Quatro da tarde, terça-feira, 29 de junho. Um público numeroso já chega ao Parque Jean-Marie Vincent, próximo ao bairro La Saline. No campo, crianças de 11 e 12 anos vestidas com camisas amarelas de golas verdes e com shorts azuis - como a seleção brasileira de futebol.
Do outro lado, já estão posicionadas outras crianças, com camisas vermelhas e shorts azuis, cores da seleção chilena. Todos fazem os últimos movimentos de aquecimento, só aguardando o apito inicial. Duas equipes que estão prontas para a batalha no campo: trata-se da qualificação para as quartas-de-final da competição.
Nestas oitavas-de-final se enfrentaram o Brasil, vindo da região de Pont-Rouge, e o Chile, de La Saline. A partida faz parte do campeonato "Petit Mondial” (Pequeno Mundial), uma espécie da reprodução da Copa do Mundo da Fifa, na África do Sul. O torneio reuniu 32 equipes de localidades pobres da região do Grande Bel Air e das redondezas, que representam as 32 seleções que disputaram o mundial de futebol.
No mesmo Parque Jean-Marie Vincent, a mini-seleção da Itália, vinda da região de Saint-Martin, encara o Japão de Bel Air. Em outro campo, a Eslováquia de Delmas 2 pega a seleção de Camarões, da rua de Césars, outro sub-bairro de Bel Air. Assim como na Copa do Mundo, algumas equipes vão sendo eliminadas ao longo do torneio. Mas aquelas que continuam vivas na África do Sul são, em sua maioria, diferentes das que participam da mini-Copa.
Cada time tem 15 jogadores entre 11 e 13 anos, formando um total de 480 atletas. O Viva Rio disponibilizou um médico da organização para fazer uma avaliação da saúde das crianças e o acompanhamento médico dos jogadores, que recebem ainda um lanche antes das partidas e, após o jogo, um prato de comida.
Além disso, utilizando a verba recebida pelas equipes de futebol, cada localidade decorou suas ruas e casas com as cores do país que está representando na mini-Copa. Após a competição, o lugar com a ornamentação mais bonita – e que tenha mantido a rua limpa durante o período da competição – será premiado com a quantia de US$ 500 e receberá uma grande festa com atrações culturais e musicais.
Para Daniel Delva, responsável pela área de Relações Comunitárias do Viva Rio, os jogos atraem multidões. "Em torno dos quatro campos de futebol onde acontecem as partidas, o que predomina é o entusiasmo e alegria do povo", garante.
Como se defendessem de fato o país de seu uniforme, as equipes dão duro e mostram seu comprometimento. Os técnicos das minisseleções do Chile, François Dominique, e do Brasil, Reginald Auguste, são exemplo disso: eles estão a todo momento gritando e orientando seus pupilos para que marquem, ataquem e defendam.
Mas toda esta motivação está relacionada também às recompensas que aguardam as três equipes mais bem colocadas no campeonato. Além dos troféus e medalhas, os 45 jogadores que formam estas três seleções ganham, cada um, uma bolsa de estudo no valor de US$ 130. Os jogadores que demonstrarem verdadeiro talento para o esporte serão apoiados pelo Viva Rio e integrarão o programa "Em busca de talentos esportivos", que já treina 45 outros atletas de destaque em sua escolinha de futebol.
Quem financiou com US$ 37.813 esta mini-Copa do Mundo haitiana foi a Seção de Redução da Violência Comunitária (RVC) da Minustah, a missão de paz da ONU no Haiti. Para os organizadores deste torneio, trata-se de aproveitar o ambiente criado pela Copa do Mundo da Fifa para organizar atividades lúdicas e recreativas. E quem lucrou de verdade com o torneio foram os habitantes de Bel Air e de suas redondezas.
Estas atividades têm o objetivo de consolidar laços sociais e buscar o desenvolvimento de uma cultura de paz na comunidade da Grande Bel Air. É importante desenvolver o espírito de cooperação e de troca entre as pessoas de diferentes localidades da região, de incutir nos jovens o senso de ética esportiva, de estimulá-los a trabalhar duro para aprimorar seus talentos, em vez de recorrer à vida fácil e se envolver em maus caminhos.
A implantação do projeto é assegurada pelo Viva Rio - presente no Haiti desde 2007 e que concentra suas atividades na zona de Bel Air e vizinhanças e trabalha com crianças em situação de risco social - e tem o apoio da organização haitiana Renaissance Film. Outro parceiro que também contribuiu para a realização do torneio foi o Fórum Comunitário de Bel Air, que se comprometeu com o planejamento das atividades e com a seleção dos jovens participantes.
Por Faustin Caille
Comunidadesegura.org.br
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