Histórias como estas mostram como é real e possível reverter quadros de extrema exclusão e vulnerabilidade. Muito bom!!
No bairro de Saramandaia, periferia de Salvador (BA), cinco ex-meninos de rua resolveram agarrar a oportunidade oferecida por um projeto social e mudar de vida. Hoje, três deles administram o Grupo Cultural Arte Consciente, que ganhou o Prêmio ODM Brasil por sua contribuição aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 1 (erradicar a extrema pobreza e a fome) e 2 (atingir o ensino básico universal). Mas foi preciso muito esforço até o reconhecimento.
Na adolescência, Antônio Marcos Gomes dos Santos, Fábio Santos de Jesus e Alex Sandro Pereira Lima passavam o dia na rodoviária da capital baiana vendendo jornais. Uma pequena parte do dinheiro arrecadado ficava com eles, e era utilizada para ajudar a família dos meninos, enquanto o restante servia para pagar um senhor que fornecia os diários. No entanto, como a venda da publicação no local era proibida, era comum os três serem levados por seguranças até o Juizado de Menores.
"Aí nós precisávamos carregar bagagens e engraxar sapatos para arranjar o dinheiro para pagar o homem que vendia os jornais", conta Marcos. Cansados dessa situação, os meninos agarraram uma oportunidade e começaram a participar de oficinas oferecidas pelo Projeto Axé. Lá, conheceram Josevaldo Cardoso de Jesus, o Tito, e Julivaldo Santiago.
A iniciativa deu a chance de os cinco conhecerem áreas que seguiriam no futuro: Marcos se interessou pelas artes circenses; Fábio, por boxe; Alex, pela percussão; Josevaldo, pelo grafite; e Julivaldo, pela dança. Inspirados no Projeto Axé, os ex-menores decidiram, então, fundar o Grupo Cultural Arte Consciente, para atender às crianças e adolescentes do bairro de Saramandaia e afastá-los do crime e das drogas.
Na época, o principal problema enfrentado pela comunidade eram as brigas de grupos rivais que moravam em ruas vizinhas. "Uma criança de um lado não podia descer pelo outro, e o nível de violência era muito alto", conta Marcos. Para mudar isso, o grupo promoveu várias caminhadas pela paz e, ao atender meninos de áreas distintas, ajudou a reduzir os conflitos.
Atividades
No início, os cinco ofereciam aulas de circo, boxe, percussão, grafite e dança nas ruas de Saramandaia. Porém, a falta de incentivos acabou fazendo com que Tito e Julivaldo deixassem o grupo. Os outros três deram continuidade ao projeto, que atualmente tem capacidade para atender 150 crianças – 50 na oficina de artes circenses, 50 nas atividades de boxe e outras 50 na de percussão.
No início, os cinco ofereciam aulas de circo, boxe, percussão, grafite e dança nas ruas de Saramandaia. Porém, a falta de incentivos acabou fazendo com que Tito e Julivaldo deixassem o grupo. Os outros três deram continuidade ao projeto, que atualmente tem capacidade para atender 150 crianças – 50 na oficina de artes circenses, 50 nas atividades de boxe e outras 50 na de percussão.
Para participar das atividades, os menores precisam estar matriculados em escola, frequentar as aulas e ter boas notas. "Nós fazemos o acompanhamento duas vezes por semana. Qualquer queixa, chamamos a criança, que pode ser afastada caso tenha mau comportamento", explica Marcos. Mas isso quase não acontece, já que aprender uma arte nova dá a oportunidade de os meninos e meninas ganharem seu próprio dinheiro com apresentações por Salvador.
E não são só crianças e adolescentes que a iniciativa atrai. "Tem um senhor de 75 anos, o Felipe, que faz boxe, e um ex-detento de 29 anos que canta", acrescenta. Há um caso de sucesso que Marcos faz questão de contar: o de Juarez dos Reis Sousa, ex-viciado em crack e que seguiu carreira profissional no boxe.
Apesar das conquistas, as dificuldades são muitas. "Não temos funcionários, e estamos batalhando há sete anos para concluir a construção de nossa sede", diz Marcos. Para arrecadar dinheiro, os coordenadores do grupo fizeram um acordo com uma empresa que oferece a turistas estrangeiros a oportunidade de conhecer iniciativas em áreas pobres do Brasil, a exemplo do que acontece na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Segundo o trato, o grupo recebe um percentual do valor pago pelos turistas para conhecer o projeto. Além disso, contam com a solidariedade dos visitantes. "Eles deixam sempre R$ 100, R$ 200", explica Marcos. O dinheiro é investido nas obras para construir a sede, que já está em seu terceiro andar.
Fôlego
Nenhuma dificuldade desanima os ex-menores de rua. "Nós sabemos da importância de formar multiplicadores, que nem aconteceu conosco, então queremos passar isso à frente, porque dá resultado", afirma Marcos. Ganhar o prêmio ODM Brasil, concorrendo com mais de 1.400 projetos, ajudou a renovar o fôlego dos coordenadores do Grupo Cultural Arte Consciente.
Nenhuma dificuldade desanima os ex-menores de rua. "Nós sabemos da importância de formar multiplicadores, que nem aconteceu conosco, então queremos passar isso à frente, porque dá resultado", afirma Marcos. Ganhar o prêmio ODM Brasil, concorrendo com mais de 1.400 projetos, ajudou a renovar o fôlego dos coordenadores do Grupo Cultural Arte Consciente.
"Ficamos sem palavras. Estou no maior chamego com o troféu", brinca Marcos, que ressalta que a vitória foi fruto de uma longa caminhada. "Agora, quando falamos que ganhamos o prêmio, sentimos que somos mais respeitados", opina o coordenador, que aproveita para deixar um recado: "Tudo é possível, basta se esforçar para mudar de vida. As oportunidades estão aí".
Além de concluir a sede, outra meta dos ex-meninos de rua no curto prazo é organizar um bloco para sair no Carnaval de Salvador, com as alas "circo", "boxe" e "percussão", para divulgar ainda mais o trabalho. "E queremos também voltar a oferecer aulas de dança e grafite", conclui.
DANIELLE BRANT
da PrimaPagina
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