima qualquer um a doar sangue!
    Assim que me liberarem vou lá fazer minha doação!

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