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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Estudante é primeira brasileira a doar medula para paciente no exterior


Doação de medula ainda é algo pouco conhecido no país, mas, assim como a doação de sangue, é uma prática muito legal, que pode salvar vidas!

A estudante de biologia Michele Fernandes da Silva não tem casos de câncer na família. Mas tem laços de sangue com a cura da doença. Suas células circulam no corpo de alguém que mora nos EUA e vive graças a ela.

Michele foi a primeira brasileira a exportar medula óssea, permitindo o transplante que salvou a vida do paciente americano.

Neste mês, faz um ano que o Brasil firmou um acordo pelo qual doentes de outros países podem tentar a sorte no registro brasileiro, o Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea).

Desde 1998, o país pode fazer buscas em bancos internacionais de doadores, mas não podia exportar tecidos.

Dos 900 transplantes de medula feitos até hoje no país, metade usou doadores de fora. Pelo alto grau de miscigenação da população, as chances de achar um doador na rede nacional são escassas, uma em 300 mil.

VANTAGEM
Para estrangeiros, o Brasil tem uma vantagem: "Com imigrantes de todas as partes do mundo, temos grande potencial de doadores", diz o coordenador do Redome, Luis Fernando Bouzas.
Além de salvar vidas, a possibilidade de exportar medulas vai ajudar a equilibrar essa "balança comercial", compensando gastos da importação do tecido para pacientes brasileiros.

Um transplante chega a custar US$ 60 mil, dependendo da quantidade de buscas e de testes em doadores. No Brasil, o procedimento é coberto pelo SUS.

O percurso até o encontro entre o doente americano e a medula brasileira começou há cinco anos, quando Michele, 26, topou participar de uma campanha feita na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Não pensei muito, nem imaginei que seria chamada um dia. Mas sempre participo de campanhas", diz ela.

Na inscrição, foi feita uma coleta de sangue de Michele, para identificar o perfil de compatibilidade. Esse dado foi cadastrado. Só no ano passado surgiu a chance de sua medula ser útil a alguém.

"É impressionante pensar que alguém tão longe daqui tem características parecidas com as minhas", diz ela.

O serviço, então, entrou em contato com a estudante, para saber se continuava disposta a doar. Ela foi submetida a testes mais refinados e marcou-se a doação.

A coleta da medula foi feita no Brasil. A retirada do material pode ser feita de duas formas: na tradicional, as células são colhidas diretamente da medula, com uma punção no osso da bacia.
Outra opção é dar uma droga para que as células-tronco migrem da medula para a corrente sanguínea.

Assim, o sangue periférico circula por uma máquina que filtra o líquido, enquanto colhe as células-tronco. Foi o caso de Michele, que ficou presa ao aparelho por oito horas, dois dias seguidos. Depois, vida normal.

"Em nenhum momento tive medo. Fiquei orgulhosa."

Por dois anos, a doadora não poderá ter nenhuma informação sobre o receptor. Como o transplante pode não dar certo, entende-se que é possível haver frustração e conflitos entre as partes.

Esse sigilo é norteado por regras internacionais. "A recuperação dos pacientes é variável. Após um ano, o doente está mais estável, só então é possível promover aproximação", diz Bouzas.

DESENHO INFANTIL
A única pista sobre o destino da medula brasileira está numa carta que Michele recebeu via médico.

"Acho que é uma criança, a mensagem tem um desenho infantil e agradecimentos", diz. "Quero conhecê-lo, quem sabe temos uma origem comum."

Folha.com.br
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO

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